Stroll, Aston Martin e F1: muito além de um capricho de pai

Começou como um rumor no início de dezembro e nesta sexta-feira, dia 31, houve a confirmação: um consórcio liderado por Lawrence Stroll (com vários nomes que participaram também da aquisição da Force India) foi anunciado como comprador de 16,7% das ações da inglesa Aston Martin, em um valor de US$ 182 milhões. De acordo com o comunicado emitido pela montadora, um investimento suplementar de US$ 318 milhões está previsto para ser feito após o anúncio dos resultados de 2019. Além disso, Lawrence Stroll assume o posto de Diretor Executivo da empresa.

Este anúncio detonou uma série de ações: a Racing Point anunciou um “acordo inicial de 10 anos” com a Aston Martin e a troca de nome da equipe a partir de 2021, bem como. Ao mesmo tempo, a Red Bull confirmou o fim do acordo com a montadora este ano (que era a previsão inicial) e a continuidade do projeto do hipercarro Valkyrie, desenvolvido pela área técnica dos taurinos.

A tendência que se tem é pensar que a participação de Lawrence Stroll na F1 tem tudo a ver para agradar o seu rebento Lance. Mas tem muito além disso….

Não podemos deixar de lado o aspecto paterno. Afinal de contas, que pai não faria o que estivesse ao seu alcance para agradar o filho? Mas vai muito além disso. Pouca gente sabe, mas Stroll, além de biliardário (fortuna estimada em US$ 3 bilhões) é dono de uma grande coleção de Ferrari e também do circuito de Mont-Tremblant no Canadá. E antes de tudo é um negociante. Foi um daqueles empresários que conseguiram construir um império do nada e coleciona uma série de bons negócios.

A aquisição da Aston Martin se enquadra no tipo de negócio que Stroll é especialista: construção de marcas. Grifes como Tommy Hillfinger e Michael Kors tiveram um grande crescimento graças ao seu tino. E os ingleses tem tradição e necessitavam, além de dinheiro, de um impulso para refazer a sua imagem junto ao público. A aposta no SUV DBX vai neste encontro e é tido como uma “bala de prata” para a recuperação da montadora.

E a entrada da montadora na equipe era algo buscado desde o início. A intenção de Stroll era colocar um nome clássico ao time. Tanto que iniciou negociações para usar a marca Lola, mas desistiu pelas implicações judiciais. Depois, conversou com os herdeiros da Brabham, mas não chegou a um acordo.

O investimento feito na F1 não é uma simples brincadeira. A Racing Point está construindo uma nova sede na Inglaterra, que fica pronta no ano que vem, e investindo em estrutura. Até hoje, a equipe ainda usa a base da antiga Jordan e vem se espalhando, mas com sérios problemas organizacionais. Em uma entrevista dada alguns dias atrás, o chefe da Racing Point, Omar Szafnauer, disse que Lawrence participa muito mais do dia-a-dia do time, estando na fábrica de duas a três vezes por semana.

O uso do nome Aston Martin dá mais respeitabilidade para um time reconhecido como promissor, mas que sofria com a falta de recursos. O próprio time reconhece que este ano será mais estruturado, pois a chegada de Stroll veio em um momento que acabou impactando no desenvolvimento do carro de 2019. Como negócio, faz todo o sentido: uma empresa que precisa de dinheiro e se reinventar, que recebe a chegada de um empresário reconhecido por sua capacidade de marketing e um time em ascensão que recebe uma injeção de tradição. Na teoria, tudo se encaixa.

Antes de ser pai, Lawrence Stroll é negociante e chegou onde está por sua competência. Pode dar certo? Não. Afinal, faz parte do capitalismo assumir o risco. E não levaria outros consigo se não fosse um com negócio (um dos membros do consórcio é o CEO da JCB, um dos maiores fabricantes de máquinas pesadas do mundo e um notório colecionador de Aston). Claro que a zoeira existe e até é salutar até certo ponto. Mas dinheiro não aceita desaforo e Lawrence Stroll não é bobo.

Esta é uma coluna do jornalista Sérgio Milani, não necessariamente representa a visão da F1Mania.
 

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