Quais equipes podem potencialmente deixar a F1? Veja o ranking

No meio da discussão sobre a revisão do teto orçamentário da F1 para os próximos anos (hoje Ross Brawn falou em um acordo de US$ 145 milhões para 2021), algumas vozes surgiram dando conta que haveria o risco de algumas equipes não conseguirem sobreviver a este momento complicado.

Não à toa, a Liberty Media informou ter liberado valores para algumas equipes, visando ajudar a sobrevivência. Não foram revelados oficialmente nomes nem montante (a alemã Auto Motor und Sport publicou que Haas, Alfa Romeo, Alpha Tauri, Racing Point e Renault receberam esta ajuda). Entretanto, podemos dizer que este número seguramente está na casa dos milhões de dólares. Para se ter ideia, o chefe da equipe da Alpha Tauri, Franz Tost, declarou que o custo por corrida da equipe ficaria em cerca de US$ 2 milhões.

No domingo passado, caso o calendário original tivesse sido cumprido, teríamos o GP da Holanda. E cada prova que não é realizada, várias fontes de receita não são cumpridas: bilheterias, venda de hospitality centers, televisão, patrocinadores….

As equipes têm procurado se virar: as inglesas lançaram mão da licença de pessoal com pagamento de salários através do programa do governo de pagar até 2.500 libras esterlinas. O período de fechamento obrigatório das fábricas foi estendido até o final de maio. Somente um total de 10 pessoas foram habilitadas a trabalhar remotamente para projetos que demandam um prazo maior.

Diante deste quadro e acompanhando as notícias dos mais diversos quadrantes, inclusive da própria categoria, podemos traçar uma espécie de ranking de risco das equipes. O certo é que ninguém sairá ileso desta fase. As equipes “independentes”, pelas dificuldades de financiamento. As “grandes”, por questões de caixa mais restrito de seus controladores (não se assustem se virem nos próximos tempos a indústria automobilística solicitar incentivos junto aos governos para garantir vendas).

A seguir, eis o ranking, distribuído da equipe com situação mais delicada para a mais estável.

10ª posição: Haas

A equipe americana é a que, aparentemente, estaria em situação mais complicada. Antes mesmo da temporada começar, as conversas de uma possível venda já vinham aparecendo. 2019 foi um ano pesado, com toda a história com a Rich Energy veio a desgastar a posição, bem como um carro que não teve um bom desenvolvimento feito.

A base de financiamento da equipe vem dos negócios de fabricação de máquinas automáticas de usinagem (a Haas é a principal empresa deste mercado) e em um momento de economia mundial quase parada, investimentos deverão ser revistos e a carteira de vendas da Haas Automation deverá sofrer uma grande revisão.

Oficialmente, a equipe está envolvida nas negociações para o novo acordo comercial da F1. A equipe desde o início tem uma abordagem bem original em relação a sua estruturação (unidade de potência, cambio, suspensões e direção vêm da Ferrari), o que até causou certo furor.  Mas, neste quadro, Gene Haas não acharia ruim receber uma proposta pela sua operação.

Haas
Divulgação/Haas

9ª posição: Williams

A Williams já mereceu uma análise mais pormenorizada algumas semanas atrás quando veio a notícia de que havia feito um empréstimo estimado em 50 milhões de libras esterlinas junto a uma das empresas de Michael Latifi (pai de Nicolas Latifi e megaempresário do ramo alimentício), dando como garantia parte de suas instalações e os carros que tem em seu departamento histórico.

O passo dado pela equipe já era ousado em tempos “normais”, que incluiu também a venda do controle da sua lucrativa subsidiária de engenharia (que respondia por cerca de 25% das receitas). Na atual conjuntura, as coisas ficaram mais complicadas. Muitos dão como certo que a Williams foi uma das equipes que recebeu o apoio financeiro da Liberty.

A Williams é uma das que torcem para que a temporada aconteça de qualquer forma para poder garantir o seu fluxo de caixa. Outra torcida é que o grupo RoK cumpra o contrato integralmente (ROKiT, ABK Beer e outras marcas).

