Categoria: F1
|
9 de setembro de 2007 03:21

‘Caso McLaren’: falcatruas, interesses e falta de ética

Por Giovanni Romão

Entenda todos os capítulos deste delicado momento da fórmula 1, que coloca em dúvida um dos pilares de qualquer atividade: a ética!

Seria possível uma equipe liderar os dois campeonatos mundiais de Fórmula 1 – pilotos e construtores –, e mesmo assim viver em um ‘mar’ de angústia? Pois na McLaren a situação é exatamente esta.

Pouco acostumada com polêmicas em sua longa história na categoria – fundada em 1966 -, a equipe inglesa agora passa por um dos maiores dramas políticos e de falta de ética já vista na no esporte a motor. O roubo de documentos confidenciais da Ferrari fez com que o time perdesse todos os pontos no mundial de construtores e ainda terá de arcar com um mula de 100 milhões de euros.

O ‘Caso McLaren”

Tudo começou no final de 2006, quando Nigel Stepney, esperando assumir o cargo de Ross Brawn com sua aposentadoria, acaba transferido por Jean Todt para o setor de testes da Ferrari. Contrariado, Stepney começa colher dados para elaboração de um ‘dossiê’ com informações preciosas sobre os projetos e conteúdo técnico de longos anos de estudos feitos pelo time de Maranello.

Após o GP de Melbourne, na Austrália, disputado em março, a McLaren acusa a Ferrari de usar asas dianteiras e assoalho flexível. A FIA analisa o caso, obriga a Ferrari substituir as peças, mas nenhuma punição é aplicada.

Depois de colher um material com mais de 700 páginas sobre os detalhes técnicos da Ferrari, o frustrado Stepney encontra-se com Mike Coughlan, então projetista-chefe da McLaren, e faz a entrega do ‘tal’ documento. A cena acontece em um restaurante em Barcelona, antes dos testes coletivos que aconteceriam na pista espanhola.

Com o documento em mãos, Coughlan o entrega para a esposa, Trudy Coughlan, que vai até uma copiadora em Woking para fazer mais números do volumoso arquivo. Tudo começa a se complicar a partir deste momento; O responsável pelo estabelecimento comercial liga para a Ferrari e denuncia que documentos da equipe estão sendo duplicados.

Já com várias copias do ‘dossiê’, Mike teria então enviado e-mails para Martin Whitmarsh, diretor-geral, contando sobre a posse da ‘mina de ouro’. Para outros dois profissionais da McLaren, Rob Taylor – chefe de engenharia – e Paddy Lowe – projetista do time – , detalhes sobre o projeto de assoalho móvel e freios teriam sido apresentados.

No entanto, o caso só chega ao conhecimento público no dia 3 de julho, quando a Ferrari resolve abrir um processo judicial em Modena contra o afastado Nigel Stepney, acusando o profissional de ter tentado sabotar o combustível dos carros de Felipe Massa e Kimi Raikkonen no GP de Mônaco – quinta etapa do ano -, e revela ter conhecimento do desvio de material secreto do time para a rival McLaren. A equipe inglesa, desde o início mostrando-se apta a ajudar nas investigações, afasta Coughlan.

Três dias depois, um novo testemunho aparece em público. O chefe da Honda, Nick Fry, revela ter sido procurado pela dupla Stepney e Coughlan, um mês atrás, quando os dois ofereceram-se para trabalhar no time japonês, sem revelar ter em mãos documentos sigilosos da Ferrari. O fato apenas serve como mais evidências do envolvimento dos dois profissionais com o caso.

No dia 11 de julho a Ferrai também anuncia abertura de processo contra Trudy, responsável por levar os documentos até a copiadora. Logo no dia seguinte, quando a polícia inglesa encontra o ‘dossiê’ na casa de Mike e Trudy, acontece a convocação da FIA para a primeira reunião do Conselho Mundial de Esporte a Motor sobre o caso, que seria realizado dentro de 14 dias.

Então, em 26 de julho de 2007, em Paris, na França, 27 juízes do Conselho Mundial de Esporte da FIA apontam a McLaren como culpada, por ter se apropriado de ‘documentos alheios’, mas não aplica nenhuma punição, alegando não haver provas suficientes de que outros membros do time, além de Coughlan, tenham tido acesso a papelada, e portanto não haveria sido usada em beneficio da equipe. Antes de encerrar o tribunal, a FIA deixa bem claro que ‘se for encontrado no futuro alguma prova de que alguma informação da Ferrari foi usada (pela McLaren) em detrimento do campeonato, nos reservamos o direito de convidar a McLaren diante do Conselho novamente’.

