No momento em que esta coluna está sendo escrita, o mundo aguarda um comunicado da FIA e da F1 se o GP da Austrália acontecerá ou não. O horário inicialmente estipulado não foi cumprido e o ansiedade aumenta. Mas independentemente de qualquer coisa, o estrago está feito.
Em seus 70 anos, a F1 se caracterizou, mesmo em seus primórdios por não ser um exemplo de correção moral. Mesmo quando ainda era mais um grupo de saltimbancos viajando principalmente pela Europa, o dinheiro falava mais alto. Ao longo da história, em nome do sacrossanto dinheiro, muita coisa foi sendo ignorada, em menor ou maior nível. Patrocinadores suspeitos, provas em regimes pouco democráticos…Só para ficar aqui.
Bernie Ecclestone fez a categoria chegar ao tamanho que chegou graças ao ferrenho controle. E eventualmente ter alguma competição, é claro. Afinal de contas, não poderia se esquecer que a corrida de carros ainda é considerada um esporte.
Mas o tempo passa. Ecclestone passou o bastão para a Liberty Media em 2017. A F1 era mastodôntica, mas esta precisava se recriar para sobreviver. E os americanos se jogaram na missão de botar o elefante para dançar e tornar o negócio mais lucrativo ainda.
Por um lado, a empreitada foi bem-feita: a F1 se jogou com força nas redes sociais e abriu mais o acesso ao público. Porém, o DNA financeiro fala mais alto e como o uso do cachimbo faz a boca ficar torta… Por várias vezes a F1 foi em frente para garantir os lucros, pouco valendo os bons modos e intenções. Só que no atual momento, a ação do comando da categoria mostra-se cada vez mais fora de sintonia.
Como já escrito diversas vezes por este que vos fala, a categoria encontra-se com enormes desafios para garantir a sua continuidade e – principalmente – relevância. Renovar o público, trazer novos parceiros, apontar novos caminhos tecnológicos para a indústria automobilística e outros campos…
Mas a Liberty, em dois movimentos, está conseguindo jogar boa parte do esforço pelo ralo e deverá ter extremo trabalho para conseguir recuperar a imagem da F1.
O primeiro movimento é o tratamento em relação ao coronavírus, que já foi abordado aqui. Desde o início da atual pandemia, foi adotada uma postura de apostar até o final para fazer o GP. Para evitar não ter que pagar altas multas, a Liberty transfere o custo do cancelamento para o Organizador.
Diante do avanço nas últimas semanas, a aposta foi redobrada e o GP da Austrália foi confirmado. O Bahrein se tornou uma corrida de portões fechados (o velho sonho de Bernie Ecclestone) e somente a China teve sua prova suspensa, ainda buscando alguma solução para realizar. Diz-se que o cancelamento do Vietnã é uma questão de tempo (alguns dão que o anuncio oficial será feito no domingo dia 15).
Com tudo em contrário, foi-se em frente. Até que o pânico se instalou: 1 membro da McLaren e 4 da Haas haviam sido mantidos no hotel sob suspeita de infecção. Hoje, veio a confirmação de que o profissional da equipe de Woking está infectado. Com isso, a McLaren anunciou que não disputará a prova. Um pouco antes, em entrevista coletiva, Sebastian Vettel declarou que confiava na FIA, mas que, se fosse necessário, os pilotos poderiam “puxar o freio de mão” e Lewis Hamilton foi um pouco mais contundente, dizendo que era “chocante” estarem ali dadas as condições.
Isso disparou um movimento de um possível cancelamento, já que o responsável pelo Departamento de Saúde do Estado de Victoria (onde fica Melbourne) declarou que a prova poderia ser suspensa se um caso positivo de “COVID-19” surgisse.
O segundo ponto, que ficou até vários planos atrás diante do caso do coronavírus, é a mensagem de mostrar a F1 alinhada com posturas mais “verdes”. A categoria abraçou um plano de neutralizar as suas emissões de CO2 até 2030, abrangendo uma série de ações. E nesta semana, o que seria um alívio para um aspecto, o comercial, se tornou um contrassenso: foi anunciado um acordo “multianual” de patrocínio com a gigante saudita da área de energia (entenda-se petróleo) Aramco.
No exato momento em que tenta ser verde, a F1 fecha acordo com a maior produtora de petróleo do mundo, bem como uma das maiores poluidoras. OK, pode-se dizer em defesa que os sauditas estão em um processo de “modernização” da companhia, que inclui um ambicioso investimento em energias limpas e renováveis. E empresas do mesmo ramo, como a Shell, tem se bandeado para a Fórmula E. Mas F1 e Aramco soam agora como aqueles dois “tiozões” que resolveram comprar roupas novas e entrar na academia para soar como “mudernos”. Um verdadeiro samba atravessado.
Erros podem ser cometidos e acontecem. Mas parece faltar bom senso neste momento. Se vier, foi tarde demais para limpar a sujeira. Dizem os antigos que o sucesso brinda aos bravos e audazes. Entretanto, neste caso, parece ser uma tremenda barbeiragem. E nessa mesa, a Liberty fez um jogo muito alto e está com seus créditos na mesa prontos para que a banca os leve.
O acordo com a Aramco e o modo como a realização (ou não) do GP da Austrália foi tocado já causaram danos demais. Está se matando o paciente com a dose errada do remédio.
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