Categoria: F1
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15 de abril de 2020 19:17

A Saga da Equipe Fittipaldi na Fórmula 1: Capítulo II – 1975

O texto faz parte da série “A Saga da Equipe Fittipaldi na Fórmula 1”, com 9 capítulos contando a história da equipe brasileira montada pelos irmãos Wilson e Emerson Fittipaldi. A partir desta quarta-feira (15), acompanhe diariamente os novos capítulos no site da F1Mania.net

12 de janeiro de 1975. Autódromo Municipal de Buenos Aires. Wilson Fittipaldi Jr, o Wilsinho, alinhava o Copersucar-Fittipaldi FD-01 na 23ª posição do grid do GP da Argentina de 1975, o primeiro daquela temporada. Após muita batalha para levar o carro e ter que conviver novamente com os problemas de alimentação, os brasileiros conseguiam se classificar para a corrida. Na última posição e 11 segundos atrás do pole-position.

Mas isso não incomodava Wilsinho. Em entrevista dada à revista Quatro Rodas em 1980, definiu como um dos melhores momentos de sua vida. Não importava os problemas, mas ele estava ali sentado em seu carro. Pensado e construído por ele. Poucos fizeram isso e ele tentava igualar o feito de Jack Brabham.

O objetivo naquela corrida era andar o máximo possível e aprender mais sobre o carro, que já tinha alterações previstas para o Brasil. Naquela tarde, largaram 22 classificados (Mike Wilds da BRM, que havia ficado em 22º, não alinhou). Wilsinho conseguiu uma ótima largada e pulou para o 18º lugar. E aos poucos, mesmo com tanque cheios, sentia o carro ter um comportamento melhor do que nos treinos e conseguia se manter. Tanto que já virava mais rápido do que o tempo obtido na classificação.

Tudo parecia ir bem quando na 12ª volta, uma cruzeta da suspensão quebra e o FD-01 bate no guard-rail e começa um leve incêndio. Apesar de uma rápida discussão com os fiscais, nada de grave com o piloto, mas a aventura da primeira etapa terminava. E começava uma outra.

Foto: Reprodução/ Twitter/ Wilson Fittipaldi – GP da Argentina 1975

O FD-01 ficou bem avariado. Já havia planos para a construção de mais um chassi, o FD-02. Mas com o acidente, os planos foram antecipados e houve uma verdadeira corrida contra o tempo para aprontar o carro novo para ali a duas semanas para o que seria a corrida de casa, o GP do Brasil.

Noites foram viradas na oficina de Interlagos. Darci, Adilson, Joel, Itoh, Odilon, Divilla e Geraldo trabalharam duro e deixaram tudo pronto. O FD-02 usava o mesmo monocoque, mas contava com uma frente ligeiramente revisada (embora ainda contasse com um spoiler sobreposto), uma nova entrada de ar superior para o motor e os radiadores de água já eram posicionados para as laterais. A posição de pilotagem foi ligeiramente revisada para permitir que o piloto ficasse sentado mais ereto. Mesmo assim, Wilsinho dizia que tinha que frear depois para conseguir ver os pontos de tangência das curvas.

Mesmo assim, a situação ficou melhor: Wilsinho ficou em 21º lugar (de 23 classificados), pouco mais 6 segundos atrás da pole. E em uma tocada cautelosa, levou o carro até o final, ficando em 13º lugar, dando mais uma boa notícia em um dia que marcou a primeira dobradinha brasileira da Fórmula 1, com José Carlos Pace em 1º e Emerson Fittipaldi em 2º.

Foto: Reprodução/ Twitter/ Wilson Fittipaldi (Copersucar Fittipaldi 1975)

Na África do Sul, o carro ficou de fora da prova por três décimos. Mas o carro funcionava e estava sendo trabalhado mais ainda. Em paralelo, a equipe estruturava uma base em Reading, Inglaterra, para a fase europeia e tratar das revisões dos motores. Mas o carro era fabricado na oficina de Interlagos, até mesmo por exigência da Copersucar. Não nos esqueçamos que o Brasil passada por um Regime Militar e a questão nacionalista era mais exacerbada….

O começo da temporada europeia foi na Espanha, no circuito de Montjuich. Este foi o GP onde os pilotos se recusavam a andar pois os guard-rails estavam mal instalados. Emerson foi um dos mais veementes defensores de não haver prova. Wilsinho se juntou ao irmão, mas precisava testar o carro. Se classificou em 21º e só fez uma volta. Monaco também foi outra passada em branco. Com problemas, ficou em 26º (classificavam-se 20 para a corrida).

Foto: Reprodução/ Twitter/ Wilson Fittipaldi (Copersucar Fittipaldi 1975)

Nas corridas seguintes, o ritmo melhorou. E mesmo ainda no final do grid, o carro tinha um desempenho melhor e pelo menos chegava ao final. Isso dava mais confiança e oportunidade de conhecer mais para ajustar. A prova foi a introdução no GP da Holanda do FD-03, que trazia um bico dianteiro mais convencional, mudanças na suspensão dianteira e na posição de pilotagem.

Nesta altura, o Fittipaldi conseguia andar um pouco mais no ritmo e até o final, o que era importante. Mas faltava sorte algumas vezes. Por exemplo: Em Silverstone, no meio da mudança total de tempo, Wilsinho foi um dos envolvidos no festival de batidas. Na Áustria, quando conseguiu a melhor colocação em treinos (20º entre 26), perdeu o controle no treino e fraturou o punho, não participando da prova.

Como não haveria tempo para recuperação para participar do GP da Itália, surgiu o primeiro não-brasileiro a pilotar para a Fittipaldi: o italiano Arturo Merzario. “Little Art” alinhou o carro prata em Monza. Classificou na última posição e vinha em uma tocada bem razoável (fez a 19ª volta mais rápida da prova), inclusive ocupando a 10ª posição na 17ª volta (se aproveitando de vários incidentes). Mas parou no box achando que tinha um problema e ficou para trás, terminando em 11º lugar.

Foto: Reprodução/ Twitter/ Wilson Fittipaldi (Copersucar Fittipaldi 1975)

A esta altura, Ricardo Divilla já trabalhava naquele que seria o carro de 1976 da equipe, o FD-04. Com base no aprendizado do ano e considerando o novo regulamento que entraria em vigor a partir do GP da Espanha, optou-se por uma abordagem mais convencional. Em entrevista à Quatro Rodas, na edição de janeiro de 1980, Emerson disse que quando viu os desenhos do que seria aquele carro, indo para o GP dos EUA, falou “Nessa barata eu gostaria de andar…”

Mas havia o último GP do ano, dos Estados Unidos, em Watkins Glen. Wilsinho retomou o volante e conseguiu o melhor resultado do ano, um 10º lugar. Era o final da primeira temporada da equipe brasileira.

Olhando em perspectiva, não se pode dizer que foi ruim. Afinal, fazer um Fórmula 1 andar de primeira não é comum. E a equipe encarava desafios técnicos e logísticos, pois a base ficava no Brasil e parte da operação ficava na Inglaterra. Muita burocracia teve que ser trabalhada para que as coisas fluíssem. Mas a perspectiva era positiva e se olhava para 1976 com muita esperança.

No próximo capítulo, falaremos da temporada de 1976. Aparecem dois nomes de peso do automobilismo nacional, sendo que um deles marca de forma decisiva os rumos do projeto.

 

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