F1
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12 de novembro de 2017 07:00

‘Eu gostaria de vencer o GP do Brasil’

Longe das pistas há 44 anos, Jackie Stewart brinca sobre possível retorno às pistas em busca de título inédito. Ao LANCE!, o tricampeão mundial ainda analisou o atual momento da Fórmula-1 e relembrou momentos de sua carreira

Por Carolina Alberti

Cabelos brancos, simplicidade e bom humor. Esta é uma boa definição para um dos grandes nomes do automobilismo, Sir Jackie Stewart. Atualmente com 78 anos, o tricampeão mundial mantém seu casamento com a Fórmula-1. Longe das pistas desde os 34 anos, o escocês participa de uma campanha da Heineken (patrocinadora da F-1) de prevenção de embriagues ao volante.

Em entrevista ao LANCE!, Stewart revelou como surgiu a tradição de estourar champanhe no pódio. Além disso, analisou o atual momento da Fórmula-1, contou qual dos pilotos mais o impressiona e falou sobre sua atuação fora das pistas.

Com extremo bom humor, Jackie ainda cogitou um retorno à F-1 para disputar o GP do Brasil, uma prova que nunca venceu e explicou o motivo do sucesso de brasileiros na modalidade. Quanto a ter sua marca em mundiais ser superada por outro britânico, Lewis Hamilton, ele afirma que ‘recordes foram feitos para ser batidos’ e recorda marcas que superou enquanto piloto.

LANCE!: Longe das pistas há 44 anos, olhando para trás, como você avalia a sua carreira?

Jackie Stewart: Foi uma grande carreira. Automobilismo é um grande esporte. No meu caso, o esporte me permitiu ter uma carreira além das pistas. Eu tive a minha companhia, trabalhei na Chandon, fiquei 50 anos com a Rolex. Isso quer dizer que as multinacionais deram a nós pilotos a chance de ter uma carreira depois de parar de correr. No meu caso, foi no mundo corporativo, tendo fortes relações com multinacionais, já que é um esporte global, diferentemente de outros esportes, como o futebol. Automobilismo é elitizado, mas aceitado socialmente, diferentemente de outros esportes. Quando você dirige um Fiat ou uma Ferrari, você ainda é um apaixonado.

L!: Atualmente você participa de uma campanha da Heineken de prevenção a embriaguez ao volante. Como você vê este casamento entre a empresa e a Fórmula-1?

J.S.: É uma grande marca. Heineken e Fórmula-1 estão fazendo um ótimo trabalho ao educar as pessoas a não beber quando dirigir. Para os jovens, este é um grande problema, então combinar a campanha com a Fórmula-1, é uma grande mensagem. Eu nunca bebo se eu estou dirigindo, é algo que não faço. Além disso, eu estive muito envolvido com a questão da segurança dentro do automobilismo. Depois, me envolvi na campanha para o uso do sinto de segurança. O automobilismo é um grande meio para difundir isso. O automobilismo, às vezes, é perigoso, mas se você usar o cinto de segurança estará seguro. Então, “se for dirigir, não beba”, é uma lição que deve ser levada e acho que a melhor forma de fazer isso é através de uma companhia global. Estou muito feliz em fazer parte disso, porque eu tenho uma reputação quanto a segurança.

L!: Na sua opinião, a Fórmula-1, atualmente, é um esporte seguro?

J.S.: A Fórmula-1 é o ápice do automobilismo no mundo. É colorida, glamorosa e empolgante, mas também perigosa. No verso do ingresso está escrito ‘Automobilismo é perigoso’. Pessoas não querem ver mortes, mas elas querem ver acidentes, por exemplo, quando alguém comete um erro e precisa trocar alguma parte do carro ou parar no pit-stop. As pessoas gostam de ver acidentes, mas não gostam de ver mortes. Morte é feio. Eu vi muitas mortes. Grande parte dos meus amigos morreu. Minha mulher e eu contamos 57 pessoas próximas a nós que morreram no período que eu corria. Foi um período ruim. Atualmente, nós mudamos isso. O esporte hoje é muito seguro, temos barreira de contenção, o sinto de segurança e o capacete estão melhores, não temos incêndios. Isso tudo por causa da tecnologia, e isso vêm das indústrias envolvidas com o esporte. Foi um grande progresso.

L!: Falando da sua carreira, você foi o primeiro atleta a estourar champanhe no pódio. De onde surgiu esta história?

