É possível comparar Lewis Hamilton com Ayrton Senna?

F1Mania.net/LANCE faz uma análise das semelhanças e diferenças entre o pentacampeão da F-1 que tem o brasileiro como grande ídolo e mentor

O esporte é feito de competição e, portanto, comparações são parte importante para explicar porque somos tão fascinados por ele. Quem nunca se imaginou na F-1 como seria um embate na mesma pista e com as mesmas condições entre pilotos de diferentes épocas, como Juan Manuel Fangio, Jim Clark, Jackie Stewart, Ayrton Senna, Michael Schumacher e, agora mais recentemente, Lewis Hamilton?

Portanto, a primeira importante análise a ser feita é que comparações não são nenhuma “heresia” a qualquer um destes ídolos. Até porque são inerentes aos fãs que veneram qualquer modalidade: quando Senna chegou na F-1, sua impressionante velocidade desde os tempos de estreante e sua incrível capacidade de fazer poles era logo comparada a Clark. Quando Alain Prost bateu o que parecia insuperável recorde de vitórias de Stewart (27, vejam só!), as comparações também foram inevitáveis…

Então, é natural que o nome Hamilton seja associado ao de Senna desde a impressionante chegada do piloto na McLaren em 2007. Quebrando um tabu histórico (o inglês é o primeiro piloto negro a chegar na categoria, que tem um histórico de rara inclusão social e racial), Lewis sempre deixou claro que seu ídolo não era um piloto britânico, e sim um brasileiro.

Uma passagem interessante aconteceu com este repórter em 2006, quando Hamilton era ainda piloto da antiga GP2 e já reserva da McLaren. Como rival naquele ano de Nelsinho Piquet, também na categoria de base, era interessante ouvir as histórias daquela jovem promessa inglesa e logo fui atrás de uma entrevista com ele no GP da Espanha, um dos primeiros do ano da categoria de acesso da F-1.

Sem a quantidade desproporcional de assessores que Hamilton tem hoje (basta ver a dimensão de um evento no hotel de SP neste ano de um de seus patrocinadores, a Petronas), vi o piloto no paddock da GP2 e perguntei diretamente a ele se poderia atender a reportagem de uma revista brasileira.

A resposta não apenas foi positiva quanto ainda demostrou uma grande alegria e surpresa, como mostrou sua resposta: “Claro, eu amo o Brasil, meu grande ídolo é Ayrton Senna”- e já emendou a conversa imediatamente, dando uma longa entrevista exclusiva que hoje teria que ser feita pedindo 10 vias registradas em cartório e com autorização do Papa.

Ainda assim, mesmo com todo o exército que o cerca, o carisma de Hamilton também tem parte na explicação de suas comparações com Senna, que também sempre foi visto por seu público como um grande herói – afinal de contas, ele erguia com orgulho a bandeira brasileira quando nosso País ia bem mal em áreas como política, economia e até no futebol (qualquer semelhança com nossos dias de hoje talvez não sejam mera coincidências…). Hamilton tem grande empatia com o público, algo que outros talvez não tenham conseguido com a mesma quantidade de conquistas (o próprio Schumacher, por exemplo).

Além disso, os números de Hamilton são impressionantes – o alemão também alcançou o recorde de poles de Senna, mas Hamilton o faz com uma velocidade incrível. Tanto que sua legitima emoção ao receber o capacete de Ayrton como prêmio dado pela família do piloto ajudou a fortalecer ainda mais o elo entre os dois gênios do esporte.

Elo que Hamilton disse, nesta mesma entrevista em São Paulo, que chega a ser “um pouco estranho”. “Toda vez sinto a presença de Ayrton quando estou no Brasil”, diz Hamilton, que também já citou o brasileiro como seu mentor em provas difíceis em sua carreira, como na importante vitória na chuva em Cingapura. “Era como se ele estivesse comigo no carro”.

Por fim, o inglês faz questão de dizer que seus números são como uma sequência da carreira de Senna, que teve a carreira abreviada pela tragédia em Ímola há 24 anos. “Ele teria conseguido feitos incríveis: sete títulos facilmente”, disse… Assim como as comparações, os “se” também são fascinantes no esporte. E se até mesmo Hamilton se permite sonhar com os números, os torcedores também podem se deliciar pensando nos cenários.

Uma coisa é certa: não há comparações com Ayrton Senna. Seja na pista ou foras delas – cada um tem sua história única, ainda que os dois tenham qualidades muito parecidas, como impressionante velocidade em classificação, desempenho extraordinário na chuva e em circuitos de rua, estilo ousado em ultrapassagens…

E certamente, de onde estiver, Senna tem orgulho de ver seu jovem pupilo caminhando a passos largos para quebrar os principais recordes da F-1 – e deixando seu legado nas pistas da F-1 ainda mais eterno.