Para os brasileiros, o Grande Prêmio de São Paulo não é apenas uma corrida — é uma chance de acreditar no impossível e sentir a adrenalina de cada curva como se estivessem pilotando junto. De Ayrton Senna e conquistas lendárias às histórias emocionantes dos torcedores brasileiros, Interlagos representa para o Brasil uma conexão única entre esporte, identidade e pura emoção. Mas afinal, o que torna esse circuito tão especial?
Em 2024, completam 30 anos da perda de Ayrton Senna. Em Interlagos, o tricampeão brasileiro conquistou duas vitórias. A primeira foi em 1991, quando o piloto venceu mesmo com problemas na caixa de câmbio, ficando preso na sexta marcha durante as últimas voltas. Embora com fortes dores e grande desgaste físico devido à situação, Senna cruzou a linha de chegada em primeiro, levando as arquibancadas a loucura e a um estado de êxtase.
Para Paulo Lino, estudante de economia, esse é um dos motivos que torna o GP tão icônico. “Por ser um circuito clássico da F1 e casa de grandes pilotos brasileiros, acredito que um dos grandes motivos que torna Interlagos especial é ser cenário de uma vitória extremamente simbólica do Senna, que conseguiu seu lugar no topo do pódio depois de sete longas voltas só com uma marcha funcionando”.
Paulo Roberto Duarte, advogado, presenciou esse momento de perto, e conta sobre a experiência, que também marcou sua primeira vez no autódromo. “Passei a noite na fila, mas só consegui entrar por volta de meio-dia. Perdi todos os eventos pré-corrida, mas isso gerou um momento muito marcante quando os carros saíram dos boxes para alinhar no grid. Foi uma sensação meio filme da Marvel, vendo os heróis aparecerem”, brinca ele.
“Mas a melhor lembrança foi estar no final da reta oposta e testemunhar Ayrton Senna vencer só com a sexta marcha. Tem quem não acredite, mas quem estava lá percebia pelo barulho do motor que não tinha redução de marchas na entrada da curva”, completa Paulo Roberto sobre o momento icônico.
Rodrigo França, jornalista de Fórmula 1 e automobilismo, frequenta o autódromo desde 1989, e se lembra bem de como era ver Senna pilotar seu carro no circuito. “Primeira vez que fui para F1, um dos primeiros carros que vi foi o carro do Senna e lembro de todo mundo levantando para ver ele, então era um negócio incrível e realmente mexeu comigo”. França, que na época já queria ser jornalista de automobilismo, sentiu que o momento foi determinante para seguir essa carreira.
Para o comunicador, que já presenciou inúmeros acontecimentos na Fórmula 1, é difícil escolher apenas um momento especial, mas ele conta que a última corrida do Senna no Brasil foi marcante. “Lembro bem de 1994, na época a gente não sabia que ia ser a última corrida dele, mas também foram os primeiros pontos do Rubinho [Barrichello] na F1. Lembro da galera indo embora quando o Senna abandonou a corrida. E eu fiquei, eu com o meu irmão, a gente ficou até o final”, disse ele.
Júlia Arruda, estudante de jornalismo, também destaca o legado de Senna como um dos principais fatores que atribuem tanta emoção para Interlagos. “Ali é um momento de relembrar nossa história no esporte, o legado de Senna entre outras brasilidades que marcaram a Fórmula 1. Interlagos carrega muita história e sempre que recebe mais um Grande Prêmio, essas lembranças vêm à tona”.
Nicolas Giaffone, piloto brasileiro da USF2000, categoria de monopostos norte-americana, tem um grande vínculo com o circuito de Interlagos. O pai de Nicolas, Felipe Giaffone, e o avô, Zeca Giaffone, venceram corridas nessa pista nas Copa Truck e Stock Car, respectivamente. Quando chegou a vez do jovem pilotar nessa pista, não foi diferente. Nicolas venceu uma corrida em Interlagos enquanto participava da Fórmula 4 Brasil, em 2022.
“A gente tem uma história legal entre família, já são três gerações que vencem em Interlagos e isso para mim é muito especial”, comenta o campeão da USF Juniors de 2023, antes de falar da sua vitória no circuito. “Acho que a minha vitória em Interlagos com meu pai e meu avô junto comigo no pódio é a memória mais marcante da minha carreira. Foi um dos momentos mais felizes que tive, e a sensação é inexplicável, assim, você estar em um lugar que tem tanta história. É vibrante, é uma coisa diferente dos outros autódromos do Brasil”, afirma o piloto.
