Rob Smedley, ex-engenheiro de corrida conhecido por suas mensagens icônicas a Felipe Massa na Ferrari, acredita que os engenheiros de hoje precisam adotar uma abordagem mais firme e direta ao lidar com os pilotos da Fórmula 1. Durante entrevista ao podcast The Red Flags, Smedley destacou que as comunicações atuais muitas vezes carecem de assertividade.
“Em geral, acho que na Fórmula 1 de hoje há muita enrolação,” disse ele. “Do jeito que as mensagens de rádio são transmitidas ao piloto – não assisto a todas as corridas, mas nas que assisto fico pensando: ‘Pelo amor de Deus, tenham coragem. Apenas digam o que precisam dizer, certo?’”.
“Se você der um centímetro a um sociopata narcisista, ele vai tomar um quilômetro,” explicou Smedley. “Então, não dê nem esse centímetro para começar. Não dê a entender que você tem algum tipo de complexo de inferioridade e vai dizer algo de forma hesitante… Não, amigo, estamos no trabalho, certo? Vou dizer algo e você faz. É assim que o mundo funciona”.
“E se não fizermos isso – desde que não estejamos trabalhando para narcisistas e sociopatas que nos mandem fazer coisas erradas – em um ambiente de alta pressão como este, tudo vai sair dos eixos. Vai desandar completamente. Então, vamos estabelecer essas regras básicas sobre como todos nos comunicamos. As regras de engajamento, de como falamos uns com os outros.”
Smedley destacou que os engenheiros não devem hesitar por medo de ferir os sentimentos dos pilotos. Para ele, decisões firmes são essenciais em um ambiente de alta pressão como a F1. “Há muita dúvida, tipo: ‘Devo tomar uma decisão? Devo pedir para este piloto abrir passagem ou para aquele outro fazer isso? Será que ele vai ficar magoado?’”.
“Olha, no fim da corrida, só vai ter um piloto feliz, certo? Você não pode agradar a todos ao mesmo tempo. Então, simplesmente tenha coragem e tome as decisões que precisa tomar. Acho que isso é verdade tanto na Fórmula 1 quanto na vida. Se você ficar pisando em ovos e tiver medo de tomar uma decisão, acaba no pior lugar possível.”
Um exemplo positivo, segundo Smedley, é a relação entre Max Verstappen e seu engenheiro Gianpiero Lambiase. Ele elogiou a maneira como Lambiase conduz as conversas com o tetracampeão mundial. “Entre Max e GP, eles definitivamente acertaram essa relação. GP fala como as coisas são, e Max responde à altura”.
“Uma coisa que realmente gosto no GP – e isso é muito parecido com o que eu sempre senti também – é que às vezes os pilotos podem ter uma visão ligeiramente sociopata sobre a equipe. São pessoas que ficam trabalhando até meia-noite muitas vezes para você, garantindo que tudo esteja certo”.
“Acho que a forma como Gianpiero se conduz no rádio é provavelmente um reflexo da relação real deles,” disse Smedley. “Eles têm uma relação boa, que funciona, em que ambos confiam plenamente um no outro”.
“Quando você tem isso, pode falar do jeito que quiser. Não precisa dessa coisa tipo, ‘controle’, ‘cheque’, ‘dez-quatro’, toda essa besteira, certo? Estamos verificando, então anda logo porque estou dirigindo um carro a 320 km/h.”
Apesar das críticas, Smedley deixou claro que entende o desafio da profissão, mas acredita que uma comunicação direta e confiante é fundamental. Ele agora está focado em sua iniciativa de kart para jovens talentos, a FAT Karting League, cujo objetivo é democratizar o acesso ao automobilismo. “Eu queria fazer algo que retribuísse,” explicou ele. “Venho de uma origem humilde e acabei nessa posição dos sonhos na Fórmula 1, construindo, acho, uma vida dos sonhos. Então sei que tive muita sorte. Sei que foi uma questão de ‘estar no lugar certo, na hora certa’. Foi assim que consegui muitas das minhas oportunidades”.
“Por isso, comecei a refletir e pensei: quais eram as chances de um garoto como eu chegar à Fórmula 1 e ter sucesso nela? Não sei, tipo uma em 10 milhões, 100 milhões, um bilhão. Então comecei a pensar em como diminuir essas probabilidades. Como melhorar as chances para crianças de origens mais normais chegarem à Fórmula 1?”