J.S.: Esta é uma boa história. Eu ganhei o GP da França em 1969 e o Frederic Chandon (fundador da Chandon) estava lá. Algum idiota (risos) colocou no pódio, no começo da corrida, uma garrafa de champanhe e deixou lá e estavam 33º graus. Depois da corrida, eu fui com o meu troféu ser apresentado pelo primeiro ministro francês e ele viu o champanhe e me falou para colocarmos no troféu e bebermos para comemorar. Eu tirei a rolha e aquilo explodiu. Como um bom escocês, eu não queria desperdiçar, mas, quanto mais eu pressionava a garrafa, mais longe ia o champanhe. Foi uma grande história na época. Posteriormente, se tornou parte da Fórmula-1. Como eu ganhei bastante, tive muita prática com isso. Se você estivesse a 20 metros de distância, eu conseguiria acertá-la. Se fosse um fotógrafo, a 30m, por causa da lente (risos). Quando você ganha alguma coisa, como você mostra que está feliz? Você não pode ficar lá parado. Então, se tem um champanhe lá, você consegue mostrar sua alegria. Além disso, champanhe foi feito para celebrações como casamentos e aniversários. É um produto simbólico para a Fórmula-1.

L!: Na sua opinião, a Fórmula-1, atualmente, é um esporte atrativo?

J.S.: Sim, é claro. A Fórmula-1 ainda é grande. Atualmente, pessoas podem assistir de casa, mas jamais será a mesma coisa. A torcida brasileira é apaixonada. Existem alguns países que não tem esta paixão. Só tem um Grand Prix por ano em cada país. Tem vários jogos de futebol, rúgbi, golfe e tênis, mas apenas um evento da Fórmula-1.

L!: Com 27 vitórias na carreira, você não venceu no Brasil. Esta é uma frustração? Como você vê a pista de Interlagos?

J.S.: Eu nunca ganhei em Interlagos. Emerson Fittipaldi me venceu. Eu gostaria de vencer o GP do Brasil, já que nunca venci. Acha que eu deveria voltar? (risos) Quanto a pista, é muito boa. Todos os pilotos gostam muito. Atualmente está melhor do que na minha época, mas ainda tem problemas com a drenagem em caso de chuva.

L!: Qual a sensação de retornar ao Brasil?

J.S.: Ótimo. Eu amo o Brasil. Eu venho aqui há muito tempo. A minha primeira visita ao Brasil foi 1969 e eu apresentei Emerson Fittipaldi no Copacabana Palace no Rio, no Campeonato Brasileiro de Fórmula-4. Desde então, por causa da Fórmula-1 e por Emerson ter sido campeão mundial, tinha um motivo para vir ao Brasil, porque tinha uma grande população, comercialmente bom para marcas como Rolex e Heineken. Todos os grandes nomes tinham que considerar o Brasil e, por isso, eu voltei muito para cá.

L!: Quem, na sua opinião, será o campeão do GP do Brasil?

J.S.: No momento, a Mercedes domina. A Ferrari não está competitiva por problemas mecânicos, principalmente nas últimas corridas. Os dois pilotos da Red Bull são muito bons. Max Verstappen é um piloto empolgante de se ver. Ricciardo é muito bom. É um time excelente, muito bem comandado por Christian Horner. É a minha antiga escuderia, só que hoje está maior. Lewis Hamilton também está dirigindo bem.

L!: Hamilton acabou de se sagrar tetracampeão mundial e superou a sua marca (Jackie é tricampeão) no Reino Unido. Como você vê este cenário:

J.S.: Recordes são feitos para serem batidos. Eu segurei a minha marca por 43 anos. Eu quebrei primeiro o recorde de Juan Manuel Fangio e, depois, de Jim Clark. Fangio ainda estava vivo quando eu quebrei seu recorde. Ele me deu um grande abraço, não estava preocupado com isso. Jim Clark, infelizmente, já havia morrido, mas era um grande amigo. É apenas um recorde, mas ficou comigo por 43 anos. Estou muito tranquilo quanto a isso. Hamilton é um “top driver”.

L!: Atualmente, quem te impressiona na Fórmula-1?

J.S.: Agora, quem mais me impressiona é Max Verstappen, porque tem 20 anos. Ele é um bom garoto, muito bem conduzido, faz boas apresentações e ele dirige de forma muito agressiva, às vezes um pouco demais, mas o público ama isso. Então ele é o grande favorito.

L!: Como você vê o sucesso de pilotos brasileiros na Fórmula-1?

J.S.: Eu acho que sei a razão de todos estes grandes pilotos brasileiros. Eu acredito que seja o feijão (risos). Vocês comem muito feijão. Emerson Fittipaldi, Carlos Pace, Ayrton, Rubens, eram fantásticos. Massa também. Todos tiveram carreiras maravilhosas. Deve ser o feijão ou as garotas. Tem uma série de garotas bonitas no Brasil e acredito que isso tenha alguma relação com o sucesso dos pilotos (risos).

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