Categoria: F1
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18 de abril de 2020 12:44

A Saga da Equipe Fittipaldi na Fórmula 1: Capítulo V – 1978

O texto faz parte da série “A Saga da Equipe Fittipaldi na Fórmula 1”, com 9 capítulos contando a história da equipe brasileira montada pelos irmãos Wilson e Emerson Fittipaldi. A partir de quarta-feira (15), acompanhe diariamente os novos capítulos no site da F1Mania.net

Vamos ao quinto capítulo da história da equipe Fittipaldi. Esta parte abrange o ano em que talvez tenha sido a melhor temporada do time: 1978.

1977 tinha sido muito turbulento. E os Fittipaldi deram movimentações para melhorar as coisas. A renovação do contrato com a Copersucar demorou mais saiu, garantindo mais 2 temporadas. Jo Ramirez saiu da equipe e veio Peter McIntosh, que trabalhava para a Associação dos Construtores (embrião da FOCA). A cereja do bolo foi a contratação de Ralph Bellamy para fazer um carro novo. Bellamy foi um dos responsáveis pela introdução efetiva do efeito solo na Lotus e marcou a volta da equipe inglesa aos primeiros lugares. Trazendo para os dias de hoje, seria algo como a Haas contratasse o Diretor Técnico da Mercedes.

Para a temporada de 1978, os Fittipaldi resolveram aproveitar o F5. Afinal, um investimento grande havia sido feito e não se tinha certeza se o carro era competitivo ou não, pois se mexeu muito em suspensões e o motor era tido como problema (ver o texto de 1977). No contato com a italiana Novamotor, que passou a fazer as revisões dos Cosworth, apareceu em cena uma outra empresa italiana: o Studio Fly, consultoria montada por dois ex-técnicos da Ferrari: Luigi Marmilioli e Giacomo Caliri.

Os italianos trabalharam no F5, aproveitando o monocoque existente e já introduzindo um pouco do efeito solo no carro, com o reposicionamento dos radiadores de óleo para frente do carro. Um novo pacote aerodinâmico foi concebido com a ajuda da Embraer, bem como uma série de modificações. Surgia assim o F5A.

Os primeiros treinos foram feitos na Inglaterra e na França. Mais uma vez, boas impressões e o objetivo era conseguir andar entre os 10 primeiros. No dia 15 de janeiro, a temporada começou na Argentina. A classificação ficou no meio do grid e terminou em 9º lugar, uma volta atrás do vencedor Mario Andretti. Mesmo assim, o otimismo estava presente.

A próxima etapa era no Brasil, mas em casa diferente: após tudo que aconteceu no ano anterior, não houve acordo para a reforma de Interlagos e a prova foi transferida para o recém-inaugurado Autódromo de Jacarepaguá.

Foto: Reprodução/ Twitter/ Largada GP do Brasil 1978

Como era habitual, a equipe trazia todo sua estrutura para a corrida. Vários mecânicos e dois carros novos. E por coincidência ou não, o F5A se encontrou em terras cariocas. No treino extra de reconhecimento, Emerson conseguia fazer o 4º melhor tempo. Na sexta, contando com o apoio de pneus especiais da Good Year, Emerson conseguia fazer mais e fechava o primeiro dia de treinos na 3ª posição.

Isso serviu para reacender no público a chama de ver um bom resultado da equipe brasileira. E a pergunta se fazia: conseguiria Emerson vencer em casa com seu próprio carro???

No sábado, no calor habitual do verão, a equipe fez algo que normalmente não era habitual: focou nos acertos de corrida. E no final do treino, um susto: o F5A teve uma quebra do semieixo traseiro. Ao ficar parado quase na entrada do box, Emerson pediu para que o carro fosse empurrado pelos fiscais, o que era proibido pelo regulamento proibia durante a corrida, mas não era claro em relação aos treinos. Consultada, a Direção de Prova não permitiu e uma confusão se criou, com direito a Emerson perdendo o controle e inclusive batendo em um fiscal.

No fim, a equipe não conseguiu consertar o carro a tempo do treino decisivo e Emerson não pode melhorar seu tempo. Com a marca obtida na sexta, caiu para a 7ª posição, o que não poderia ser considerado ruim. Além disso, Emerson foi multado em US$ 2,5 mil por ter batido no fiscal, que posteriormente aceitou as desculpas do campeão.

Domingo, dia 29 de janeiro. Jacarepaguá recebia um público de 60 mil pessoas sob um sol escaldante. A ansiedade tomava conta de todos e um bom resultado era esperado. O Warm Up mostrou que o carro estava muito bom. Mas os acontecimentos…

Foto: Reprodução/ Twitter/ Emerson Fittipaldi (Copersucar) GP do Brasil 1978

Quando se preparava para sair para a volta de alinhamento, o susto: o arranque do F5A titular quebrou. Não havia tempo para consertar. A solução? Usar o F5A reserva. Este chassi não tinha andado um metro, mas todos os acertos feitos no titular foram passados para ele. A sorte estava lançada.

Emerson saiu para o alinhamento e todos no box da Fittipaldi ficaram apreensivos. O alívio só veio quando o carro 14 parou na posição e o piloto disse a Wilsinho: fica tranquilo. Este carro está tão bom quanto o outro.