Quais equipes podem potencialmente deixar a F1? Veja o ranking
Nicholas Latifi (Williams FW43) / Foto: Josep Lago /AFP

8ª Posição: Alfa Romeo Sauber

Como assim? Não é uma equipe com apoio de montadora? Como pode estar em perigo? Bem, vamos lá…

Cabe lembrar que o acordo entre Alfa Romeo (grupo FCA) e Sauber é de…patrocínio. A marca italiana entrou como a patrocinadora master do time suíço, em um acordo previsto para durar até o fim de 2021. Além de dinheiro, também envolve apoio técnico.

Formalmente, a Sauber ainda existe (a parte de engenharia continua atuante, contando um dos túneis de vento mais avançados da Europa) e seria uma espécie de operadora da equipe, com a Alfa dando nome e pagando as contas. E o controlador da equipe continua sendo o fundo de investimento Longbow (vindo em 2016).

O envolvimento da Alfa Romeo, pensado ainda por Sergio Marchionne, numa situação de promoção da marca como “premium”, já vinha sendo repensado. As vendas da montadora estagnaram em 2019 e alguns a consideravam como elegível de uma possível venda diante das necessidades da FCA se lançar em um grande programa de investimentos visando a eletrificação.

Com a fusão da FCA com o grupo francês PSA (Peugeot/Citroen), a indefinição aumenta, pois hoje a Itália é um dos problemas da nova sociedade (mesmo antes da pandemia, as plantas italianas do grupo tinham um grande nível de ociosidade). Neste quadro, a Alfa Romeo tem que mostrar serviço e não está claro se os investimentos previstos abrangerão uma nova linha de automóveis.

Quais equipes podem potencialmente deixar a F1? Veja o ranking
Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) Testes da F1 em Barcelona / Foto: Alfa Romeo

7ª Posição: Alpha Tauri

A antiga Toro Rosso mudou de nome para este ano. A controladora Red Bull resolveu promover a sua grife de roupas, tal qual uma certa marca italiana fez na década de 80 e ajudou a alavancar o seu alcance mundial (Benetton).

A operação baseada em Faenza (Itália) custa cerca de US$ 100 milhões/ano para os taurinos. E para cortar gastos, parte das peças da “nave mãe” são utilizadas, no mesmo esquema Haas/Ferrari (o carro da Toro Rosso de 2019, o STR14 usou a parte traseira do RB14).

A equipe tem por objetivo declarado ser uma satélite da Red Bull para desenvolver os pilotos do seu programa e utilizá-los na equipe principal. Mesmo assim, tem que vender muita latinha para pagar a conta (e agora roupas também).

No meio das discussões do teto orçamentário, aparentemente o time defendeu a posição de adotar um teto mais baixo. E, caso a ideia de Christian Horner de venda de chassis fosse liberada, certamente seria a primeira cliente da Red Bull…Em 2018, se cogitou a possibilidade da Honda vir a assumir a equipe, o que não aconteceu, embora tenha ajudado a pagar as contas. Mas o fato é que a equipe vem se abrindo a patrocinadores de fora do “ambiente” Red Bull e não desgostaria encontrar alguém para ajudar a pagar a conta…

AlphaTauri
Red Bull Content Pool

6ª posição: Renault

Outra equipe que também vem balançando não é de hoje. No ano passado, a continuidade do projeto foi bastante questionada diante da falta de resultados na pista e pelos números financeiros. Além disso, a empresa passou por uma reviravolta em seu comando, tendo dois CEOs em um ano e tendo um novo para assumir em julho, Luca di Meo, vindo da espanhola SEAT.

Os rumores foram em parte afastados com os anúncios de remodelagem do corpo técnico, visando os trabalhos para o regulamento de 2021. A esperança é que o novo R.S.20 venha a fazer mais do que seus antecessores e ainda dê uma sobrevida à Cyril Abiteboul, chefe da equipe.

Mas os franceses também estão pressionados por queda nas vendas e desafios empresariais (além da vinda do novo CEO, há a importante situação da aliança com a Nissan). Antes da pandemia, a Renault vinha com revisões grandes em seu planejamento plurianual.

O discurso ainda era de envolvimento com a F1, mesmo com a perspectiva de ser fornecedora somente para sua própria equipe (a McLaren deverá usar Mercedes em 2021, mesmo com o carro deste ano). A conferir o que será decidido pela nova cúpula.

