Um dos ídolos brasileiros que mais sucesso teve em manter sua vida pessoal longe dos holofotes, Ayrton Senna é, no ano em que se completa dez anos de sua morte, personagem de uma biografia reveladora. Ernesto Rodrigues, ex-chefe do escritório da TV Globo em Londres, entrevistou 213 pessoas próximas ao piloto em sete países (Brasil, Argentina, Inglaterra, Itália, França, Portugal e Japão) e escreveu um livro que narra passagens da vida de Senna e o mostra tão contraditório quanto qualquer outro homem. A revista Veja teve acesso ao livro, que será publicado nesta semana.
A vida amorosa de Ayrton Senna, descrita neste livro com base em cinco relacionamentos, é o que mais o diferencia dos demais já publicados sobre o piloto. Lilian de Vasconcelos, Adriane Yamin, Xuxa, Cristiane Ferracciu e Adriane Galisteu foram as mulheres que, segundo o relato, tiveram mais importância na vida de Senna. No dia anterior a sua morte, por exemplo, o tricampeão ouviu uma conversa entre Adriane Galisteu com um ex-namorado, gravada no telefone, e que contribuiu para deixar seu semblante conturbado na manhã daquele domingo. Na fita, levada até Senna por seu irmão Leonardo, o ex-namorado se dizia ‘melhor de cama’ do que o piloto.
O namoro com a apresentadora Xuxa, com quem Senna manteve contato, durou até 1989. Deprimido com a perda do bicampeonato, o tricampeão fez uma visita surpresa à namorada em Nova York, vestido de papai-noel, mas foi impedido de entrar. Voltou para o Brasil ainda mais chateado e com a relação estremecida.
Os inimigos que cultivou durante sua carreira e os atritos com eles, como o francês Alain Prost e Nelson Piquet, também são explorados. Se dentro das pistas Senna rivaliza com todos, fora delas parece ter sido duramente atingido pelo boato de que seria homossexual. Na biografia, Rodrigues não encontrou nenhum dado que corrobore a história de seus rivais.
O boato ganhou força depois que Senna contratou o amigo Américo Jacoto Júnior, em 1986, para ser seu auxiliar. Suas tarefas incluíam pilotar o helicóptero do piloto e ser seu massagista. Apesar de terem sido amigos até o fim da carreira, Senna foi pressionado pelo próprio pai a demitir Júnior no fim de 1987.
Uma característica da personalidade de Senna era a busca pela perfeição e a forma como tentava melhorar seu desempenho nas pistas. ‘Ayrton era um obsessivo-compulsivo nesse aspecto’, afirma Ron Dennis, chefe da equipe McLaren, no livro. A vontade de ser campeão mundial o levou, por exemplo, a se chocar com Prost na primeira curva do GP do Japão de 1990, uma manobra arriscada, mas que valeu a ele o segundo título na carreira.
Conservador e reservado, Senna é ídolo até hoje. Esmiuçar a vida pessoal do piloto, dez anos após sua morte, revela o dono de uma personalidade complexa e muitas vezes contraditória. Mas confirma que, na história do automobilismo mundial, o Brasil possui um dos poucos gênios que já existiram.