O texto faz parte da série “A Saga da Equipe Fittipaldi na Fórmula 1”, com 9 capítulos contando a história da equipe brasileira montada pelos irmãos Wilson e Emerson Fittipaldi. A partir de quarta-feira (15), acompanhe diariamente os novos capítulos no site da F1Mania.net
Vamos ao terceiro capítulo da equipe Fittipaldi, abordando a temporada de 1976, que seria a segunda do time.
Para falar do que foi o 76 da Fittipaldi, é preciso voltar para 75. Dois personagens enormes do automobilismo brasileiro aparecem no cenário: Emerson Fittipaldi e Ingo Hoffmann.
Em meados de 1975, o então bicampeão vinha em negociações com a McLaren para renovar seu contrato. Emerson queria um aumento de salário com relação ao que recebia (cerca de US$ 500 mil/ano) e Teddy Mayer, um dos diretores da equipe, vinha fazendo jogo duro. A situação caminhava para um impasse, pois nenhuma das partes cedia. E Emerson veio a saber que Mayer fez um acordo com outros chefes de equipe para que ninguém apresentasse uma proposta para o brasileiro, para que ficasse sem opção e renovasse.
Só que uma ação mudou o curso da história…
Quando da renovação do contrato de patrocínio com a equipe para 1976, o presidente da Copersucar, Wolney Atalla, perguntou a Wilsinho como estava a situação de Emerson. Diante da resposta de que estava livre, Atalla perguntou qual era o salário. Wilsinho respondeu: 500 mil dólares por ano. De bate pronto, respondeu: nós pagamos. Fale com ele.
Isso abria um novo horizonte. A programação original era que Wilsinho pilotaria mais 2 ou 3 temporadas e Emerson viria em um outro momento, com a equipe mais estruturada. Com esta situação, tudo mudaria.
Em conversa telefônica, Wilsinho fala com Emerson e ele diz que aceitava na hora. Cauteloso, Wilsinho pediu ao irmão que avaliasse melhor o quadro e pensasse melhor. Dois dias depois, Emerson confirmava que aceitava. Em 22 de novembro de 1975, veio o anúncio oficial: Emerson Fittipaldi seria piloto da Copersucar-Fittipaldi.
O segundo nome que apareceu no caminho foi o de Ingo Hoffmann. Naquele momento, o brasileiro vinha em uma carreira fulminante, ganhando os campeonatos de Divisão 1 e 3 e da SuperVê. Naquele ano de 1975, vinha para a Inglaterra tentar a sorte na Fórmula 3 local. Na cara e na coragem, em um esquema independente, mas contando com um apoio dos Fittipaldi, Ingo conseguiu um sexto lugar no campeonato inglês e se posicionou para aspirar uma vaga na equipe. Alex Dias Ribeiro, que também estava na F3 Inglesa, estava na sua frente até mesmo pela sua experiência.
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Ao final do campeonato de F3, Ingo, atendendo a um pedido de Wilsinho, fez quatro provas de F5000, uma categoria “genérica” da F1, que tinha carros bem semelhantes. A intenção era que pegasse mais experiência com carros mais potentes. Não fez feio. E teve a sua chance.
Em 28 de outubro de 1975, Ingo Hoffmann entrava na pista de Silverstone com o FD-03. Aos poucos, pegou mão da coisa e fez um tempo quase igual ao de Wilsinho na classificação alguns meses antes. Um novo teste foi marcado para a semana seguinte, com a presença de Emerson. Ingo se sentiu mais à vontade e marcou um tempo que o colocaria na 19ª posição do GP da Inglaterra.
Resultado: Alex nem seria testado e Ingo seria o segundo piloto da Fittipaldi, com um contrato de 4 temporadas de duração.
No dia 24 de novembro de 1975, houve um evento onde a dupla foi apresentada. E dia 16 de dezembro, o carro foi oficialmente apresentado. O FD-04 era muito diferente de seus antecessores: mais convencional e cerca de 70kg mais leve, o deixando mais próximo do limite mínimo do regulamento e já pensando nas novas regras a partir do GP da Espanha.
Os primeiros testes foram feitos por Emerson em Interlagos e foram muito positivos. O carro aparentemente funcionou bem desde o início e tinha poucos problemas de juventude. Parecia que a equipe tinha aprendido bem com a temporada anterior. Wilsinho agora ficava somente como administrador.
Com a vinda de Emerson, a pressão aumentava demais. Tirando a imprensa especializada, muita gente falava em vitórias para o carro brasileiro. E essa impressão aumentou mais quando o FD-04 disputou em pé de igualdade com Ferrari e McLaren os melhores tempos dos treinos no GP do Brasil. A 5ª posição era algo que deixava o público em polvorosa. Afinal, como diziam os diversos outdoors espalhados por São Paulo, Emerson havia optado pelo Brasil.
