Como manda o protocolo do cargo, Patrick Faure, presidente da equipe Renault F1 Team, há muito olha para o futuro. Os dois títulos conquistados em 2005 – de pilotos e de construtores – coroaram um trabalho de cinco anos iniciado com a compra da Benetton: “Flavio Briatore está no comando da equipe desde o início e atingiu os objetivos propostos em todas as temporadas”, elogia Faure, que se mostra bem consciente da façanha alcançada: “O sucesso na F1 trouxe à Renault uma nova imagem, e nós precisamos refleti-la em nossas futuras ações”.
Sobre o campeão Fernando Alonso, o presidente da equipe se mostra até perplexo: “Fernando tem apenas 24 anos de idade e tenho a impressão que pode conviver com qualquer tipo de pressão. Ele mantém a tranqüilidade nas situações mais difíceis”. Patrick Faure diz ainda que os títulos foram de suma importância para o Grupo Renault: “A Renault possui uma cultura de Fórmula 1 que permeia toda a empresa; sabemos o quão difícil é vencer nesta categoria”. Com os dois títulos alcançados, quais os próximos passos? “Agora, em 2006, vamos começar tudo de novo. É muito mais fácil para uma equipe tornar-se campeã do que permanecer campeã”.
Qual foi a verdadeira força da Renault F1 Team em 2005?
Patrick Faure : Primeiro, ter um piloto excepcional. Fernando Alonso realizou uma temporada impressionante. Ele foi confiável e agressivo quando necessário, demonstrou a capacidade estratégica para se defender. Fernando mostrou que é um piloto completo apesar de ter apenas 24 anos de idade. Segundo, tivemos a continuidade da administração. Flavio Briatore tem montado esta equipe durante quatro anos, organizando as pessoas na sua maneira pessoal e eficiente. Nós começamos a ver as coisas funcionarem no ano passado. E, em 2005, as sedes de Enstone (Inglaterra), Viry-Chatîllon e o Tecnocentre da Renault (ambos na França) trabalharam em conjunto com notável eficiência. Em terceiro lugar, eu frisaria nossa excelente parceria técnica com empresas como a Elf, Michelin, entre outras. Elas são parte integral da equipe. Nossos resultados mostram que não possuímos fraquezas notáveis. Nós também mantivemos um estilo amigável de comunicação e trouxemos uma forma diferente de trabalho aos escalões superiores da Fórmula 1.
A Renault adquiriu a equipe Benetton apenas cinco anos atrás e já ganhou dois campeonatos – o de pilotos e o de construtores, ambos em 2005. Outras equipes tentam isso há mais tempo, com resultados piores. Por quê?
Patrick Faure : Podemos dividir esta resposta em três areas. A equipe tomou as decisões estratégicas corretas: comprar a Benetton ao invés de começar tudo do zero, e escolher Briatore para liderar o grupo, nos fez sermos competitivos rapidamente por que ele já conhecia as pessoas, conhecia Enstone e nos arrumou um grande piloto: Fernando Alonso. Segundo, a Renault possui uma cultura de Fórmula 1 que permeia toda a empresa, e nós sabemos o quão difícil é vencer nesta categoria. Nós sabemos que temos que planejar, e depois trabalhar para cumprir o plano com dedicação total. Finalmente, nós tivemos continuidade. Flavio está na chefia há cinco anos, e ele atingiu os objetivos em todas as temporadas.
A equipe é considerada uma das que mais surge com idéias e soluções originais. Você acha que a adaptação bem-sucedida às regras de 2005 mostram isso?
Patrick Faure : Eu acredito que a capacidade técnica e intelectual é uma característica da equipe. Mas nós também provamos neste ano que podemos desenvolver nossos carro e motor do começo ao fim. Em temporadas passadas, nosso ritmo de trabalho sofria uma redução no meio e no fim do ano. Mas em 2005 nós trabalhamos duro até a última corrida, e continuamos melhorando nosso desempenho. Isto foi um fator-chave nesta temporada.
O que você pode revelar sobre o primeiro campeão mundial 100% Renault, Fernando Alonso?
Patrick Faure : Fernando tem apenas 24 anos de idade e tenho a impressão que pode conviver com qualquer nível de pressão. Ele mantém a tranqüilidade nas situações mais difíceis, adapta-se bem a tudo e possui agilidade mental. Alonso pode atacar, defender, ultrapassar vários carros quando é preciso. Sua habilidade ao volante é completa, ele se adapta às circunstâncias individuais de cada corrida e sempre compete em seu nível máximo. Ainda mais notável, ele quase não cometeu erros em 2005. Mais do que isso, a Renault possui uma forte ligação com seu caráter. Ele é jovem, emotivo, e traz vigor para a equipe, e também para a marca Renault. O benefício comercial foi maior na Espanha e em países hispânicos, mas sua vitalidade e energia espontânea refletiram na marca Renault no mundo inteiro.
