Algumas mudanças nas regras da Fórmula-1 para a temporada 2004 obrigaram as equipes a mexer nos carros. As diferenças em relação ao ano passado vão beneficiar os pilotos mais meticulosos da categoria. “Tudo busca aumentar a competitividade, o equilíbrio, que tende a aumentar”, diz Reginaldo Leme.
As equipes têm direito agora a usar apenas um motor por final de semana em cada carro. Se tiver que trocar a peça, o piloto perde dez posições no grid de largada. Isso faz com que as equipes montem motores mais resistentes. Além disso, foi proibido o controle de largada. Antes se apertava ou soltava um simples botão e o carro fazia tudo sozinho. Para completar, os pilotos não podem mais usar o câmbio automático.
“Por estar eliminando tudo o que é automático, o que faz a diferença é o nível de sensibilidade quando o sujeito está pilotando para chegar o mais próximo possível do limite do carro. Pelo menos em relação a motor, a gente sabe que o (Michael) Schumacher é um especialista. Quantas vezes se viu o alemão quebrar um motor?”, indaga Leme.
O piloto brasileiro Felipe Massa, de volta à categoria para guiar uma Sauber, garante que a mudança no câmbio não atrapalha. “Para quem estava acostumado com o câmbio automático, o tempo para se readaptar ao manual é muito pequeno. Como já havia andado com o manual da Ferrari no ano passado, não estou estranhando nada”, disse.
Na era do atrito, Fórmula-1 reverencia pneus
Em vez de representar apenas uma disputa entre duas empresas, os pneus vão pautar também o destino do Mundial de Fórmula-1 em 2004. Os trabalhos de Bridgestone e Michelin devem decidir os títulos de pilotos e construtores.
Até mesmo o eterno favoritismo do hexacampeão alemão Michael Schumacher pode ser colocado em xeque, já que a Bridgestone, fornecedora da Ferrari, tem perdido com freqüência a queda de braço contra a Michelin.
“O Schumacher vai ter um ano dificílimo. O problema com o pneu não é algo facilmente contornável, a não ser que a Ferrari esteja escondendo o jogo”, avisa o especialista Lito Cavalcanti.
“Se a Ferrari for mesmo isso que se tentou demonstrar com o tempo do Rubinho (que quebrou o recorde da pista) em Mugello, o Schumacher continua favorito. Mas existe o fator pneu: a Michelin está dando sinais de que anda mais que os da Bridgestone”, lembra Reginaldo Leme, que há mais de 30 anos acompanha, como jornalista, as corridas pelo mundo.
A Michelin ficou por 16 anos afastada da F-1 (voltou em 2001), mas não deixou de participar de outras categorias do automobilismo. Além disso, a fornecedora francesa tem seis equipes usando seus pneus atualmente na F-1, o que lhe dá um grande banco de dados para cruzar informações.
Já a empresa nipo-americana, tem apenas as pequenas Sauber, Jordan e Minardi, além da gigante Ferrari. Entre elas, apenas a escuderia italiana tem condições financeiras de fazer testes para evolução dos compostos de pneus.
“É muito importante melhorar o motor e a aerodinâmica, por exemplo. Mas o negócio é o pneu, é o atrito com o chão. É como você fazer uma preparação física para correr uma prova de 200 metros, mas descobre que tem um calo no pé. Não adianta nada”, explica Cavalcanti.
A preocupação é tão grande que a Ferrari quer colocar seu piloto de testes, o italiano Luca Badoer, para treinar com a Sauber às sextas-feiras. De acordo com as novas regras, os seis piores times de 2003, entre eles a escuderia suíça, poderão andar com três carros nos treinos desse dia da semana. Ferrari, McLaren, Williams e Renault estão fora da nova regulamentação.
Com a manobra, a escuderia italiana poderia usar a equipe parceira para ter mais informações para montar o melhor composto de pneus a cada final de semana. A Ferrari financiaria o terceiro carro da Sauber, que chegou a anunciar sua falta interesse em se beneficiar da regra.
A escuderia suíça, além de receber motores e câmbios da Ferrari, tem como titular em 2004 o brasileiro Felipe Massa, contratado da escuderia italiana.