A aguardada terceira temporada de Drive to Survive (ou Dirigir para Viver, em português) foi disponibilizada na última sexta-feira (19 de março) na Netflix. Com acesso a alguns dos bastidores da temporada 2020 da Fórmula 1, a produção é – assim como foi nos dois últimos anos – obrigatória para os fãs da categoria.
O acesso a alguns dos grandes momentos do ano foi bem explorado mais uma vez pelos profissionais da série. A equipe da Netflix conseguiu novamente humanizar as estrelas da Fórmula 1 e contar suas histórias de maneira agradável tanto para o fã incondicional quanto para a audiência casual, criando drama em narrativas bastante originais e tendo como base a palavra dos próprios pilotos e chefes de equipe.
Entretanto, para quem acompanhou a série nos últimos anos, é possível ver que os habitantes do paddock tomaram bem mais cuidado com as equipes de filmagem do documentário durante esta temporada, reconhecendo momentos em que estavam sendo gravados e claramente se privando de alguns atos em frente às câmeras.
Isso pode ser em parte explicado pelo fato de os paddocks da F1 terem em 2020 sensivelmente menos pessoas devido à pandemia do coronavírus, impedindo que o agito e o calor humano pudessem aflorar em alguns momentos e até camuflar a presença das câmeras.
Assim, a série pecou em alguns pontos para quem esperava mais bastidores do que nos dois últimos anos. Porém, se por um lado o menor acesso é compreensível, a grande mancada de Drive to Survive 3 é “esquecer” das incríveis marcas alcançadas por Lewis Hamilton. Entre os dez episódios, não há nenhum dedicado aos feitos alcançados pelo britânico, que se tornou o maior vencedor da história da F1 em Portugal e igualou os sete títulos de Michael Schumacher na Turquia. Na verdade, tanto as conquistas quanto essas duas provas importantíssimas mal são citadas.
Por isso, apesar de vários pontos positivos, não creio que seja possível dar mais de 7/10 para a produção deste ano. A série é boa, mas acabou decepcionando ao não mostrar a consagração de Hamilton, além de não citar os retornos de Nico Hulkenberg ao grid e falar pouco do drama vivido por George Russell no GP de Sakhir.
Falemos então da série episódio por episódio (ATENÇÃO! A partir daqui, contém spoilers):
O dinheiro manda
O início da série retrata os testes de pré-temporada e a tentativa de fazer a abertura do mundial na Austrália. Em meio a um senso estranho de que a então epidemia de coronavírus pudesse vir a ser algo maior, as estrelas do espetáculo começam a falar de suas expectativas para 2020. O principal foco é Lance Stroll e seu pai Lawrence, que têm seu núcleo desenvolvido dando ênfase ao fato de serem bilionários e este dinheiro estar transformando a Racing Point em uma força do futuro. No fim, o circo chega a Melbourne e é obrigado a desistir de correr devido à ameaça da covid-19. Mas afinal, por que a F1 foi até a Austrália com todos os riscos sanitários? A resposta na série é uma só: o dinheiro mandou.
De volta às pistas
O episódio trata do retorno do mundial, no início de julho na Áustria. O drama vivido pelos times durante os meses de incerteza é ilustrado pelas rotinas diferentes de Zak Brown e de Christian Horner nas fábricas de suas respectivas equipes, McLaren e Red Bull. No fim, a abertura da temporada ganha destaque, com as pressões por resultado sofridas por Alexander Albon antes da prova, seu toque com Lewis Hamilton durante o GP e o primeiro pódio de Lando Norris.
Provando o próprio valor
Este episódio é o momento do ano no qual a equipe da Netflix teve acesso aos bastidores da Mercedes, durante o GP da Rússia. A prova poderia marcar a 91ª vitória de Lewis Hamilton, igualando o recorde de Schumacher, mas no fim – pela punição ao britânico por treinar largada no local errado a caminho do grid – acabou marcando a redenção/vitória de Valtteri Bottas. O foco do episódio é a história do finlandês, relegado a “segundão” de Hamilton, mas que revela ter dado vácuo de propósito a Max Verstappen na classificação para sair de terceiro e ter a chance de atacar o pole Hamilton na primeira freada em Sochi usando o vácuo do parceiro.