O parceiro de Alonso, Giancarlo Fisichella, foi escolhido em 2004 para criar uma maior competição interna na equipe. Foi a decisão correta?
Patrick Faure : Eu acredito que Giancarlo teve um ano difícil, pois não é fácil ser parceiro de Fernando. Ser comparado com alguém tão talentoso, completo e agressivo quanto Alonso é muito difícil. No entanto, Físichella mostrou o valor de sua experiência nesta temporada. Ele teve problemas técnicos, mas se recuperou deles. E nos ajudou a conquistar o título de construtores com suas performances, de forma que realizou o trabalho que esperávamos dele. Claro, em 2006, Giancarlo estará completamente integrado à equipe e eu acho que vai nos ajudar a chegar a um nível superior em termos de competição.
Alguns observadores criticam a Renault F1 Team por não possuir uma identidade genuinamente francesa. Como o senhor responde a isso?
Patrick Faure : Eu acho que esta opinião tipifica uma espécie de discussão incoerente a respeito da equipe. É um debate que se refere a uma França antiquada, e realmente parece algo caracteristicamente francês. O chefe da Ferrari é francês, seus pilotos são um brasileiro e um alemão; a McLaren e a Mercedes são representadas por um piloto finlandês e um colombiano; a Toyota não possui pilotos japoneses. Mas nós sabemos que a Mercedes é alemã, a Toyota é japonesa e a Renault é francesa. As equipes possuem os valores de seus respectivos países, e é completamente normal que a Renault conte com uma mistura internacional de profissionais, enquanto mantenha a imagem e os valores de uma empresa francesa.
Quais são estes valores?
Patrick Faure : Primeiramente, temos o nome Renault, e, quando vencemos, o hino que toca é a marselhesa. Isso mostra que estamos criando uma imagem para a Renault. Segundo, a equipe tem uma personalidade acolhedora. Nós queremos contar com espectadores, torcedores e entusiastas perto da ação. Não vivemos em uma torre de marfim, e é por isso que levamos nosso carro para Moscou (Rússia), para Istambul (Turquia), a fim de levar a Fórmula 1 até as pessoas. Os valores da Renault estão centrados na convivência e na personalidade cordial, e nós tentamos expressar isso com a equipe.
Outro valor importante para qualquer fabricante de veículos atualmente é o custo. A equipe Renault F1 Team parece ser exemplar neste quesito…
Patrick Faure : O princípio do valor do dinheiro aplicado é fundamental: nós temos que retribuir os investimentos com desempenho. Já quando éramos fornecedores de motor nos anos 1990 contávamos com um orçamento bem longe de ser o maior, e vencemos campeonatos. Em 2005, repetimos a dose. Nosso orçamento é substancial, mas permanece razoável. Isso prova que não é preciso torrar dinheiro para vencer na Fórmula 1.
Quais são os desafios que o Grupo Renault enfrenta agora para tirar o máximo das conquistas da equipe em 2005?
Patrick Faure : Nosso Chairman, o brasileiro Carlos Ghosn, foi categórico neste ponto quando esteve em Magny-Cours para o GP da França, em julho. A coisa mais difícil é vencer o título mundial, e a equipe conseguiu esta façanha. Agora, toda a empresa precisa explorar positivamente a conquista. Inicialmente, na forma de propaganda e comunicação, e depois nos dezenas de milhares de pontos de venda e de pós-venda em todo o mundo, a fim de deixar claro aos nossos clientes o que nós conseguimos realizar. Depois disso, o desafio é retirar ainda mais benefícios comerciais da Fórmula 1. Nós temos discutido sobre vários acessórios ligados à categoria que têm potencial de gerar receita, e isso nos leva a uma linha de produtos esportivos e de edições limitadas de itens relacionados à F1. O sucesso na categoria trouxe à Renault uma nova imagem, e nós precisamos refleti-la em nossas futuras ações.
O objetivo do programa da equipe Renault de F1 sempre foi vencer o campeonato mundial com um carro 100% Renault. Vocês chegaram lá. O que resta conquistar?
Patrick Faure : Eu acho que podemos ter apenas um objetivo agora. E é começar tudo de novo. É muito mais fácil para uma equipe tornar-se campeã do que permanecer campeã. Ou seja, temos ainda muito trabalho pela frente.