A prova veio quando Emerson conseguiu pular logo na largada para o 5º lugar. E ficou claro que não era um acaso. O F5A conseguia acompanhar o ritmo dos ponteiros e impressionou quando pegou o vácuo da Lotus de Ronnie Peterson e o ultrapassou na reta, na frente das arquibancadas, assumindo a terceira posição (um pouco antes, Villeneuve e Hunt tiveram problemas).

Já era a melhor posição da equipe até então. Mas Emerson lutava com o calor, já que o esquema feito para hidratação falhou desde a terceira volta e os pneus começavam a apresentar bolhas. Só que a situação parecia sob controle: Lauda estava a uma distância segura e Andretti parecia controlar bem a segunda posição. Na frente, Carlos Reutemann sobrava com a Ferrari.

Quando parecia não acontecer mais nada…Na volta 53, Mario Andretti começou a ter problemas de câmbio e a diferença que havia se estabilizado na casa dos 9 segundos começou a cair rapidamente. Até que na volta 56, para delírio dos presentes, Emerson passa Andretti e assume o segundo lugar.

A partir daí, a festa começou em Jacarepaguá. E Emerson teve uma tensão até o final, pois os pesos de balanceamento do pneu dianteiro caíram e iniciou uma grande vibração, quase os deixando na lona. Mas quando recebeu a bandeirada, um grande carnaval começou: Wilsinho fumando charuto, Maria Helena (esposa de Emerson) desmaiando e os irmãos Fittipaldi chorando como crianças, comemorando o segundo lugar como uma vitória.

Foto: Reprodução/ Twitter/ Emerson Fittipaldi (Copersucar) GP do Brasil 1978

A sorte de Jacarepaguá não sorriu na África do Sul, a corrida seguinte: com nove voltas, o câmbio quebrou. Mas o desenvolvimento continuava: um dos objetivos era “emagrecer” o carro, pois as alterações feitas no F5 para transformá-lo em F5A adicionaram cerca de 40kg. 15 dias depois, debaixo de um aguaceiro em Silverstone, Emerson consegue um segundo lugar na Corrida dos Campeões (extracampeonato). O vencedor foi um certo finlandês Keke Rosberg.

Nas corridas seguintes, Emerson conseguiu colocar o carro no meio do grid, mas não marcou pontos. Entretanto, notava-se que o desempenho do carro havia melhorado e que já andava consistentemente no pelotão. Deixava para trás equipes como a Renault e a McLaren.

No GP da Suécia, a equipe traz o primeiro pacote de “emagrecimento” do carro, feito por Bellamy e Divila, já que o Studio Fly havia sido contratado para trabalhar no projeto F1 da Alfa Romeo. Coincidentemente, Emerson conseguiu classificar em 13º e obteve um ótimo 6º lugar. O bom desempenho também foi repetido na França, no rapidíssimo Paul Ricard: o carro andava em 8º, mas a suspensão quebrou faltando 10 voltas.

Para a Inglaterra, mais modificações e o carro chegava à casa dos 600kg, com o uso de metais nobres. Larga em 11º e briga boa parte da prova com Patrick Depailler (Tyrrell) e John Watson (McLaren), até parar com o motor quebrado. Para se ter ideia, Depailler e Watson chegaram em terceiro e quarto lugar, respectivamente…

A equipe Fittipaldi começava a mostrar consistência e aquele carro amarelo já era mais levado à sério. Emerson mostrava que não estava acabado e que o segundo lugar no Brasil não foi um acaso.

E para ajudar a confirmar, Emerson faz duas provas sensacionais: na Alemanha, consegue chegar em 4º, ultrapassando Didier Pironi (Tyrrell) faltando 10 voltas para o final. Na Áustria, se classifica em 6º nos treinos e na corrida faz uma corrida de recuperação em um tempo alternante entre chuva e sol, obtendo um 5º lugar.

Os bons resultados começaram a dar frutos: a Good Year liberou jogos de pneus melhores e a organização passou a chamar a Copersucar para participar das tomadas promocionais.

No fatídico GP de Monza, onde Ronnie Peterson perdeu a vida, Emerson faz uma de suas melhores corridas na F1 em sua opinião. Após ajudar no salvamento do sueco, caiu para o último lugar na relargada e termina em 8º, fazendo a 7ª volta mais rápida da prova.

Foto: Reprodução/ Twitter/ Acidente fatal de Ronnie Peterson – GP da Itália 1978

A temporada terminava na América do Norte. Inicialmente em Watkins Glen. Emerson se classifica em 13º, mas caiu para a penúltima colocação na largada. Confiante no carro, faz uma bela recuperação e obtém a 5ª posição, chegando a 3 segundos do 4º, Jean-Pierre Jabouille (Renault). E no Canadá, talvez a chance mais próxima do que a Fittipaldi chegou a uma vitória: Conseguiu classificar em 6º e foi abalroado por Hans Stuck pouco depois da largada…

O ano terminava melhor do que a encomenda. 14 pontos e o 7º lugar no campeonato de Construtores, à frente de McLaren e Renault. A confiança era retomada e o trabalho feito até então dava resultado. As perspectivas para 1979 era promissoras, pois um carro absolutamente novo estava sendo feito, já incorporando efetivamente o efeito solo, que era o caminho a ser seguido para vencer na F1. O sol parecia brilhar para os Fittipaldi…

 

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