Por Giovanni Romão
No dia 13 de abril de 1940, em Londres, capital da Inglaterra, nascia Rufus Max Mosley, filho do segundo casamento de Oswald Mosley – fundador União Britânica dos Fascistas – com Diana Mitford. Separado dos pais logo nos primeiros anos de vida, já que o casal foi exilado para a Grã-Bretanha durante o período da Segunda Grande Guerra, Mosley estudou em colégios particulares na França e Alemanha, até ingressar na Universidade em Oxford.
Após formado e atuando como advogado, Molsey teve seu primeiro contato com o automobilismo ainda na década de 60, como piloto amador. No início da década de 70, Mosley chegou a Fórmula 1, como sócio da recém-criada equipe March. Ao fim de 10 anos, o ‘empreendedor’ já era conselheiro jurídico da FOCA, entidade que representava as equipes. Na mesma época tornou-se um dos criadores do primeiro Pacto de Concórdia, um acordo entre as montadoras e a FIA (Federação de Automobilismo).
Na presidência da maior entidade do automobilismo mundial desde 1993, quando ‘desbancou’ o francês Jean Marie Balestre, que faleceu no último dia 28 de abril, aos 86 anos, Mosley vivi um momento de fortes pressões.
Depois de 15 anos à frente da entidade, Mosley viu toda credibilidade e trabalho desenvolvido junto ao automobilismo ser ‘esmagado’ em conseqüência de uma reportagem publicada no último domingo de março, dia 30, pelo jornal inglês News of the World. Considerado de perfil sensacionalista, o tablóide trouxe à tona imagens de Mosley participando de uma orgia sadomasoquista com cinco prostitutas em Londres. O periódico ainda coloca o tom nazista incorporado pelo ‘sexteto’. Além das fotos, também foi lançado na internet um vídeo da cena.
Em trecho da matéria, o jornal diz que Max participou de uma “orgia depravada ao estilo nazista com cinco prostitutas, em uma masmorra de tortura”. O vídeo tem cerca de cinco horas, e Mosley aplica algumas ordens em alemão as ‘prisioneiras’, decodificada pela vestimenta alusiva. Fato curioso ou não, o pai de Mosley foi amigo intimo de Adolf Hitler – líder nazista -, que teria inclusive participado como padrinho de honra em seu casamento.
Repercussão imediata
Um dos primeiros a falar sobre o caso envolvendo Mosely foi Bernie Ecclestone, presidente da FOM, entidade que controla comercialmente a F1. O chefão Ecclestone confessou ter ficado surpreso, mas não considerou propicia uma renúncia de Mosley.
Para o dirigente, o que ‘as pessoas fazem de forma privada é assunto delas próprias’. Seguindo na linha do ‘privado tudo pode’, fontes próximas do dirigente informaram que ele não pretendia deixar o cargo e já começava um diálogo com advogados para uma ação contra o jornal. Isso era segunda-feira (31)!
No mesmo dia surgiram os rumores de que o dirigente não iria para o GP do Bahrain, que aconteceria no fim de semana seguinte, para evitar exposição. Novamente, Ecclestone entrou na história e aconselhou Mosley a ficar longe do Oriente Médio.
Coro pela saída!
Depois de Bernie tentar abafar o caso de Max, algumas figuras conhecidas no meio da Fórmula 1 começaram a ir na direção contrário, pedindo a renúncia do dirigente. Um deles foi Jody Scheckter, campeão mundial pela Ferrari em 1979. “Não tenho dúvida de que ele deveria renunciar!”, disparou.
Mosley reaparece
Calado desde domingo, quando a denúncia estourou, Mosley resolveu expressar-se na terça-feira (2). O dirigente enviou uma carta aos oficiais da FIA, onde não comentou diretamente o caso, mas classificou a atitude do jornal The News of the World como uma ‘invasão de privacidade’ e pela primeira vez confirmou que entraria com uma ação contra o tablóide.
FIA coloca viagem em jogo
Em comunicado oficial, também na terça-feira, a FIA colocou a presença de Molsey no Bahrain em xeque. A entidade afirmou que o dirigente não havia confirmado quais seriam seus planos, que a principio incluíam ainda um jantar com a família real do país.
Não durou muito às especulações da própria entidade, e no dia seguinte o príncipe coroado do Bahrain, Sheikh Salman Bin Hamad Al-Khalifa, deixou claro que não seria apropriada a presença de Mosley no país.
Na seqüência a FIA procurou abafar o caso, e um porta-voz da entidade afirmou que Mosley pretendia estar em Sakhir, ‘porém assuntos legais o segurariam em Londre’.
Crise atinge montadoras
Não demorou muito e as montadoras da Fórmula 1 iniciaram uma campanha contra Mosley. De cara, BMW e Mercedes-Bens, duas alemãs, soltaram aos quatro cantos que o ideal seria uma renúncia.
A Toyota também entrou na roda e pediu para a FIA reconsiderar o presidente em exercício. Seguindo o exemplo da dobradinha alemã, a Honda também fez um jogo duplo com a Toyota, numa união nipônica, e bradou sobre sua preocupação com a imagem da categoria máxima do automobilismo.
