Com o anúncio da ida de Daniel Riccardo para a McLaren, a pergunta que 11 entre 10 fãs da Formula 1 fazem é: o que será da Renault?
A saída do australiano é mais uma incógnita em uma equação que se torna cada vez mais complicada. A equipe anglo-francesa (a base fica em Enstone na Inglaterra e a parte de motores em Viry-Chatillon, na França) talvez agora pareça aquele adolescente que vai prestar o vestibular e não tem a mínima ideia do que vai fazer.
Podemos dividir as questões da Renault nos seguintes tópicos:
ESCOLHA DE PILOTOS
Riccardo havia sido escolhido para ser o comandante de uma virada da equipe rumo ao grupo da frente. O australiano vinha cheio de gás, querendo mostrar serviço e com um belo salário (que até motivou uma disputa jurídica com seu ex-empresário). Mas a decisão por sair do time pode mostrar uma insatisfação com a evolução das coisas.
Este seria o segundo tiro n’água, já que havia sido feita a escolha por Nico Hulkenberg para ser o comandante da melhoria. Para esta temporada, foi escolhido o francês Esteban Ocon, vindo da Mercedes e tido como um potencial vencedor. Pelo aspecto mercadológico, nada melhor que estreitar os laços com a pátria francesa…
Para 21, surge a primeira incógnita. Que linha seguir para formar a dupla de pilotos?
A primeira que se desenha seria trazer um piloto dito “de peso”, “de ponta”. A Renault aparentemente tem a intenção de fazer diferença e trazer um piloto que possa conduzir a equipe não só tecnicamente, mas também no sentido de liderança.
O nome de Sebastian Vettel surge naturalmente diante da não-renovação com a Ferrari. Outro que aparece no cenário com força é Fernando Alonso, que resolveu botar fogo nos rumores na última semana ao responder aos tuites do perfil oficial da equipe. Por fora, surge o nome de Valtteri Bottas. Esta possibilidade veio da imprensa espanhola e funcionaria num esquema semelhante ao de Ocon: se o mercado fechasse, Toto Wolff não o deixaria na mão.
Sendo qualquer um deste nomes, a dúvida que surge é: teriam a paciência de comandar um projeto novo, que agora ficaria para 2022? Vettel já se mostrou pouco animado com as novas regras e Alonso teria um ano para recuperar o ritmo de corrida. O nome de Bottas seria interessante, mas poderia mostrar uma falta de ousadia.
A outra linha abordada seria a promoção de algum piloto do programa de desenvolvimento de pilotos. A Renault tem feito um investimento pesado e tem alguns nomes extremamente promissores surgindo como o chinês Guanyu Zhou e o dinamarquês Christian Lundgaard, ambos na F2.
Promover um piloto “da casa” significaria um corte nos custos e a valorização de todo trabalho feito nos últimos anos. Mas aguentaria o tranco de um time de fábrica e precisando mostrar resultados? E Ocon seria o nome certo para comandar a Renault?
ESTRUTURA
Desde quando reassumiu o comando da equipe, em 2015, a Renault promoveu um pesado investimento em modernização da estrutura em Enstone (Inglaterra) e em Viry-Chatillon (França), bem como um considerável aumento do pessoal. O discurso sempre foi: queremos vencer, mas é um projeto de longo prazo.
Embora tenha gasto bastante, o CEO de então, o brasileiro Carlos Ghosn, não via com tão bons olhos a aventura e conseguiu uma situação para considerar a marca como histórica, aumentando a participação na divisão das verbas, levando a um desembolso não tão grande.
Inicialmente, o projeto foi tocado por Frederic Vasseur. Mas logo no início, houve um conflito com Cyril Abiteboul, um dos arquitetos da volta da marca à F1 e então Diretor da Renault Sport. Não se confirma, mas não são poucos que dizem que a principal briga era em relação justamente a como gastar. Vasseur defendia um desembolso maior e uma postura mais agressiva. Abiteboul se alinhava a uma visão em que gastar menos era o caminho. E ganhou a parada.
