Não é fácil a vida de Chase Carey. O CEO da F1, que deve deixar o cargo no próximo ano, tem hoje o papel semelhante de um atendente de emergência de hospital público: recai em seus ombros a responsabilidade de priorizar os doentes para tentar salvá-los.
No curto prazo, vem conseguindo algumas vitórias: aparentemente conseguiu garantir a permanência da Honda e da Mercedes na categoria e encaminha um novo acordo comercial e político para a gestão da F1. Não é pouca coisa, mas eis alguns dos trabalhos que o acossam tal como um fiscal do Imposto de Renda.
– Atração de novos parceiros: Quando assumiu o comando da F1, a Liberty Media contava que inúmeros parceiros viriam para a categoria. Até agora, nenhum novo relevante acordo de patrocínio foi fechado (houve o anúncio da Feira Mundial de Dubai, mas é somente para este ano) e os correntes vencem em breve (o da cervejaria Heineken tem opção de extensão até 2023, mas há possibilidade de ser revisto este ano).
No ano passado, se revelou a intenção de buscar parceiros no campo dos sites de apostas e até se anunciou um acordo para a exploração em alguns locais, mas a iniciativa esbarrou na proibição deste tipo de propaganda em alguns países europeus.
– Ampliação do calendário: Esta é uma das bandeiras iniciais. Desde o início, se fixou o número de 25 provas por ano. E neste sentido, uma nova prova nos EUA se busca com afinco. Miami vem se tentando e os obstáculos são complicados de se transpor.
Foi-se o tempo em que havia uma fila para sediar a F1. Cada vez menos interessados batiam a porta para receber as provas e outra situação surgiu: as sedes atuais reclamaram dos valores cobrados para promover as corridas. E começou uma grande queda de braço, que levou à saída da Alemanha, deixar a Espanha com um pé fora e promover uma disputa Rio x São Paulo para ver quem fica com a prova brasileira.
Não é de hoje que a expansão tem sido feita às custas de locais tradicionais. Embora se tenha mais dinheiro nestes locais, a questão logística e de recursos humanos se torna mais crítica ainda. Não à toa, se volta a falar em aglutinação geográfica para otimizar os deslocamentos (e reduzir a emissão de carbono) e criação de mais times para fazer a gestão do pessoal. Até Max Verstappen fez um comentário dizendo que o novo calendário aumentaria o número de divórcios na categoria.
Em uma declaração semanas atrás, Jean Todt disse que este tipo de reclamação era um “choramingo” e que as pessoas deveriam ver como “uma honra” trabalhar na F1. As equipes estão reclamando, mas tudo depende de quanto entrará no bolso delas. E a F1 não está em condições de pedir grandes valores aos novos promotores. E isso faz os atuais reclamarem.
Quando vazou a notícia de que Miami trabalharia em um formato diferente, houve uma grita entre os promotores. E no ano passado, a Liberty se viu tendo uma “rebelião” por conta disso e teve que abrir mão de algumas coisas para garantir algumas renovações, como foi o caso da Inglaterra.
Aparenta que a estratégia da Liberty seja ampliar o calendário para compensar os ganhos menores dos promotores e garantir novos apoiadores. É interessante, mas cada vez difícil de conseguir cumprir.
– Equilíbrio entre TV e Streaming: Junto com as taxas pagas pelos promotores dos GPs, esta é uma das principais fontes de receita da categoria. Hoje, a F1 aponta para um futuro para o streaming e a TV por assinatura. Tanto que criaram um aplicativo para o fã acompanhar corridas (até agora não chegou aos níveis esperados).
Mas os principais mercados em força econômica foram abrangidos por acordos com TV por assinatura. Representou dinheiro no bolso, mas um número cadente de telespectadores (a Inglaterra tem só o seu GP local ao vivo. O resto é passado no canal por assinatura ou em resumos). Mas o maior número de telespectadores está no Brasil, onde a transmissão é aberta.
De acordo com os números divulgados da própria categoria, a audiência tem aumentado, embora os dados possam ser questionados. Entretanto, os melhores índices são observados em países que tem a transmissão em TV aberta.
Perder dinheiro e ganhar mais à frente? Manter a transmissão aberta pois nem todo mundo ainda tem condições de usar streaming? E como monetizar corretamente o streaming?
– Momento histórico: Observa-se a grande mudança de paradigma da visão da sociedade em relação ao automóvel. E as corridas de carro vão no mesmo sentido, F1 no meio. A Liberty vem tentando mudar a imagem da categoria, não só para manter a relevância tecnológica, bem como renovar o público.
A categoria caiu de cabeça nas redes sociais, promove campeonato oficial de simuladores (eSports), abriu mais detalhes dos bastidores…É muito, mas é pouco. Contrassenso? Talvez. Mas não.
O automóvel tem se tornado vilão nas cidades e para o meio ambiente. E as gerações mais novas o veem cada vez mais como um meio de transporte, não mais como um símbolo de status e liberdade. Além disso, há a visão de que os carros são grandes poluidores. Neste quadro, a F1 tem investido na solução dos híbridos (recuperação de energia, além do motor a combustão) e anunciou um ambicioso plano de ser neutra na emissão de carbono até 2030.
