Departamento de Performance da Ferrari: um passo para uma mudança ainda maior?

Após as duras palavras de Mattia Binotto no GP da Hungria, onde até se falou em “coragem para mudar”, a Ferrari anunciou nesta quarta-feira (22) uma reestruturação em seu departamento técnico. Já se comentava alguma mudança no ano passado, mas o início claudicante neste ano acabou tornando a interferência necessária. Até mesmo para mostrar que há alguma movimentação para dar uma satisfação.

O anúncio da criação de um Departamento de Desenvolvimento de Performance é visto como algo mais cosmético do que efetivo. De certa forma, esta área já existia na estrutura da Ferrari e vinha sendo reforçada nos últimos tempos. Parece um daqueles anúncios governamentais que criam novos órgãos e não adianta nada.  Só que a situação acaba sendo mais ampla do que aparenta.

A decisão acaba por ser um passo para uma mudança organizacional na Ferrari e marca o abandono formal da estratégia instituída em 2014 quando Sergio Marchionne assumiu a presidência da empresa e implantou duas políticas: uma Ferrari feita por italianos e a chamada Estrutura Horizontal (setores no mesmo nível).

Neste primeiro momento, a visão feita é: nosso problema não está nas pessoas, mas sim na gestão. Tanto que foi anunciado que Enrico Cardile, atual responsável pela parte aerodinâmica, será o capitão deste “novo” setor, que tem por objetivo acelerar o desenvolvimento do carro e mudar métodos de trabalho.

Não deixa de ser uma valorização de Mattia Binotto à frente do time. No ano passado, ele dizia que a equipe criava um novo ciclo de pessoas e de trabalho. E alguns especialistas diziam que a Ferrari precisava de estabilidade para conseguir progredir, tal como fez a Mercedes. Os italianos já haviam feito isso no passado próximo, quando bancaram a permanência de Jean Todt, que demorou para ter resultados.

Mas cabe observar que não é uma confiança irrestrita. Um nome chamou a atenção no release encaminhado: Rory Byrne. O sul-africano estava no ostracismo após ter tido participação no desenvolvimento do SF70H de 2017. Já na época, ele desempenhava um papel de consultor desde quando deixou o dia-a-dia das corridas em 2006. E “salvou” a Ferrari em 2009 e 2012.

Byrne foi um dos cérebros da fase de ouro da Ferrari, quando veio em 97 junto com Ross Brawn. Mas já tinha mostrado seu valor na Toleman (78, ainda na F2, até 85) e na Benetton (onde ficou de 86 a 96, com um pequeno hiato entre 90 e 91). Um técnico inventivo, mas com soluções práticas. Sua reaparição mostra uma possível interferência de Louis Camilleri, CEO, e – principalmente, John Elkaan, Presidente do Conselho de Administração e Presidente da Exor, holding que toma conta dos interesses da família Agnelli e maior acionista individual da empresa. Elkaan é um discípulo de Marchionne e tenta mostrar que pode criar vida própria (foi um dos arquitetos da fusão FCA X PSA). A Ferrari era um dos orgulhos de seu avô, Gianni Agnelli, e de seu mestre.

Agora, a Ferrari tem uma estrutura mais semelhante a seus concorrentes. É mais uma tentativa de se posicionar para disputar 2022. Este ano tem que ser tratado como um laboratório, já que o SF1000 continuará em uso e a margem de manobra não será muito grande por conta das regras que limitam o desenvolvimento. Sem contar as dificuldades com o motor, cuja diferença para a Mercedes é estimada em 50cv.

Este deve ser o início de mais movimentações. A boataria corre solta, inclusive cogitando a tentativa de contratação de Andy Cowell, o responsável pelo desenvolvimento da Unidades de Potência da Mercedes nos últimos anos. De fato, só mesmo a inauguração do novo simulador e a encaminhada recalibração do túnel de vento de Maranello (seria a terceira em um espaço de 5 anos).

A Ferrari se movimenta e ainda valoriza o seu grupo. É uma política típica de livro de RH e pode sim gerar resultados positivos. Se é o correto, só o tempo dirá.

 

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