Assembléia extraordinária
Depois de responder às críticas das equipes, Mosley confirmou a convocação de uma assembléia extraordinária geral da FIA para explicação do caso. A informação partiu da Federação, em um comunicado divulgado dentro do autódromo de Sakhir.
A assembléia, até então, era apenas uma possibilidade para acontecer meses depois. Há quem classifique a demora da reunião como uma forma de o caso esfriar.
Federações também pedem renúncia
A primeira federação a pedir que Molsey renunciasse ao cargo foi a alemã. A entidade mandou uma carta ao presidente da FIA, pedindo para ele reconsiderar sua posição dentro da entidade.
A federação foi ainda mais longe e afirmou ter se distanciado dos eventos relacionados a Mosley e ainda ressaltou que o dirigente está à frente de uma entidade que representa mais de 100 milhões de motoristas no mundo todo.
Na seqüência apareceu a Federação Automobilística Holandesa (KNAF), assim como fez a AAA (Associação de Automobilismo Americana), aumentando as pressões pela renúncia do dirigente. Nada de pronunciamento oficial de Mosley!
Paulo Scaglione nega apoio
O presidente da Confederação Brasileiro de Automobilismo (CBA), segundo divulgou a BBC, teria demonstrado apoio a Max Mosley. Depois de ser questionado em rede nacional por uma emissora de TV do país, Scaglione tentou reverter a impressão e disse ter sido mal interpretado em um e-mail respondido a um jornalista da BBC.
Paulo, no entanto, manteve a posição de liberdade da vida privada, mas disse que antes gostaria de ouvir Mosley no momento apropriado para então tirar uma conclusão sobre o caso. A oportunidade será em junho, na França, ao que tudo indica.
Cópias aos membros da FIA
No dia 6 de abril ficou determinado que membros do senado da FIA teriam contato com cópias completas dos vídeos envolvendo Max Mosley, sob posse do jornal responsável pela denúncia.
No mesmo período, a Corte de Londres libera o tablóide para voltar a divulgar imagens de no máximo 90 segundos do vídeo envolvendo o dirigente máximo do automobilismo. A exibição estava vetada desde que Mosley entrou com um pedido na justiça.
Há quem apóie
Passado o período conturbado da crise, surgiram duas vozes apoiando o dirigente. Uma delas foi do finlandês Kimi Raikkonen, atual campeão da categoria. Para o piloto da Ferrari, trata-se da vida pessoa de Mosley e ele teria direito de ‘fazer o que quiser’.
O ex-piloto de Fórmula 1, atualmente na Nascar, o colombiano Juan Pablo Montoya também demonstrou apoio ao mandatário. “Fiquei surpreso quando vi o vídeo, mas penso que era apenas um homem tentando se divertir”. Montoya resolveu fugir: “Fico feliz por não estar lá”.
FIA confirma reunião
No dia 9 de maio a FIA, enfim, confirmou para o dia 3 de junho a reunião extraordinária para discutir o caso Mosley. Cerca de 200 membros deverão marcar presença, em Paris, onde será realizada uma votação secreta para avaliar a permanência ou não do dirigente no cargo.
Vaticano fora
Por ser apenas associado da Federação Internacional de Automobilismo, e não um país membro, o Vaticano ficará fora do processo de votação que definirá o futuro de Mosley na entidade.
O Estado Pontifico, mesmo fora do ‘pleito’, participará da reunião, representado pelo cardeal Renato Martino.
Prometendo doações
Um comunicado enviado à imprensa no mesmo dia da confirmação da reunião da FIA, dava conta de que Mosley estava confiante em ganhar o processo contra o jornal News of the World, por danos morais, e todo dinheiro arrecadado o dirigente dirigiria à Fundação FIA.
A vida segue!
Para não deixar a imagem da FIA esmorecer, o dirigente Max Mosley foi convidado no dia 16 de abril, pelo presidente da Federação de Esportes a Motor da Jordânia, Feisal Al Hussein, para participar do Rali da Jordânia, etapa do Mundial da categoria. Isso aconteceu duas semanas depois que o dirigente recebeu um pedido para não comparecer a terceira etapa da F1 2008, no Bahrain
Banho de água fria
Com moral em alguns países, Mosley por outro lado continua causando graves prejuízos para a Fórmula 1. Porsche e Volkswagen confirmaram nos últimos dias que não têm interesse em entrar na categoria neste momento, por dois motivos: os altos custos e o escândalo sexual e político devido ao vídeo da orgia da qual participou o presidente da FIA.
Mosley anuncia retirada; Mas em 2009!
Longo tempo sem falar diretamente com a imprensa, Mosley voltou a soltar o verbo e deixou claro que o caso não tem motivos para lhe custar o cargo na FIA. “Não vejo problemas morais, quando uma situação acontece de maneira consentida entre adultos. Muitas pessoas me apoiram nestes últimos dias e se permitirem que eu fique, continuarei no cargo”, apontou.
O dirigente, no entanto, revelou que não fica na presidência da entidade por muito mais tempo. “Sempre deixe bem claro que não iria além de 2009!”.