Abiteboul assumiu o comando e foi dentro da linha “devagar e sempre”. A Renault realmente cresceu ao longo dos anos (9o em 16, 6 em 17 e 4 em 18). Mas a visão de boa parte dos especialistas é que o time, com todo o poderio de uma grande montadora por trás, poderia fazer mais, até para justificar o grande investimento por trás.
Não são poucos que dizem que ele seria um dos grandes entraves para que a Renault venha a deslanchar. Abiteboul fez toda a sua carreira dentro da montadora, se afastando ligeiramente quando foi para a Caterham em 2012, quando a equipe usava os motores franceses. Sua lealdade não pode ser questionada, mas seria ele a pessoa certa???
A contratação de Riccardo em 2018 parecia o sinal de que “a hora do longo prazo” havia chegado para 2019. A dupla com Hulkenberg parecia ser promissora e os elementos pareciam estar alinhados para o salto. E não veio: alguns resultados ligeiramente animadores, um escândalo de utilização de freios fora do regulamento no Japão (o relatório dos comissários é um exemplo belo e acabado de contorcionismo) e um 5º lugar, bem atrás da sua cliente McLaren. A nova esperança viria com o novo regulamento para 2021 e o teto orçamentário.
Para tal, a Renault teria uma abordagem mais agressiva para 2020 e promoveu uma profunda reforma no gabinete técnico, se desfazendo de técnicos históricos (por exemplo, o Diretor Técnico, Nick Chester, estava na equipe ainda na época vencedora de 2005/2006) e trazendo gente como Pat Fry (ex-Benetton, McLaren e Ferrari) para se preparar para o novo regulamento técnico.
O R.S.20 foi apresentado em Barcelona e era bem diferente de seu antecessor, adotando uma linha mais semelhante à da Mercedes. Os resultados foram promissores, com Riccardo e Ocon marcando bons tempos, podendo se cacifar para ser “a melhor do resto”. Entretanto, isso não pareceu o suficiente para garantir a permanência do australiano para 2021 e além. Mais uma situação para questionar se o comando vai para o lugar certo…
POSIÇÃO ESTRATÉGICA
Mesmo antes da crise trazida pelo coronavírus, a Renault tinha seus próprios problemas a resolver. Embora tenha se transformado em um dos principais grupos automobilísticos do mundo, a aliança com a Nissan entrou em xeque, o que acabou inclusive por levar à prisão Carlos Ghosn e motivou a entrada de 2 CEOs em um ano. Junte a isso a uma negociação inconclusiva de uma fusão com a FCA, queda global de vendas, pressão por investimentos em novos produtos e a chegada de um novo CEO, Luca di Meo (vindo da espanhola SEAT) em julho.
No campo da Fórmula 1, nada muito animador: a McLaren, sua cliente desde 2018, anunciou que não renovaria seu contrato de fornecimento de Unidade de Potência para 2021. Isso significava que a Renault ficaria como a única usuária de seu produto.
A entrada do teto orçamentário em 2021 deu um folego para que a Renault pudesse dar caminho para o futuro. Embora o contrato dos franceses com a categoria vá até 2024 e vários acordos comerciais foram fechados até esta data, não são poucas as vozes que dão conta que o envolvimento possa se encerrar antes.
Outro aspecto que poderia fazer a Renault permanecer seria o “congelamento” das especificações das Unidades de Potência. Entretanto, ela é uma das que questionam o futuro dos regulamentos neste campo, já que na Europa os motores à combustão têm previsão para serem substituídos por motores elétricos e existem indicativos de que esta tendência seja seguida por diversos outros.
Diante deste quadro, não é difícil deduzir que a discussão deve estar grande sobre a continuidade do programa de Fórmula 1. Pelo menos na proporção atual…
Este é o quadro que a Renault encara, enquanto se prepara para retomar os trabalhos visando o possível início da temporada 2020. Aguardemos os próximos capítulos desta história, torcendo para que os franceses possam chegar a um bom ponto.
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