Em 2000, o finlandês Kimi Raikkonen ainda disputava sua primeira temporada completa no Campeonato Inglês de Fórmula Renault. Na temporada seguinte, depois de descoberto por Peter Sauber, ele estava na equipe suíça da Fórmula 1. Hoje, Raikkonen é considerado um dos poucos pilotos cujo talento pode fazer frente a Michael Schumacher. A partir deste episódio, tentar localizar prodígios ainda não revelados tornou-se uma prática muito bem estabelecida na F-1. Todas as equipes sabem que um achado como Raikkonen pode valer milhões de dólares. Por isso, elas possuem programas de apoio e desenvolvimento de pilotos. É o caso da Renault, cujo programa adotou o brasileiro Lucas Di Grassi no começo de 2004. Trata-se de um projeto inteligente que visa efetivamente não apenas apoiar competidores de grande potencial, mas que pretende seriamente leva-los à F-1. Assim como Lucas, outros seis pilotos da F-3 possuem vínculos com equipes da categoria principal.
Esta busca por talentos tem dois focos. O primeiro é financeiro. O passe de uma estrela da F-1 rende milhões de dólares por ano em patrocínios. O outro objetivo é técnico, mas também possui um viés econômico: ganhar meio segundo desenvolvendo o carro custa uma fortuna e é justamente neste quesito que reside o enorme desequilíbrio de orçamento entre as equipes da F-1. Por isso, tornar seu carro mais rápido apenas colocando ao volante um bom piloto é um grande negócio e também uma vantagem técnica cobiçada.
Assim, as equipes criaram seus programas de apoio a jovens talentos. O brasileiro Di Grassi faz parte do Renault Driver Development (RDD, ou Programa de Desenvolvimento de Pilotos Renault). O RDD apóia seis pilotos, mas Lucas é o único deles na F-3 Inglesa – historicamente a principal formadora de talentos para a F-1. Depois de passarem por uma rigorosa seleção, eles são submetidos a um planejamento que vai do estudo de línguas à preparação física e a avaliação técnica. É como entrar em uma universidade de alto nível: “Estar em um programa desses não significa ter ingresso garantido na F-1”, resume Lucas, de apenas 19 anos. “Na verdade, trata-se de um apoio extra para o piloto chegar lá. É uma espécie de voto de confiança dado pela equipe, algo fantástico para a carreira de qualquer competidor. Eu estou muito feliz por ter sido escolhido entre tantos bons pilotos”, comemora o brasileiro.
Por tudo isso, quem corre na F-3 Inglesa também realiza um trabalho paralelo para atrair as equipes de F-1. O esforço começa a dar certo quando a escuderia anuncia oficialmente seu vínculo com determinado piloto – o que já é um começo. Esta ligação pode vir na forma de testes de avaliação. É o que aconteceu com o brasileiro Nelsinho Piquet, que testou para a Williams no ano passado e vem sendo observado de perto pela equipe. Assim como ele, o estoniano Marko Asmer também está na lista da Williams e já andou com seu carro de F-1. A Jordan anunciou seu apoio às carreiras do malaio Fairuz Fauzy e do inglês Adam Langley-Khan. E até mesmo a Minardi tem seus planos. Em dezembro passado, o dono da equipe, Paul Stoddart, anunciou a intenção de testar os australianos Will Davison e Will Power caso eles se saiam bem na difícil F-3 Inglesa.
Qual deles estará na F-1 em um futuro próximo? É impossível prever. Como disse o brasileiro Di Grassi, ingressar em um programa desses não é garantia de nada. Mas, pelo menos, tem um grande significado para estes jovens pilotos: eles foram escolhidos entre os melhores de sua geração. Se vão continuar a merecer a atenção e o apoio das organizações ligadas à F-1 depende de seu desempenho nas pistas. “É preciso continuar a mostrar profissionalismo e, claro, bons resultados”, completa Lucas Di Grassi.