Um dos casos que merecem atenção este ano é o do australiano Daniel Ricciardo. Tido com talento nato e potencial campeão, o sorridente volante luta para conseguir se consolidar como um piloto de ponta e ainda provar que pode ser campeão.
Em uma entrevista dada alguns dias atrás, Ricciardo diz que fica na F1 até achar que tem condições de ser campeão. E seus movimentos nos últimos anos mostram que ele quer isso. Mas realmente conseguirá?
O australiano foi um dos experimentos da academia Red Bull que deram certo. Após um início claudicante, a partir de 2008, mostrou consistência e venceu campeonatos da Fórmula Renault e Fórmula 3 inglesa. Isso deu força para pensar em voos mais altos pelos taurinos e o vice-campeonato da Fórmula Renault 3.5 em 2010 mostrou que a Fórmula 1 era uma questão de tempo. Testes na Toro Rosso e Red Bull também começaram a ser feitos este ano e Ricciardo apresentou muitas qualidades.
Não foi surpresa quando aquele jovem apareceu ao volante da HRT em 2011 no GP da Inglaterra. Já havia feito uma aparição no GP da Austrália daquele ano pela Toro Rosso, marcando um respeitável 16º tempo. Todos sabiam que aquele carro hispânico era deficiente, mas o objetivo da Red Bull era dar rodagem ao seu pupilo.
No ano seguinte, o próximo passo: o australiano foi confirmado como piloto titular da Toro Rosso, tendo como parceiro outra cria do programa taurino de pilotos: o francês Jean-Eric Vergne. Em duas temporadas, Ricciardo andou na frente do francês e acabou levando à indicação para ser companheiro de Sebastian Vettel na Red Bull a partir da temporada de 2014.
Ricciardo não se intimidou com o então campeão. Mesmo no domínio Mercedes, venceu três provas e chegou em terceiro no campeonato, à frente de Vettel. Com a saída do alemão para a Ferrari no final da temporada, ficava claro que a aposta dos taurinos repousava sobre ele.
Com a ida de Kyvat para o segundo posto da equipe, a responsabilidade ficou maior ainda. Só que a unidade de potência Renault não funcionou, bem como o carro. Em 2016, a situação melhorou, mas não em condições de bater de frente com as Mercedes. Ricciardo foi terceiro no campeonato e somente uma vitória na Malásia.
Neste mesmo ano, surge um perigo real e imediato: a paciência com Kyvat se esgotou e no GP da Espanha, a Red Bull promove Max Verstappen da Toro Rosso. E para surpresa, o jovem holandês vence em seu primeiro GP da equipe. Não só isso: ao longo do ano, a velocidade chamou a atenção e deixou Ricciardo pressionado pela primeira vez efetivamente.
Quem pegar os dados de 17, verá que o australiano foi mais efetivo do que o holandês. Mas Verstappen mostrou uma velocidade pura maior e conquistou o seu lugar na equipe, deixando Ricciardo em uma posição difícil na equipe, o que acabou sendo pior em 2018. O ponto alto desta temporada foi a vitória de Monaco, segurando um Hamilton com uma unidade de potência falhando. Fora isso, Verstappen se garantiu como o líder da equipe.
2018 era o último ano de contrato de Ricciardo com a Red Bull. Havia a possibilidade de renovação. Mas muitas dúvidas pairavam: a Honda negociava coma equipe e os resultados até então estavam longe de ser satisfatórios. E como lidar com Verstappen? Se contentar com um papel de coadjuvante ou tentar “rachar” a equipe para conseguir vencer? Não eram poucas as dúvidas…
Ao mesmo tempo, várias outras propostas apareciam: Ferrari, McLaren….e uma delas era a da Renault. O objetivo dos franceses era voltar a brigar na ponta e queria um piloto jovem e talentoso para comandar este projeto. E não foi uma surpresa quando o acordo entre as duas partes foi anunciado, para um período de duas temporadas.
Era um plano perfeito: ser o primeiro piloto em uma equipe de fábrica, com um projeto sendo feito ao seu redor. E uma equipe que estava conseguindo efetivamente uma melhora contínua de seus resultados, embora muitos questionassem a velocidade desta melhoria.
Só que a carruagem virou abóbora. O R.S 19 não trouxe a evolução esperada e Ricciardo demorou a ser acertar com o carro. O 4º lugar na Itália foi o ponto mais alto e ainda contou com o “escândalo” do sistema de frenagem assistida que acabou acarretando a desclassificação do GP do Japão.
2020 seria outro ano de decisão. Os franceses anunciaram uma grande reestruturação do seu gabinete de projetos visando o novo regulamento de 2021 e o R.S 20 veio bem diferente de seu antecessor e mostrou nos testes de pré-temporada em Barcelona que tinha uma base melhor do que seu antecessor. Sem contar que seria um outro processo de renovação de contrato…
Uma escolha complicada desta vez, pois vários postos interessantes ficariam vagos a partir de 2021. Mercedes e Ferrari seriam escolhas obvias e um novo regulamento reembaralha o jogo para todos. Para um piloto que ainda tensiona ser campeão, os olhos aumentam de tamanho. Uma ida para a Ferrari seria a retomada de conversas que foram feitas anos atrás e os italianos nunca esconderam que ele era um dos nomes considerados.
A pandemia da COVID-19 acabou por deixar tudo parado. Mas a movimentação não parou e houve a surpresa do anúncio de que a McLaren estava contratando os serviços de Ricciardo a partir de 2021.
Este também era um romance antigo e agora foi consumado. A McLaren vem em um crescimento e terá a unidade de potência da Mercedes a partir de 2021. Mesmo com o congelamento do desenvolvimento, a equipe recebeu autorização da FIA para poder fazer as adaptações necessárias para instalar a nova unidade.
Mais uma vez, uma aposta mútua. A McLaren tem ganas de voltar a disputar os primeiros lugares (embora tenha planos de voltar a vencer em 2023) e ter um piloto de ponta é um desenho. Ricciardo quer ter uma base para mostrar que pode realmente ser vencedor.
Dado o desenho da temporada atual, Ricciardo fez uma aposta complicada. Ele fará com uma Renault que parece ter evoluído e com as mudanças regulamentares, aparenta dar um pouco mais de força. Só que muita coisa não será compartilhada justamente pelo fato de estar saindo do time (algumas más línguas falaram que ele não trouxe muitos dados da Red Bull para aproveitamento). E a McLaren tem um carro bem remodelado e que, caso seja malnascido, terá pouca possibilidade de ser salvo por conta do congelamento. E qual será a extensão das ações de adaptação da McLaren para a Mercedes?
Não se pode negar a qualidade de Ricciardo e ele confia muito em sua própria capacidade. Mas conseguirá consolidar a expectativa criada em torno dele desde o início? Ou mostrará que é um ótimo piloto, mas péssimo estrategista? Para o bem da Fórmula 1, o ideal é a primeira escolha. Mas muita gente acredita na segunda….
Torço sinceramente para que Ricciardo seja um grande. Claramente tem capacidade vencedora e um talento grande. Que tenhamos uma resposta positiva.
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