Algumas das principais figuras do automobilismo feminino expressaram sua insatisfação e desaprovação da introdução de uma nova série de monopostos destinadas exclusivamente as mulheres, a ‘W Series”.
Na última quarta-feira foi anunciado que um novo campeonato nível “Fórmula 3” seria criado com o único propósito de hospedar talentos femininos no grid, com o intuito de aumentar e igualar os níveis entre os sexos dentro do esporte a motor.
Usando o atual o chassi da “Tatuus T-318 Brithish Formula 3”, incluindo um dispositivo halo, empurrado por um motor turbo de 1.8 litros. O campeonato pretende correr inicialmente na Europa, antes de expandir-se para outros continentes.
A séria terá livre inscrição e os participantes passarão por um “programa rigoroso de pré-seleção” que envolve testes em pista, avaliação no simulador e testes de engenharia técnica.
Apoiado pelo ex-piloto de Fórmula 1 David Coulthard, juntamente com o ex-chefe de relações públicas da McLaren, Matt Bishop, o mestre do design Adrian Newey e o experiente gerente de equipe de F1, Dave Ryan, a categoria chegará com certo prestígio.
A campeã da série receberá uma premiação de US$ 500 mil, com pagamentos sendo feito até a 18ª na classificação, o que ajudaria para um orçamento em outra série de escala júnior.
Ainda não foi confirmado se “W Series” contribuirá com pontos para uma Superlicença na Fórmula 1.
Muitos pilotos, atuais e antigos, assim como outros profissionais do automobilismo, expressaram suas opiniões e relação à série nas mídias sociais, falando a respeito dessa decisão de criar um campeonato exclusivamente feminino.
A pilota da IndyCar, Pippa Man, disse que a W Series é um retrocesso. A veterana da Indy 500 manifestou veementemente seu descontentamento com a introdução de um campeonato desse tipo, descrevendo-o como “segregação”.
“Que dia triste para o automobilismo”, disse ela. “Aqueles com financiamento para ajudar corredoras do sexo feminino estão escolhendo segregar ao invés de apoiá-las. Estou profundamente desapontada por ver um retrocesso histórico em minha vida.”
O pilota da Ginetta GT5, Charlie Martin, concordou com Mann e acrescentou: “Esta série é baseada na segregação e, embora possa criar oportunidades para algumas mulheres, ela envia uma mensagem clara de que a segregação é aceitável.
“Nós não discriminamos no esporte com base na raça, então é chocante acharmos que é aceitável fazer isso com base no gênero em pleno 2018. Como competidores, queremos competir contra os melhores pilotos – independentemente de idade, raça, orientação sexual ou gênero – e provar que somos os melhores naquilo que fazemos.”
A pilota européia de F3, Sophia Floersch, expressou a mesma opinião. “Eu concordo com os argumentos – mas discordo totalmente da solução”, disse a alemã. “As mulheres precisam de apoio ao longo prazo e parceiros de confiança. Eu quero competir com os melhores do nosso esporte.”
Abbie Eaton, piloto de testes do Grand Tour, afirmou que a falta de orçamento é muitas vezes o maior fator para as mulheres no automobilismo não conseguirem progredir em suas classificações.
“Ganhei e estive no pódio em todas as séries que participei”, disse ela. “Então, o que me impede de alcançar o topo?”
Em uma opinião contrastante, a pilota britânica de F3 Jamie Chadwick, que conseguiu sua primeiro vitória na categoria em agosto, acredita que o campeonato dá ás mulheres uma outra plataforma para mostrar sua habilidades e dar a oportunidade de progredir ainda mais.
“A W Series está dando aos pilotos do sexo feminino outra plataforma para competir”, disse ela. “Não é nenhum segredo que o automobilismo é um esporte extremamente difícil, muitas vezes ditada por fatores financeiros.
“Com um campeonato financiado, a W Series não apenas oferece uma oportunidade fantástica para os melhores talentos femininos, mas também encorajará muitas mulheres jovens a entrar no esporte. Eu sou uma piloto de corridas e, se eu pudesse, correria 365 dias no ano.
“Eu ainda posso correr contra os homens em outros campeonatos, mas o W Series é o complemento perfeito para me ajudar a desenvolver e progredir ainda mais nas categorias juniores do automobilismo. Estou animada com o que está por vir!”
Alice Powell, pilota britânica, também sente que a chance de correr em máquinas iguais e permitir que mais mulheres entrem no automobilismo é um bom passo, especialmente aquelas com pouco ou nenhum orçamento.”
“Totalmente financiados, carros iguais”, disse ela. “Uma ótima oportunidade para as mulheres pilotas tentarem dar um salto no esporte.”
John Watson, ex-piloto e Fórmula 1, acrescentou: “Fiz 152 Grandes Prêmios entre 1973 e 85 e ganhei cinco deles.
“Corri com alguns dos maiores da época – Jackie Stwart, Emerson Fittipaldi, Niki Lauda, James Hunt, Mario Andretti, Jody Scheckter, Alan Jones, Nelson Piquet, Keke Rosberg, Alain Prost, todos campeões – ma também corri com Lella Lombardi, que em 75 tornou-se a primeira e até agora a única mulher a marcar um ponto em um Grande Prêmio, meio ponto porque terminou na sexta posição, mas foram concedidos apenas metade dos pontos depois que a corrida terminou com bandeira vermelha depois de 29 das 75 voltas programadas.
“Foi uma corrida turbulenta, marcada pela morte trágica de cinco espectadores que foram atingidos por um carro que decolou, e eu terminei em 8º lugar, dois lugares atrás de Lella.
“Se você tivesse me dito então que 42 anos depois de Lella ela ainda seria o mais recente piloto do sexo feminino a iniciar um Grande Prêmio, a única a incomodar os ponteiros, eu teria dito que você estava louco.
“Mas, surpreendentemente, é verdade. A W Series pretende resolver isso e eu sinceramente endosso essa ambição. Acredito firmemente que, dadas as oportunidades certas, as mulheres são eminentemente capazes de competir em condições de igualdade com homens e, uma vez que a W Series tenha dado a essas mulheres certas oportunidades, espero que isso finalmente aconteça.”