A vida sempre nos prega peças e tem sido algo por demais aleatória neste 2020. Mesmo com tantos eventos acontecendo, nem sempre temos a chance de fazer as coisas novamente. É preciso estar atento aos sinais que ela nos dá. E foi o que aconteceu com Nico Hulkenberg.
Após ter sido preterido nas negociações para a temporada deste ano, o alemão entrou em um estado de espera, que incluiu inclusive uma visita ao carnaval carioca. O máximo que se falou nele nos últimos tempos foi que estava se preparando para fazer um retorno às pistas no ADAC GT (campeonato alemão de carros GT). Fora isso, parecia uma carta fora do baralho.
Mas não contavam com a astúcia de Sergio Perez. Na berlinda por conta da possível vinda de Sebastian Vettel para seu lugar na futura Aston Martin, o mexicano foi fazer seu teste para COVID-19 nesta quinta-feira, conforme o novo protocolo de segurança da F1. Após uma primeira tentativa inconclusiva, uma segunda deu o resultado positivo. Desta forma, não poderia tomar parte no GP da Grã-Bretanha.
Logo depois, se soube que no período após o GP da Hungria, Perez viajou para a Sardenha (Itália) e para o México. Não se pode ter certeza, mas tudo indica que tenha contraído em um deste deslocamentos. O fato é que sua esposa se apressou em apagar fotos no Instagram, mas o estrago já estava feito.
O que se temia acontecer com as “furadas de bolha” de Valtteri Bottas e Charles Leclerc, ocorreu com Sergio Perez. Logo em um momento complicado, onde seu posto está em discussão, a despeito de ter um contrato até 2022 e trazer muito apoio para a equipe, que foi salva do fechamento graças a sua atuação no processo de intervenção judicial em 2018. Este seu ato deverá ser considerado nos futuros movimentos na categoria, já que também vinha sendo cotado para a Alfa Romeo e Haas.
Com isso, a pergunta “Oh, e agora: quem poderá pilotar?” começou a aparecer no box da Racing Point. Como o Chapolin Colorado não poderia ajudar nesta hora e a equipe não tem pilotos reservas formais, as opções recaíram sobre os pilotos reservas da Mercedes: Stoffel Vandoorne e Esteban Gutierrez.
O belga foi logo descartado, pois está em isolamento para a maratona elétrica de 6 provas da Fórmula-E em Berlim, entre 5 e 13 de agosto. Restaria o mexicano, que nos últimos tempos tem feito o trabalho em simulador para a equipe alemã.
Fora da F1 desde 2016 e sem resultados consistentes (marcou 6 pontos em 59 GPs), logo se questionou se Gutierrez estaria apto a assumir o posto. Em pesquisas junto aos requisitos legais da FIA, se viu que o mexicano não poderia assumir o posto, pois sua Superlicença venceu no final de 2019 (válida por três anos) e para este período, teria que testar um carro de F1 pelo menos 300 km em até 2 dias, em um ritmo “consistente” (grifo do autor), o que não aconteceu. Como não se sabe se a Mercedes solicitou alguma renovação do documento durante o período em que o piloto está com eles, a situação engrossa…
Haveria ainda uma possibilidade de que Gutierrez pudesse correr, que seria considerar testes com carros de F1 mais antigos e a equipe fazer uma declaração de que ele estaria familiarizado com os sistemas dos carros atuais. Mas parece não ser o caso.
O fator que ajuda Hulkenberg e atrapalha Gutierrez é a atividade: Gutierrez não pilota na F1 desde 2016, quando saiu da Haas. Posteriormente, fez algumas provas na Fórmula-E e na Indy, sem muito destaque. E a partir de 2018, ficou como piloto exclusivo da Mercedes. Já Hulkenberg estava até o ano passado ativo na categoria, tendo maior familiaridade com os atuais carros.
De certa forma, é um retorno para o alemão, que bateu ponto na antiga Force India entre 2014 e 2017. E chega em um momento em que a equipe tem condições totais de disputar as primeiras posições. Por conta das circunstâncias, Hulkenberg deve fazer a prova deste final de semana e a seguinte em Silverstone (GP do 70º aniversário), já que Perez deverá fazer a quarentena obrigatória de 10 dias pelo protocolo do governo inglês.
E a pergunta que todo mundo se faz: será que depois de 177 GPs, Nico Hulkenberg conseguirá seu primeiro pódio? A Racing Point mostrou que tem um carro capaz para isso. Se pergunta como o alemão estará, já que não entra em um F1 desde Abu Dhabi, 8 meses atrás. Embora diga que tenha mantido sua preparação física, a falta de ritmo acaba afetando neste primeiro momento.
O mais curioso nesta história toda é que um fato irônico pode acontecer: Nico Hulkenberg conseguir chegar no pódio em uma destas provas e não levar. Afinal, o protesto da Renault contra a Racing Point a respeito dos dutos de freio não foi apreciado ainda e, caso aprovado, pode fazer com que a equipe cor de rosa perca os pontos conquistados. A vida é mesmo uma caixinha de surpresas…
Cabe agora ver o que acontecerá. Hulkenberg tem uma grande chance de se recolocar no mercado, mostrando que tem condições de pilotar um F1 e fazer boas atuações. Ele sempre foi considerado como um potencial ponteiro e suas escolhas de carreira acabaram também o atrapalhando (não esqueçam que ele foi cogitado seriamente para substituir Nico Rosberg depois da aposentadoria). Dentro do quadro, sua escolha pareceu ser mais acertada do que a de Gutierrez. Que ele aproveite a segunda chance que está sendo dada e dê a resposta para quem acha que ele foi supervalorizado ao longo de sua carreira na F1.
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