Coronavírus e o GP da China: palavra de ordem na F1 é “remanejamento”

O fã de F1 vem acompanhando a novela do GP da China. Tem ou não tem? Por conta disso, muita informação desencontrada vem sendo passada por vários veículos. Cabe aqui tentar colocar alguma ordem no que acontece….

Cancelar uma prova por motivos sem ser por motivos organizacionais (dinheiro e/ou segurança) ou politicagem da categoria não é algo novo na F1. Em 1956, por conta da crise do fechamento do Canal de Suez pelo Egito e os conflitos na região, os preços da gasolina aumentaram e os GPs da Holanda e Espanha foram cancelados. O último GP não realizado foi o do Bahrein em 2011, por conta dos fortes protestos internos, na esteira do que se chamou de “Primavera Árabe”.

Voltemos ao caso chinês. Desde o início da epidemia de coronavírus, a situação vem sendo observada de perto pela FIA. Em janeiro, houve um indício de cancelamento por parte do Automóvel Clube Chinês, que não se confirmou. Entretanto, abriu caminho para o cancelamento de uma etapa do campeonato chinês de rali. Posteriormente, houve a suspensão do ePrix de Sanya da F-E, marcado para 21/03.

Esta semana, mais exatamente no dia 3, o Departamento de Esportes de Xangai liberou uma resolução suspendendo todos dos eventos e atividades esportivas na região até que a situação se estabilize. Esta ação desencadeou uma série de publicações dando o GP como cancelado (o circuito fica nesta região).

 

Cabe esclarecer:

1) Quem cancela GP é o organizador ou a FIA, em conjunto com a F1. Claro que o contexto geral é considerado, mas uma certa dança neste aspecto: A Liberty Media (dona da F1) aguarda o organizador dizer que não tem condições (este tem até 7 semanas antes da prova para dar um ok). Neste caso, não há prejuízo para os americanos. Mas caso eles decretem que não haverá corrida, o dinheiro será devolvido e se tem uma coisa que a Liberty não quer ouvir agora é em perda de receita….

2) Por este motivo, se evita falar em cancelamento. As palavras de ordem agora são “postergação” ou “remanejamento”. Ross Brawn, o diretor esportivo da F1, em entrevista a alguns meios de comunicação, deixou claro que a China é um mercado prioritário e o objetivo é fazer a prova ainda este ano;

3) A não realização do GP da China em abril abre um espaço no calendário. Como até exposto em matéria na Motorsport de hoje (6), esta prova é tratada com cuidado pois os trâmites alfandegários chineses são complexos. E ainda haveria o GP do Vietnã (que também está sob observação) e a F1 tem uma política de dar mais tempo aos locais novos justamente pelos aspectos de entrada e saída de pessoas e equipamentos;

4) Em tese, haveria espaço para a realização da prova chinesa após a Hungria ou no espaço entre Brasil e Abu Dhabi. Mas de acordo com a alemã Auto Motor und Sport, as equipes rechaçaram estas possibilidades na reunião do Grupo de Estratégia acontecida na última quarta. Os times temem o excesso de trabalho e ainda mais um deslocamento em um período crítico do desenvolvimento dos carros de 2021, que demandarão mais trabalho.

5) Uma possibilidade que toma corpo é a mudança de data de Abu Dhabi, levando o campeonato a encerrar mais uma vez em dezembro. Os árabes ainda não foram consultados oficialmente até onde se saiba.

Este quebra-cabeça é complexo e vários ovos serão quebrados para fazer esta omelete. Tudo indica que não teremos este GP realizado na data prevista e se fará de um tudo para realocá-lo, de modo minimizar o prejuízo. E conhecendo as equipes, a Liberty terá que abrir os bolsos para acalmá-las. Na F1, dinheiro é um santo calmante e o Dr. Bernie Ecclestone sabia muito bem usar este medicamento.

Esta é uma coluna do jornalista Sérgio Milani, não necessariamente representa a visão da F1Mania.

 

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