Quais equipes podem potencialmente deixar a F1? Veja o ranking
Daniel Ricciardo (Renault RS20) / Foto: LLUIS GENE / AFP

5ª posição: McLaren

Os ingleses começam a colher os frutos de uma grande reestruturação do grupo, incluindo a equipe de Fórmula 1. 2019 foi um ano muito bom e os deixou como a “melhor do resto”, na 4ª posição nos Construtores.

Com a vinda de novos membros, incluindo a chegada de Andreas Seidl, do programa WEC da Porsche, a equipe ganhou novo folego. E o MCL35 é a tentativa de se aproximar um pouco mais do grupo da frente. Outra ação que mostra a gana da McLaren foi o anúncio de fornecimento de motores com a Mercedes a partir de 2021.

O grupo como um todo vinha em bom andamento para garantir uma situação financeira melhor. Mesmo com o aumento de vendas da divisão automotiva (atual locomotiva do grupo, com cerca de 80% das receitas) e os melhores resultados na pista, as contas ainda ficavam no vermelho.

Com a atual situação, deu-se conta que os acionistas, capitaneados pelo fundo soberano do Bahrein (cerca de 58% das ações), reforçaram o caixa em cerca de 300 milhões de libras para dar um resguardo à McLaren.

Carlos Sainz
Divulgação/McLaren

4ª Posição: Racing Point

Em seu último ano com este nome, a equipe inglesa de capital canadense, vai se garantindo. Os investimentos na nova sede foram mantidos (fica pronta em 2021) e o objetivo é se posicionar para ser a “melhor do resto”.

Lawrence Stroll mostrou a que veio e comprou parte das ações da Aston Martin. Com a queda das ações por conta da pandemia, expandiu sua participação e assumiu o posto de CEO da montadora. Além de garantir que a Racing Point se tornará Aston Martin em 2021, sendo efetivamente “time de fábrica”.

O aumento do envolvimento com a Mercedes ficou clara com a apresentação do RP20, uma cópia rosa da Mercedes W10, o que suscitou reclamação de várias equipes. De acordo com Andrew Green, Diretor Técnico da equipe, a FIA esteve fiscalizando todos os projetos e deu o OK.

De fato, o desenvolvimento deste carro já foi feito no túnel de vento de Brackley (instalações da Mercedes) e o objetivo é estreitar cada vez mais relações para ter ganhos técnicos e financeiros. O objetivo é igualar um pouco a relação Haas/Ferrari, mas sem deixar tão dependente da “nave mãe”.

Se discute uma possível participação de Toto Wolff no futuro da equipe, pois é muito amigo de Lawrence Stroll e participou do investimento na Aston Martin (ok, a participação inicial de quase 5% minguou para menos de 1%). Esta possibilidade foi descartada em um primeiro momento. Mas o fato é que o grupo de investidores tem caixa para bancar a brincadeira.

Quais equipes podem potencialmente deixar a F1? Veja o ranking
Lance Stroll (Racing Point RP20) / Foto: LLUIS GENE / AFP

3º Red Bull

As latinhas de energético mais rápidas do planeta continuam mantendo seu compromisso com a F1. O objetivo é sim disputar títulos e fazer ainda que Max Verstappen seja o campeão mais jovem da categoria.

Um lado foi aliviado com o anúncio da Honda em prorrogar o vínculo atual até 2022. A perda do apoio da Aston Martin (cerca de US$ 10 milhões/ano) não chega a ser uma grande ferida no quadro geral.

Entretanto, não se tem ideia do impacto da atual situação econômica nas vendas da Red Bull, bem como pensará os japoneses diante da situação. Em 2008, com a recessão provocada pela crise nos EUA, fecharam a equipe e foram embora. Há uma possibilidade de repetição? Uma saída poderia acontecer mais à frente.

Mas não apostaria as fichas nesta possibilidade, pois desta vez os japoneses conseguiram fazer um motor que funcionasse e, mais importante, voltaram a vencer. Isso foi determinante para que decidissem continuar na categoria e este aspecto pesa em uma revisão de planos. Afinal de contas, 12 anos atrás a situação competitiva era bem diferente.

Como dinheiro não aceita desaforo, há de se pensar o que passa na cabeça de Dietrich Mateschitz, CEO da Red Bull…

Red Bull
Red Bull

2º Mercedes

A dominadora da categoria poderia agora estar em uma situação mais tranquila. Mas não é bem assim…

Já acompanhamos a discussão se a Mercedes ficaria ou não na F1. A mudança de CEO em 2019 acendeu uma luz amarela. Embora conhecesse bem o programa de competições, Ola Kallenius assumiu com um programa de corte de gastos e um forte compromisso com a eletrificação da linha de produtos.

