Quarta-feira é o grande dia para o fã de F1. Após semanas de espera após o último GP, é hora das equipes colocarem efetivamente os carros na pista e ver se todo o trabalho desenvolvido por meses nas fábricas. Mas nem tudo são flores nesta história….
Se perguntar a um profissional da área, talvez ele vá responder que cobrir testes seja uma das coisas mais chatas da profissão. Tudo bem, vale a pena ver as novidades, ter uma base de como os carros funcionam…, mas é muito mais um trabalho fora da pista do que dentro. Muitas vezes, o carro sai, dá algumas voltas e retorna para os boxes para ajustes, podendo ficar lá por horas, com pouca ação de pista…
Sobre isso, não me sai da cabeça uma conversa com o jornalista Celso Itiberê, que acompanhou por anos a F1 para o jornal O Globo. Contou ele uma vez em que foi para Silverstone, em um frio tremendo, acompanhar um teste da McLaren. Alugaram o dia inteiro o circuito e fizeram cerca de 20 voltas. O carro ficou muito mais tempo parado no box. E todo mundo batendo dente….
Este ano, os treinos de pré-temporada serão mais cruciais ainda. Diante da redução de duração (de 8 para 6 dias, para reduzir custos), ações como os treinos em simulador e os shakedowns (oficialmente chamados de “dia de filmagem” – são permitidos 2 dias ou 100 km por toda da temporada) ganham mais importância. Estes últimos então já permitem verificar a funcionalidade de sistemas e permitem ganhar tempo….
Agora colunista do portal inglês The Race, Gary Anderson (ex-projetista da Jordan, Stewart e Mercedes) descreveu o que poderá ser esta primeira semana de testes. E trago aqui para vocês um resumo.
Primeiro dia: As ações iniciais são voltadas para a verificação de sistemas e correlação com os dados de refrigeração. Nos treinos de shakedown, não é permitido o uso de telemetria. Além disso, as equipes usarão ferramentas como o “flow-vis” (tinta normalmente fluorescente) e sensores como sondas kiel (são aquelas parecidas com as grelhas de churrasco) para confirmar o comportamento dos fluxos de ar e temperatura.
Mesmo com as temperaturas baixas em Barcelona, as equipes aproveitam para fazer verificações dos níveis de funcionamento de água e óleo. Com laterais e entradas de ar mais enxutas, este aspecto passa a ser crítico para o bom funcionamento das Unidades de Potência.
Com estes dados, passa a se fazer a comparação dos dados obtidos nos simuladores e testes anteriores e trabalhar em acerto de carro, principalmente em relação à altura. Através deles, se consegue ter ideia da eficiência das asas e da parte de baixo dos carros, que é onde se obtêm a maior parte do apoio aerodinâmico.
Segundo dia: Ênfase no trabalho aerodinâmico. Mais uma vez validação dos dados obtidos na pista com aqueles obtidos em simuladores. Desta vez, se trabalha muito as suspensões. Barcelona é um traçado que exige bastante da carga aerodinâmica e as equipes pegam como referência para o resto da temporada.
Por este motivo, ainda se trabalha muito com poucas voltas e não ainda a toda velocidade. Muitas vezes o piloto vai para a pista com objetivo de “entrar na curva à velocidade x”, “frear usando o acerto y” (quem joga simulador vai entender um pouco disso, pois estas ações já fazem parte da franquia F1)
Terceiro dia: Se tudo deu certo, as equipes começam o trabalho efetivo em simulações de treino e corrida. Diante de tudo trabalhado, inclusive com o uso de peças novas, os carros vão para pista para verificar o desempenho não somente em relação a acerto, bem como o comportamento dos pneus (não esqueçam que são os mesmos do ano passado, mas com uma pressão mais alta conforme promessa da Pirelli).
Nesta hora é que podemos dizer até se tem gente “escondendo o jogo”. Segundo Anderson, Barcelona gasta cerca de 2kg de combustível por volta. Neste sentido, pode se lotar o carro de combustível e aí sim tentar confundir um pouco a percepção geral. Ou também ser o “campeão dos testes de inverno” e andar com o tanque vazio para conseguir andar na frente.
O trabalho nas fábricas continua e deveremos ter algumas novidades para a segunda semana (26 a 28 de fevereiro), onde o pacote definitivo da Austrália deverá ser validado. O importante é que muitas das perguntas feitas nas redes sociais começarão a ser respondidas, embora não possam ser tomadas como verdade absoluta. Temos o caso da Ferrari no ano passado.
Mas somos teimosos. E mesmo sendo uma “chatura”, acompanharemos tudo com bastante atenção para poder dar o nosso pitaco à vontade e discutir os resultados com bastante clubismo (na maioria dos casos) e achismo…
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