Nesta quarta-feira, um momento histórico para o automobilismo brasileiro completa 30 anos. A primeira corrida de Fórmula 1 no Autódromo de Interlagos após a reforma que o encurtou e o modernizou faz exatas três décadas. A pista, que vinha sendo utilizada apenas por categorias locais um ano antes e se encontrava em um estado quase sucateado, voltou a ter o status de internacional depois da saída da F1 do Rio de Janeiro.
Mas por que a F1 saiu do Rio? Bem, o último ano do mundial no saudoso Autódromo de Jacarepaguá foi bem problemático. Nos testes que antecederam a corrida, o francês Philippe Streiff ficou tetraplégico devido a um acidente no qual o santantônio de sua AGS cedeu em uma capotagem. Ainda assim, o agravamento de seu quadro foi comprovadamente devido ao, segundo a FIA, “desastroso” atendimento que teve no local.
Na corrida, o pequeno e rudimentar paddock da pista já não suportava mais o grande circo da F1, e a falta de organização deu suas caras para o mundo na chegada da prova, quando um fã atravessou a pista na frente da Ferrari do vencedor Nigel Mansell. E, para piorar, quando o britânico recebeu seu troféu, ele ainda acabou de maneira bizarra cortando sua mão com a taça mal feita.
Sem dinheiro para as reformas pedidas há tempos pela F1, a prefeitura do Rio de Janeiro colocou a realização do GP do Brasil em risco para o ano seguinte. Foi aí que a então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, entrou em ação com o plano da reforma de Interlagos.
Em termos de infraestrutura, a pista teve os boxes antigos demolidos para a construção de novos com 23 garagens, além de sala de imprensa, sala de fotógrafos, camarotes, torre de cronometragem e de direção de prova.
Além disso, a pista deu adeus ao desafiador traçado de 7.835 metros, que recebera a F1 pela última vez em 1980, e teve construído um novo de 4.325 metros (que ficou com os atuais 4.309 m após uma reforma em 2000).
Na verdade, o plano original da reforma era que fossem mantidas as velozes curvas 1 e 2 do traçado antigo, entretanto o chefão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, vivendo o auge de sua guerra com a IndyCar, insistiu para que as duas curvas e o anel externo da pista fossem extintos. A versão oficial à época foi de que as curvas não eram seguras o suficiente, mas na verdade Ecclestone morria de medo de que um dia Indy pudesse pensar em correr no anel externo do autódromo paulista. Desta maneira, nasceu o S após a reta dos boxes.
Idealizado por Ayrton Senna, o S recebeu o nome do piloto – apesar de não ter ficado a seu gosto. Senna queria uma curva mais veloz, em quarta marcha, e se chateou ao ver como ficou a nova seção do circuito. Outra ideia de Senna que não foi mantida foi o nome da curva, que ele sugeriu que fosse o “S do Chico Landi”, em referência ao brasileiro piloto de F1 nos anos 1950 que morreu em 1989 – ano das reformas. No fim, ficou como “S do Senna” mesmo.
Com uma parceria com a Shell, a obra não teve custo para o poder público e foi executada em apenas três meses para que fosse aprovada pela FIA.
A corrida
Segunda etapa da temporada de 1990, o GP do Brasil em Interlagos parecia destinado a ser a primeira vitória de Senna em sua terra natal. Depois de envolvido nas reformas e com uma curva levando seu nome, ele cravou a pole position em uma primeira fila da McLaren em Interlagos, com Gerhard Berger em segundo.
Entretanto, vencedor da primeira prova – ocorrida em Phoenix, nos Estados Unidos – Senna sabia que teria oposição forte dos carros da Ferrari. Isso, por que nem Nigel Mansell e nem seu grande rival Alain Prost precisariam tirar a mão do volante para trocar de marchas no ondulado autódromo paulistano em nenhuma das 71 voltas do GP, já que seus carros possuíam o câmbio semiautomático. Eles largavam respectivamente em quinto e sexto lugares, com as Williams de Thierry Boutsen e Riccardo Patrese em terceiro e quarto.
Na largada, um toque entre Jean Alesi – piloto sensação do GP dos EUA – e Patrese acabou tirando Andrea de Cesaris da pista. Ele foi parar na caixa de brita do S do Senna, que continha uma imensa quantidade de terra, já que em alguns pontos dos escapes a grama ainda não havia crescido ou sido plantada. Inclusive, voltas depois Olivier Grouillard ficou atolado na terra com sua Osella após tomar um toque de Michelle Alboreto, da Footwork, na saída da primeira perna do S do Senna.
Lá na frente, Ayrton liderava. Berger havia perdido terreno para o parceiro, sendo ultrapassado por Boutsen e depois por Alain Prost. Este foi o top 3 até a volta 30, quando o belga foi para os boxes, mas errou ao entrar em sua posição para a troca de pneus. Ele quase atropelou os mecânicos da Williams e ainda acertou um pneu com sua asa dianteira, o que o forçou a trocar o bico.
Desta forma, a disputa ficou entre Senna e Prost, com o francês a cerca de 10 segundos do brasileiro. Sabendo que não podia perder tempo, na volta 35 Senna cometeu um erro ao tentar colocar uma volta no japonês Satoru Nakajima, da Tyrrell. O brasileiro mergulhou por dentro no Bico De Pato em um espaço que não existia e destruiu sua asa dianteira. Ele foi para os boxes, trocou a asa dianteira e retornou. A vitória em casa teria que esperar um ano mais.
Com isso, Prost ficou com a prova à sua disposição. Ele resistiu à segunda metade da corrida e venceu à frente de Berger e Senna – que ainda completou o pódio. Em sua sexta vitória no Brasil (até hoje é o recordista de vitórias do GP) e primeira pela Ferrari, o francês não conteve as lágrimas e se emocionou ao ser abraçado pelo chefe Cesare Fiori.
Esta foi a primeira de 30 corridas realizadas ininterruptamente em Interlagos como GP do Brasil de F1. A pista atualmente é a quinta a mais receber provas do campeonato no calendário, perdendo apenas para Monza, Mônaco, Silverstone e Spa-Francorchamps.
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