Cauê Straface, estudante de jornalismo, é novato na Fórmula 1, mas já foi no autódromo e pode afirmar: “A sensação de acompanhar é incrível, só de ver e sentir aquela velocidade e estar naquele ambiente já bate uma adrenalina!”. Mesmo acompanhando há pouco tempo, o jovem relata que a energia de Interlagos “faz a diferença”, para as equipes, pilotos e torcedores: “É um país de várias culturas e crenças e acho que isso faz com que todos se sintam em casa.” Lorena Ortega, também estudante de comunicação, foi para Interlagos pela primeira vez em 2022, para o GP de São Paulo, e confirma: “O brasileiro é mais quente, se envolve mais com a causa, dá a vida na torcida”.
Giaffone, que tem o automobilismo correndo no sangue, também considera o público brasileiro diferente dos demais. “A gente tem uma história com o automobilismo muito grande, é o Ayrton como ídolo, é o Nelson [Piquet] como campeão, e tantos outros aí, Rubinho [Barrichello], [Felipe] Massa, que moldaram o nosso esporte e trazem essa paixão do automobilismo para todos nós”. Para o piloto, o diferencial da torcida brasileira “é a paixão, é a emoção que a gente traz para as pistas e isso contagia, contagia tanto a pista quanto todo mundo que corre e também as pessoas que trabalham no circuito”.
A paixão sem dúvidas é o que move o brasileiro. “Somos por natureza pessoas mais calorosas, vibrantes e intensas, e isso reflete na nossa torcida”. Faça chuva ou faça sol, o torcedor brasileiro estará lá. Para a estudante de jornalismo, é isso que motiva os competidores. “Gritamos na vitória e na derrota, apoiamos até o impossível. Isso motiva qualquer piloto e equipe. Quando eles sentem a nossa paixão, é o gás que faltava para turbinar os motores e os corações. Nenhum DRS tem esse poder!”, ela brinca.
Para Paulo Lino, o brasileiro se diferencia dos demais apenas por ser brasileiro. “Mesmo que não tenha nenhum brasileiro no grid, ainda assim tem um público gigantesco no Brasil”. Para o estudante de economia, a torcida verde e amarelo precisa de algo “para vibrar e para torcer”. Então, ainda que não tenha nenhum piloto vestindo a camisa do nosso país, o público consegue “sentir de perto o que foi assistir Senna, Massa e Barrichello. Então, sabe, no fundo, [o que diferencia o brasileiro] é o Brasil por si só”.
Estar em Interlagos é sempre uma experiência, mas nada se compara à primeira vez no templo do automobilismo. Júlia, que começou a ver Fórmula 1 por influência de seu pai ainda criança, conta sobre a primeira vez em que pisou no autódromo: “Eu chorava e gargalhava ao mesmo tempo, parecia uma doida. É uma energia que só quem vive entende. Mesmo enfrentando um clima instável e nem sempre enxergando com a qualidade de uma transmissão pela TV, as emoções são vividas de uma forma muito mais intensa, que transforma qualquer momento”.
Lorena também passou a se interessar pelo esporte por influência do pai, e sua primeira vez assistindo ao GP de São Paulo no autódromo foi em 2022. “Lembro que o primeiro carro de corrida que vi na pista foi um Aston Martin, do [Sebastian] Vettel. Fiquei no setor G, tive uma visão ótima da pista e fiquei encantada. Como aquela arquibancada não existe em dias normais sem GP, ela tremeu bastante”, disse Ortega, rindo.
O som ensurdecedor dos motores e o tremor das arquibancadas faz parte da experiência em Interlagos. Seja debaixo de chuva ou sob sol escaldante, a torcida vibra e emociona, transformando o circuito em um ponto de encontro onde memórias são criadas e a tradição é honrada.
O que torna Interlagos especial vai além dos carros rápidos e do cheiro de borracha queimada. A pista, palco para lendas e protagonista de inúmeras batalhas, é única não apenas pelas curvas cheias de personalidade, ou pelas fortes subidas e descidas, mas pela conexão emocional que desperta nos corações brasileiros.
Em Interlagos, cada grito da torcida ecoa memórias de heróis eternizados. É um lugar onde histórias são contadas não apenas pelo ronco dos motores, mas pelo orgulho coletivo, pela paixão que transcende e pela energia vibrante que faz do autódromo mais do que um simples circuito; um pedaço da alma brasileira.
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