Entretanto, este tipo de esforço não é percebido. Embora hoje a Unidade de Potência de um F1 possa ser considerada a mais eficiente em termos de uso de energia, o público em geral não vê esta evolução. Sem contar que na última semana, o Reino Unido lançou uma nova legislação antecipando em 5 anos (2040 para 2035) a proibição da venda de veículos a combustão, incluindo os híbridos.
Outros países europeus vão nesta mesma linha, o que leva os fabricantes a abraçar cada vez mais os carros elétricos. E com isso, aumenta o investimento na Formula E, que vem crescendo a cada temporada, com a participação de 10 montadoras. E a um custo bem menor do que a F1 e em um formato mais inclusivo.
A F1 aponta que este modelo deve prosseguir até 2025. Mas e depois? Inicialmente, se falava em uma simplificação das Unidades, o que poderia trazer novos fornecedores. Discussões foram feitas neste sentido, mas foram descartadas. E a mostra da situação vem de uma fala de Jens Marquardt, chefe da divisão esportiva da BMW, onde expõe que, em termos de engenharia, a F1 faz um trabalho ótimo, mas que não é de relevância para os carros de rua da montadora.
Várias frentes foram abertas: a partir de 21, o combustível deve usar biocomponentes como etanol de segunda geração (reaproveitamento de resíduos, por exemplo). Se fala também em gasolina sintética ou mesmo nas células de combustível (hidrogênio). Além disso, se abririam mais o desenvolvimento das partes elétricas das UPs e se introduziriam motores de 2 tempos.
As decisões tem que ser tomadas agora, pois investimentos de longo prazo e do tamanho que exige a F1 são decididos agora. E um dos motivos que fizeram estas UPs serem mantidas agora era a alegação de “curto prazo e grande custo” para a implantação de um novo modelo. E o mercado fala alto. Por exemplo: empresas como VW e Mercedes não deverão mais desenvolver motores a combustão no curto/médio prazo.
Outro aspecto é uma das vacas sagradas de sempre: o apoio das petroleiras. Hoje, uma das grandes arrecadações das equipes vem daí. Cada vez mais o petróleo vem sendo cada vez mais satanizado. E um fato acontecido na semana retrasada chamou a atenção: o jornal inglês The Guardian anunciou que não aceitaria mais nenhuma propaganda que fosse de combustíveis fósseis.
Ainda é cedo para dizer se isso é um fato isolado ou o início de uma tendência. Mas podemos fazer um paralelo com a indústria tabagista. Começou a ser evitada na década de 70 até ser banida totalmente nos anos 2000. Agora, ensaia um retorno com uma nova roupagem através de cigarros eletrônicos e outros meios.
E cada vez mais é complicado atrair novos parceiros. A F1 ainda é uma grande vitrine. Mas a sua grandiosidade assusta e não é qualquer empresa que tem folego para se juntar a este grupo. Os que chegam, querem se juntar aos vencedores, deixando as médias e pequenas equipes cada vez mais apertadas.
Em paralelo, as equipes vêm buscando se diversificar, até porque já deixou muitas vezes seus ovos em uma mesma cesta e causou cataclismos (cigarros, bancos, TI….). Embora hoje esteja totalmente dependente das montadoras. Este nó foi cantado tempos atrás por Max Mosley e hoje é uma realidade. A tentativa da implantação do teto orçamentário quer tornar as coisas mais “democráticas”. Entretanto, ainda é preciso fazer mais.
– Novo comando: Pelas regras da Liberty, Chase Carey terá que deixar o posto de CEO. A dúvida é: quem entra em seu lugar? Muita gente aposta que Toto Wolff seria o cara para a vaga. Entretanto, há uma restrição séria em seu nome, especialmente pela Ferrari.
Enquanto isso não fica claro, numa nova governança vem sendo desenhada e que tornaria as decisões mais simples, fugindo do conceito de “unanimidade” estabelecido pelo Pacto de Concórdia que vale até o fim deste ano. Entretanto, o que se fala é que a Ferrari ainda manteria certo poder de veto. E este seria um dos motivos que um acordo mais amplo não tenha sido concluído até o momento.
Ainda não está claro quem poderia ser este novo nome. Algumas pessoas surgem, mas não passam de especulações. E há a possibilidade de uma integração maior com a F-E, que tem o contrato de exclusividade com a FIA até 2029 para competições elétricas e terá status de campeonato mundial a partir da próxima temporada.
Para quem veio com promessas de renovar e fazer a categoria crescer, Carey ainda deixa a desejar e tem todo este trabalho a fazer. A F1 encara mais um daqueles momentos de definição e este talvez seja o mais ameaçador de seus 70 anos. Quem já viu a morte algumas vezes, não tem medo de brigar mais uma. Entretanto, o adversário vem forte desta vez.
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