Precisamos falar sobre a Ferrari
Utilizando o acesso privilegiado que teve durante as corridas italianas à Ferrari, este episódio é um dos melhores da nova temporada. Ele conta os bastidores do ano ruim da Scuderia, dando destaque ao abandono duplo em Monza e à saída turbulenta de Sebastian Vettel. É possível ver nitidamente a relação desgastada do alemão com a equipe – desde o time de marketing à cúpula central. No fim, Seb “se vinga” anunciando sua ida para a Aston Martin dias antes do GP 1000 da Ferrari na F1 (Mugello) e da festa programada para celebrar a ocasião.
Rompimento
Pegando carona no fim de ciclos, este episódio conta os bastidores da saída de Daniel Ricciardo da Renault. É possível ver o quanto Cyril Abiteboul ficou incomodado com a decisão do australiano de ir para a McLaren e o quão ruim ficou a relação dos dois após o ocorrido. O resto do episódio trata do protesto de Renault, McLaren, Williams e Ferrari contra a legalidade da Racing Point, apelidada de “Mercedes rosa” por sua semelhança com o carro de 2019 da equipe alemã. A multa e a perda de apenas 15 pontos no mundial pelo time britânico são vistas como uma derrota política para a equipe francesa.
O retorno
Outro ponto alto da série. O episódio trata da história de Pierre Gasly, rebaixado da Red Bull em 2019 e vencedor do GP da Itália em 2020 com a AlphaTauri. Apesar das boas atuações do francês no time B, o chefe da Red Bull Christian Horner nega que tenha interesse nos serviços do piloto novamente. Por sua vez, Pierre segue afirmando ter como objetivo retornar ao time principal da marca. Após as falas, a corrida de Monza é retratada, e mesmo com a incrível vitória de Gasly, Horner parece não se convencer – apesar de o dirigente já mostrar insatisfação com Albon.
A difícil escolha de Gunther Steiner
O episódio revela um pouco dos bastidores das equipes menores, como Alfa Romeo e Haas. As duas estão atrás de Mick Schumacher – então líder da Fórmula 2 – para a temporada 2021. De maneira surpreendente, a série teve acesso à reunião de Steiner com a empresa alemã 1&1, que se interessa em estampar seus logos no carro do time caso um piloto alemão seja contratado. Como resultado da chegada de Mick, Kevin Magnussen e Romain Grosjean são dispensados. No fim do episódio, Steiner cita a contratação de Nikita Mazepin, dizendo que seu pai – que “possui uma bem-sucedida companhia” – talvez também queira usar os carros do time para anunciar a empresa.
Sem arrependimentos
Focado na disputa interna feroz dentro da McLaren, o episódio traz o “bromance” vivido por Carlos Sainz Jr e Lando Norris. A narrativa faz crer em um favorecimento a Norris em seu segundo ano na equipe por uma suposta predileção do CEO Zak Brown e por Sainz estar de ida para a Ferrari. E o espanhol, mesmo vendo os problemas da equipe de Maranello em Monza após chegar em segundo, afirma que não se arrepende de ter assinado com o time – algo que Norris diz duvidar.
Um grave acidente
O melhor e mais longo episódio da temporada (com 51 minutos). Nele os pontos centrais são as duas histórias mais impactantes do fim de 2020. Primeiro, o terrível acidente sofrido por Romain Grosjean no GP do Bahrein. O piloto dá detalhes do drama vivido ao tentar escapar do carro em chamas. O lance é bem explorado, com palavra do médico Ian Roberts e da esposa do francês, Marion. A segunda parte do episódio fala sobre a apoteótica vitória de Sergio Pérez no GP de Sakhir, vindo de último após um acidente na primeira volta. No fim do episódio, Christian Horner liga para o mexicano no meio de uma entrevista para a Netflix e, no viva-voz, confirma que ele substituirá Albon em 2021. Fake? Com certeza. Mas cativante.
A batalha chega ao fim
O último episódio tem como foco a disputa pelo terceiro lugar no campeonato de construtores, disputado por Racing Point, McLaren e Renault no GP de Abu Dhabi. A consagração da McLaren, fazendo sua melhor temporada desde 2012, recebe bastante atenção da produção. No fim do episódio, a série “lembra” de Lewis Hamilton e o traz para falar da importância de sua figura para minimizar o preconceito racial no mundo. Ele declara que pretende usar sua imagem para que cada vez mais o racismo seja combatido.
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