Em um primeiro momento, esta possibilidade foi afastada pelo fato do investimento feito pelos alemães dar bastante retorno (20% do orçamento – cerca de US$ 400 milhões – é bancado pela montadora, com o restante sendo coberto por patrocinadores e premiações). Embora não oficialmente, se dá como certa a adesão da equipe ao novo acordo comercial, o que garantiria a permanência até 2025 na categoria.

Só que as vendas caíram em 2019 e os custos com o Dieselgate (escândalo de falsificação de dados de emissão) ainda impactam no balanço. Não há uma previsão das vendas este ano, mas não são poucos os analistas que esperam perdas significativas. A conferir também como será o posicionamento da malaia Petronas diante das condições adversas do mercado de petróleo.

Uma posição de defesa é que se aventa a possibilidade de parte dos gastos com a renovação de contrato de Lewis Hamilton venha dos patrocinadores pessoais do piloto, o que reduziria um pouco a pressão sobre o caixa. Entretanto, as incertezas estão no ar.

Quais equipes podem potencialmente deixar a F1? Veja o ranking
Lewis Hamilton (Mercedes) Testes da F1 em Barcelona / Foto: Josep LAGO / AFP

1º Ferrari

Os italianos, em tese, seriam os mais seguros. Embora a queda nas vendas de seus carros é um cenário altamente provável diante de uma economia em recessão, a Ferrari conseguiu construir nos últimos anos uma imagem de luxo. Tem hoje uma das marcas mais valiosas do mundo e, na atual conjuntura, suas ações na bolsa não sofreram perdas significativas.

Pelo lado empresarial, a Ferrari vai muito bem, obrigado. A F1 tem um impacto estimado de 20% dos gastos da empresa. E é uma de suas principais vitrines. Só que hoje a F1 depende mais da Ferrari do que o contrário.

Semanas atrás, Mattia Binotto, chefe da equipe, deu uma declaração em relação ao corte de que está sendo discutido em relação ao teto orçamentário, que a Ferrari poderia considerar abraçar outros programas esportivos para manter o departamento de competições com o maior número de funcionários ativos, evitando demissões.

Mesmo com a mudança da FIA em seus regulamentos desobrigando a existência da unanimidade para mudanças regulamentares, a Ferrari ainda está em posição de influenciar os rumos e aparentemente mantem certos privilégios nos novos acordos da F1 a partir de 2021.

Nesta situação toda, a Ferrari seria aquela que é menos impactada neste cenário incerto de uma F1 que luta a todo custo botar seus carros na pista ainda este ano.

Quais equipes podem potencialmente deixar a F1? Veja o ranking
Charles Leclerc (Ferrari) Testes da F1 em Barcelona / Foto: Josep LAGO / AFP

Lembrando que este é um ranking baseado nas informações disponíveis e em cima de opiniões. O leitor não é obrigado a concordar com a classificação feita aqui. O importante é provocar a discussão e jogar uma luz sobre uma situação em que tudo está muito fluido, mudando a cada dia.

 

Receba as notícias da F1Mania.net pelo WhatsApp: https://chat.whatsapp.com/KfnRVB3rgC9KteRiZxfSRY

Siga-nos nas redes sociais:
Twitter – https://twitter.com/sitef1mania
Facebook – https://www.facebook.com/sitef1mania
Instagram – https://instagram.com/sitef1mania

Inscreva-se em nosso canal no YouTube: https://www.youtube.com/user/f1mania?sub_confirmation=1

Está no ar o Episódio #8 do Podcast F1Mania.net Mundo Afora – Entrevista com Sérgio Sette Câmara, alterações na pontuação de superlicença e novo calendário do Mundial de Endurance. A análise é dos jornalistas especializados em esporte a motor Alexander Grünwald, Felipe Giacomelli e Leonardo Marson. Ouça:
Spotify – http://f1mania.vc/auV
Google Play Music – http://f1mania.vc/auU
Deezer – http://f1mania.vc/auX
iTunes – http://f1mania.vc/aRy

 

Confira o destaque do canal da F1MANIA no YouTube: F1Mania.net Pro eSports Race – 1ª edição