Por: Luís Joly
Em tempos de velocidade monótona, por motivos que não cabe aqui dizer, a Fórmula 1 enche os olhos cada vez que presencia uma nova sensação entre os pilotos. Algo para chamar a atenção, para sair do marasmo. Há alguns anos a entrada de pilotos arrojados não era tão destacada assim, mas a verdade é que sempre foi uma fonte bastante rica de bastidores, teorias e muita especulação. Basta lembrar, por exemplo, a primeira grande atuação de nomes como Jean Alesi, em 1990, ou Ivan Capelli, na temporada de 1988. Acontece de esses nomes caírem no ostracismo, mas a verdade é que nos dias de hoje essas performances ganham ainda mais importância, pois é do interesse de quase todos envolvidos com o esporte que, de alguma maneira, a série de vitórias de Michael Schumacher diminua. Não é necessário – nem lucrativo – fazer com que essa série chegue ao fim. Basta apenas torná-la mais concorrida. Quando Juan Pablo Montoya veio da Fórmula Indy em 2001, a imprensa e os patrocinadores entraram em polvorosa. Alguém que alardeava a quatro cantos que Schumacher não era isso tudo. Quem não se lembra do “chega pra lá” que ele deu no alemão no S do Senna em Interlagos logo na primeira volta? A Fórmula 1 sente falta disso, pede por isso.
E, em 2004, com a ascensão meteórica da BAR – sendo investigada pela FIA, é verdade – é natural que os pilotos da equipe ganhem um lugar de destaque. A fama de pilotos japoneses no grid da Fórmula 1 nunca foi das melhores. Aqui no Brasil, especialmente, virou alcunha para alguém que não controla muito bem um automóvel. Isso tudo começou especialmente com Satoru Nakajima, o japonês que foi companheiro de Ayrton Senna e Nelson Piquet na Lotus, respectivamente nos anos de 1987 e 88. Essa fama chegou ao ápice em março de 1990, quando o piloto japonês impediu Senna de chegar a sua primeira vitória no Brasil após uma desastrada negociação de ultrapassagem entre ambos. Justiça seja feira, Nakajima não foi o único a depreciar a fama dos nipônicos. Ukyo Katayama, alguns anos depois, mesmo sem ter envolvido nenhum brasileiro em acidentes históricos, acabou com o apelido local de “Katagrama”. Takuma Sato, o jovem piloto da BAR, parecia seguir o mesmo caminho. Piloto preferido pelo escalão da Honda, – algo tradicional desde Nakajima – Sato sempre exagerou na dose. Mas, com a alçada da BAR à equipe de ponta (pelo menos esse ano), Sato acabou chamando a atenção de todos. Não levou muito para superar todos os recordes que anteriormente pertenciam a Nakajima. No Canadá, parecia ter tudo para conquistar a primeira pole position para um japonês em toda a história da categoria. Mas terminou o treino com uma valente rodada, um giro em 360º e o suficiente para ainda completar sua volta rápida. Não foi bem, mas arrancou aplausos da torcida. Na corrida anterior, em Nurbürgring, outra vez estavam as câmeras focadas em Sato. Em um momento estagnado da prova, a única briga que poderia se concretizar nas primeiras posições era entre ele e Rubens Barrichello, Sato poderia esperar, é verdade – como diria o próprio Barrichello depois – mas preferiu surpreender a todos. Colocou sua BAR por dentro no final da curva em cima da poderosa e histórica Ferrari, guiada por um dos mais experientes pilotos da atualidade. Sato fez que foi, acabou perdendo o bico e a briga com Barrichello. Mas será que perdeu mesmo? Será que fui só eu ou todos tiveram a impressão de que Takuma Sato saiu como vencedor mesmo perdendo a parada com o apático Barrichello?
No Canadá, mais um estouro de motor após ter largado dos boxes, passado de maneira incrível pelo meio dos carros envolvidos na confusão da primeira volta e ainda dar o seu show em uma tentativa de ultrapassagem sobre Olivier Panis, da Toyota. Enquanto isso, Michel Schumacher conquistava mais uma vitória. E Sato, o herói moderno da Fórmula 1, vence mesmo sem completar nenhuma prova. E tenta fazer com que as rotinas de suas rodadas e manobras ousadas mudem a rotina cansativa e previsível da turma de Michael Schumacher.
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