Só que as esperanças acabaram logo após a largada. Com um problema de alimentação por conta de uma peça de menos de 5 dólares, Emerson foi ficando para trás e acabou em uma longínqua 13ª posição. Ingo andou com o velho FD-03 e numa postura cautelosa, acabou chegando ainda à frente do “patrão”, em 11º lugar.
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Na África do Sul, somente Emerson alinhou. E a situação real começou a aparecer: alinhou em 21º lugar e numa corrida estratégica, foi ganhando posição até chegar ao 9º lugar. Mas faltando 8 voltas para o final, o motor quebrou. Mesmo assim, ainda entrou na qualificação final em 17º.
Para o GP dos EUA Leste, estreando a pista de rua de Long Beach, Ingo Hoffmann reapareceria com o segundo FD-04. Pilotando o carro como um kart, Emerson conseguiu às duras penas classificar em 16º (entre 20). Com um carro que não tinha feito nenhum metro e cheio de problemas, Ingo marcou o 22º, apenas a 3 décimos do último colocado, não obtendo a classificação para a prova.
No domingo, tudo parecia dar errado. Insatisfeito com o desempenho, mudou o acerto do carro e as coisas pareciam melhores. Mas ao ficar preso em um acidente na terceira volta, Emerson caiu para a penúltima colocação. Em uma atuação estratégica, fui subindo na classificação. E o carro começou a render bem no meio da prova (marcou a 7ª melhor volta da corrida), conseguindo chegar ao 7º lugar. Como Jean Pierre Jarier veio enfrentando problemas com o câmbio, conseguiu tirar a diferença e assumiu a sexta posição faltando duas voltas para o fim. Era o primeiro ponto da equipe.
Após um fim de semana terrível na Espanha, onde o novo regulamento começou a valer, Ingo não conseguiu se classificar, mais uma vez, após enfrentar inúmeros problemas e Emerson abandona após 3 voltas. No GP seguinte, na Bélgica, somente Emerson seria inscrito e teve o dissabor de não conseguir se classificar. Sofrendo com pouco equilíbrio do carro, tentou de tudo mais ficou a 4 centésimos. Ainda tentou reclamar na cronometragem, pois várias equipes haviam marcado um tempo melhor para ele, mas a direção de prova não aceitou.
Isso detonou um processo de pressão na equipe. Ricardo Divila ficou focado em buscar melhorias para o carro e muita coisa seria mexida. Na corrida seguinte, Monaco, Emerson deu mais um show. Até o último momento dos treinos fora dos 20 classificados para a prova, faz uma volta demoníaca e coloca o FD-04 na sétima colocação do grid. No dia seguinte, segura Jacques Laffite e Hans Stuck e consegue mais um ponto, chegando na sexta colocação.
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A esta altura, a pressão era grande. Ingo já disputava a temporada de F2, com o apoio de alguns patrocinadores obtidos com a ajuda de Emerson e esperava ter novas chances com o carro, o que aconteceu na França. Mais uma vez uma série de modificações foram feitas e não deram resultado; Ingo mais uma vez não se classificava para a corrida e não voltaria mais no resto do ano. Mas ele continuaria nos planos e voltaria quando possível.
Na Inglaterra, mais modificações foram feitas e o carro melhorou um pouco. Emerson conseguira mais um ponto graças a desclassificação de James Hunt. Mas se definiu que Divila precisava de ajuda. Foi trazido Maurice Phillipe, ex-Lotus, como consultor para avaliar o FD-04, como também o mecânico Dave Luff (ex-Lotus) e foi anunciada a contratação de David Baldwin, que havia projetado o Ensign N176 e vinha fazendo um bom papel naquele ano. Divila ainda continuaria na equipe, mas não tendo a responsabilidade final sobre o carro. A esta altura, a Fittipaldi já era um time com 30 pessoas, divididas entre São Paulo e Inglaterra.
A partir de então, acabou sendo uma série de problemas. Emerson conseguia levar o carro até o meio do grid, mas era motor quebrando, ignição dando problemas…Maurice Phillppe sugere uma série de mudanças, começando pela parte de alimentação e lubrificação. Alguma melhora é percebida, mas não se traduzindo em melhoria efetiva na pista.
Assim terminava o segundo ano da Fittipaldi. 3 pontos, 11º lugar no campeonato de construtores e muita pressão por parte da imprensa e público brasileiro, que queria ver o seu campeão vencendo em um carro nacional. A Copersucar renovava o patrocínio por mais um ano e a esperança continuava. Vamos à 1977.
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