Indignada com o resultado final da reunião do Conselho, a Ferrari recorre ao presidente da ACI-CSAI – entidade representante do automobilismo italiano -, Luigi Macaluso, que envia uma carta de repúdio ao presidente da FIA, Max Mosley, alegando que a Ferrari deveria ter tido o direito de falar durante a audiência. A entidade então resolve levar o caso à Corte de Apelações, para uma reunião no dia 13 de setembro. A McLaren reclama!

No final de agosto, uma decisão surpreendente coloca lenha na fogueira. Mosley envia uma carta aos pilotos da McLaren e outras equipes do circo, com os seguintes dizeres: ‘A FIA, por esta razão – interesses do esporte -, pede para vocês fornecerem qualquer documento que envolva, relate ou foi mandado ou recebido a qualquer piloto da McLaren que estão em suas mãos ou poder e que pode ser relevante a este caso. Para estas finalidades, “documentos” incluem todo o material escrito, como e-mails, cartas, comunicações eletrônicas, mensagens de texto, notas, memorandos, rabiscos, diagramas, dados ou outro material armazenado de forma impressa ou eletrônica’ (parte do comunicado).

Então, mais surpreendente do que o pedido da FIA, teria sido a atitude de Fernando Alonso e Pedro de La Rosa, que preocupados com uma possível cassação da superlicença, teriam se mostrado interessados em contribuir com o andamento do processo, e para isso entregaram vários e-mails trocados entre eles, comentando sobre o conteúdo do documento conseguido pela ex-projetista da McLaren. Alonso teria até interesses particulares, já que com o nome ‘manchado’ por culpa da McLaren, uma cláusula contratual permitiria a ruptura com o time inglês.

Os últimos dias

Todos estes fatos, tanto a carta da FIA às equipes, como os e-mails de Alonso e De La Rosa, vieram à tona somente pouco antes do início das atividades para o GP de Monza, 13ª etapa da temporada 2007. No dia 5 de setembro, quarta-feira, o promotor público de Modena, Giuseppe Tibis, confirmou que Nigel Stepney é o principal suspeito na sabotagem de combustível da Ferrari em Mônaco, e no mesmo dia a FIA avisa que novas evidências sobre o caso de espionagem teriam surgido. Diante disto, a entidade desmarca a Corte de Apelações, e remarca no mesmo dia – 13 de setembro – uma nova reunião do Conselho Mundial de Esportes a Motor.

Durante o primeiro dia de treinos na pista de Monza, no dia 7 de setembro, a FIA divulga para a imprensa todo conteúdo da carta enviada às equipes, pedindo colaboração, e Alonso confirma ter passado informações para a FIA, procurando ajudar na resolução do caso; Mas diz que a McLaren ‘não tem o que temer’.

Possivelmente na mira de uma ação judicial movida pela polícia italiana, Ron Dennis, no meio dos últimos acontecimentos, revelou ter pensando em abandonar a Fórmula 1, mas acredita que ainda não seja a hora certa. Dennis mantém a palavra de que a McLaren não utilizou nenhuma informação do documento confidencial da Ferrari.

Definição

O segundo encontro do Conselho Mundial de Esporte a Motor da FIA demorou mais de oito hora, e aconteceu na quinta-feira (13,setembro) em Paris, na França. Depois de ser divulgado que a equipe McLaren seria excluída da temporada 2007 e não disputaria o mundial 2008, a verdade enfim apareceu: o time de Woking perdeu todos os pontos no mundial de construtores deste ano e terá de pagar uma multa de 100 milhões de euros.

Os pilotos, Fernando Alonso e Lewis Hamilton, que segundo a FIA colaboraram nas investigações, foram poupados e continuam com os mesmos pontos no no mundial de pilotos.

Atualizada dia 13 de setembro

This website is unofficial and is not associated in any way with the Formula 1 companies. F1, FORMULA ONE, FORMULA 1, FIA FORMULA ONE WORLD CHAMPIONSHIP, GRAND PRIX and related marks are trade marks of Formula One Licensing B.V.