Duas certezas que o fã da F1 tem: aumento do batimento cardíaco na largada e que, pelo menos uma vez no ano, assistirá uma ameaça da Ferrari sair da categoria. A cota anual pareceu ter sido preenchida nesta última quarta-feira, quando o jornal inglês The Guardian publicou matéria com uma entrevista do chefe de equipe Mattia Binotto.
Tendo como pano de fundo a questão do teto orçamentário e as discussões para uma revisão maior de valores sendo reivindicada por algumas equipes, Binotto falou que, diante do quadro, “não gostaríamos de poder examinar outras opções para expressar nosso DNA relacionado ao automobilismo”.
Muita gente (eu incluso) considerou o conteúdo como mais uma daquelas bravatas que os italianos lançam na mesa de tempos em tempos. Posteriormente, a Ferrari lançou um esclarecimento em relação à matéria, dizendo que, caso o teto orçamentário fosse mais reduzido, haveria espaço para que novos programas esportivos fossem incorporados, como a Indycar e o WEC, sem deixar a F1.
Se a análise fosse feita simplesmente por um aspecto mercantilista, a Ferrari hoje poderia sim deixar a F1. O trabalho de marketing feito ao longo dos últimos anos e a excelência de gestão administrativa fazem a marca italiana chegar a um ponto extremo de sucesso: é uma das marcas mais reconhecidas e valorizadas do mundo e depois da cisão do grupo FCA e o lançamento de ações em bolsa, seu valor de mercado extrapola os US$ 25 bilhões, tem receitas na casa dos US$ 3 bilhões e apresenta lucros ano após ano.
Se pegarmos os orçamentos estimados e os custos declarados no balanço, o programa de F1 responderia por menos de 20% dos gastos da empresa. Olhando simplesmente números frios, a categoria não faria tanta falta.
Mas dentro da construção da marca Ferrari, a competição está no DNA. E mesmo com todo o cosmopolitismo, é uma empresa italiana. Sua história está totalmente envolvida com a F1, embora tenha muita história em outras áreas, como as vitórias em Le Mans, e os carros de rua começaram a ser construídos para poder financiar a atividade nas pistas. Dentro da narrativa criada, uma possível saída seria uma grande ruptura.
Sem contar que, se a Ferrari entrasse em outras áreas, não seria positivo? Com a entrada firme da FIAT nos anos 70, as atividades foram focadas na F1. Houve a ameaça Indy nos anos 80 e ficou por aí. Nos anos 90, tivemos a retomada de ações em outras categorias, como a “terceirização” no IMSA com a Dallara e a fabricação da 2ª geração dos carros da A1GP. Hoje, a Ferrari atua firme com os GTs nos Endurances.
A ampliação da atuação da Ferrari também é algo que aparece. Quando anunciadas as novas regras do WEC, os italianos foram logo vinculados, o que não se concretizou. Também se falou em um programa de Fórmula Indy (o que faria sentido, pois os EUA são o principal mercado de vendas), o que esquentou com a participação de uma equipe com o apoio do importador americano nas 500 Milhas de Indianápolis. Mas ficou nisso até agora.
Uma ampliação de escopo seria extremamente bem-vinda. Se seria concretizada, seria outro esquema. Mas ajudaria a não perder mão de obra, em sua maioria voltada para a F1. Estima-se que a “Gestione Sportiva” teria hoje cerca de 1.200 funcionários e com grandes investimentos em curso (está em fase final de montagem um novo simulador, por exemplo). Com a redução do teto, demissões certamente aconteceriam. Se novos programas fossem iniciados, esta equipe seria remanejada e o corte bem menor. Não esquecendo que a Ferrari teve um febril programa de corridas, que envolvia F1, F2 e Endurance.
De qualquer forma, a entrevista e o “esclarecimento” não deixam de ser uma forma de pressão da Ferrari. Até agora, ela não usou o seu poder de veto e se mostra “compreensiva” com a situação criada. Ela quer manter o seu status, sabe da sua importância e, lá no fundo, tem a consciência que terá de ceder mais, pois não passará ilesa perante a desaceleração econômica mundial gerada pelo COVID-19.
O cabo de guerra já faz parte do cenário. A valsa entre F1 e Ferrari continua pelo salão e os dois sabem que seus destinos estão ligados (hoje a F1 depende mais dos italianos do que o contrário). É aquela briga que nós sabemos como funcionam e nos divertimos mesmo assim.
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