Há exatos 40 anos, 30 de março de 1980, Nelson Piquet vencia sua primeira corrida de Fórmula 1 e Emerson Fittipaldi conquistava seu último pódio
O dia 30 de março de 1980 foi um dos dias mais emblemáticos para a Fórmula 1. Nelson Piquet conquistava sua primeira vitória aos 27 anos de idade e, ironicamente, também marcava o último pódio do bicampeão Emerson Fittipaldi – em um tipo de troca de bastão entre a geração de ouro do Brasil no esporte. Tragicamente, o dia também viu o grave acidente que deixou Clay Regazzoni paraplégico.
A Fórmula 1 em 1980 tinha um grid de peso. É difícil escolher os pilotos sem cometer “injustiça”, mas entre eles estavam, além de Fittipaldi e Regazzoni, Rene Arnoux, Didier Pironi, Jody Scheckter, Keke Rosberg, Alan Jones, Gilles Villeneuve, Carlos Reutemann, Elio de Angelis, Mario Andretti…
O GP dos Estados Unidos foi a quarta etapa da temporada de 1980. Piquet (Brabham) também conquistara sua primeira pole position na ocasião, seguido por Arnoux (Renault) e Patrick Depallier (Alfa Romeo). Emerson Fittipaldi, com o Fittipaldi F7, era o último no grid de largada – que viu três pilotos eliminados durante a qualificação para compor o grid máximo de 24 carros. Entre os eliminados, Stephen South, que substituía o então estreante Alain Prost na McLaren, depois que o francês teve o pulso quebrado durante a corrida na África do Sul.
O GP dos EUA de 1980: Piquet vence de ponta a ponta; Fittipaldi escala pelotão para garantir o pódio
Piquet largou bem – em um dia que a geração de imagem errou na transmissão não mostrando o primeiro movimento dos carros para todo o mundo – e não foi desafiado pelos seus rivais em nenhum momento da movimentada corrida. Seu companheiro de equipe, o argentino Ricardo Zunino, se envolveu em um acidente com Andretti (Lotus) na primeira curva – a Queen´s Hairpin – após a largada e foi o primeiro dos 14 carros que não terminariam o Grande Prêmio. Logo após, o recém campeão da F1 Andretti (Lotus) também abandonaria, em um dia que marcava sua corrida de número 100 na categoria. Jan Lammers (ATS) deixava a disputa com problemas na transmissão. Na confusão causado por Zunino, Jochen Mass (Arrows) e De Angelis (Lotus) caíram para o fim do pelotão.
Enquanto isso, Fittipaldi foi cauteloso na largada e era o 19º no final da primeira volta. Dois giros depois, De Angelis ultrapassou o brasileiro, que agora era o 20º dos 21 carros restantes.
Bruno Giacomelli (Alfa Romeo) rodou na entrada da Queen´s Hairpin na volta 4 e uma fila se formou atrás do italiano – que ficou parado no meio da pista. Entre eles, De Angelis e Jean-Pierre Jarier não conseguiram retornar à corrida, enquanto Reutemann tinha problemas em sua caixa de câmbio e também abandonou. Fittipaldi aproveitaria a oportunidade para passar Giacomelli, Scheckter (Ferrari) e Eddie Cheever (Osella) que ficaram presos na confusão e assumia a 14ª posição.
Na volta 9, Jean-Pierre Jabouille (Renault) teria um problema e era chamado aos boxes, retornando à pista nas últimas posições. Fittipaldi fazia boa manobra sobre John Watson (McLaren), subindo para a 12ª posição. Algumas voltas depois, no giro número 15, o adversário era seu companheiro de equipe na Skol Fittipaldi Team Keke Rosberg, que perdia rendimento com seu F7. Fittipaldi não teve problemas para assumir o 11º posto. Cinco voltas depois, o bicampeão já ocupava o top 10 depois de ultrapassar a Tyrrell de Derek Daly.
Pouco mais de 10 giros depois, na volta 27, Pironi teve problemas em sua Ligier e foi para os boxes. Fittipaldi, que largara em 24º, já era o nono colocado e disputava posição com Regazzoni (Ensign), mas sofria pressão de Giacomelli e Watson. Na 35ª volta, Giacomelli fez uma dupla ultrapassagem sobre Fittipaldi e Regazzoni, mas o brasileiro ganhava outra posição depois do abandono de Jacques Laffite (Ligier) – que teve um furo no pneu.
Quatro voltas depois, um problema na suspensão atingiu a Alfa do experiente Depallier, na volta 40, e reduziu para 15 o número de carros na corrida, deixando Fittipaldi na oitava posição. Depallier faria uma de suas últimas participações na F1, morrendo algum tempo depois em um acidente durante um treino em Hockenheim, no dia 1º de agosto daquele mesmo ano.
Villeneuve teve problemas na caixa de câmbio de sua Ferrari e foi para os boxes, abandonando a corrida, antes de Jones rodar e bater na complicada Queen´s Hairpin, na volta 47. Giacomelli também abandonaria dois giros mais tarde ao bater sua Alfa Romeo 179 nas proteções.
Emerson continuava sua escalada no grid e já era o quinto colocado. Piquet liderava tranquilamente.
O acidente de Regazzoni
Na volta 50, o trágico acidente de Regazzoni. O suíço ocupava a quarta posição e era pressionado por Fittipaldi. Clay perde os freios na grande reta e acerta em cheio o carro de Zunino, estacionado na área de escape da Queen´s Hairpin desde a primeira volta da corrida. Uma grande explosão ocorre e Regazzoni fica preso nas ferragens por longas 20 voltas – enquanto a corrida acontecia normalmente. Ele foi levado ao hospital com várias fraturas e, mais tarde, foi informado que o piloto não teria mais movimentos da cintura para baixo.
Com o acidente de Regazzoni, Fittipaldi assumia a quarta posição, mas sofria grande pressão de Watson. Piquet liderava, seguido por Riccardo Patrese (Arrows) e Arnoux. Na volta 56, Fittipaldi não consegue mais se defender e é superado por Watson, que instantaneamente começa a abrir vantagem. Para sorte de Emerson, Watson tem problemas na caixa de câmbio de sua McLaren e o brasileiro consegue a ultrapassagem, recuperando a quarta posição e se consolidando na zona de pontuação.
O pódio era um sonho nessa altura da corrida. Arnoux, em terceiro, abria boa vantagem para o quarto colocado Fittipaldi. Mas, na volta 63, um furo no pneu da Renault de Arnoux obriga o francês a dar uma volta muito lenta, na tentativa de voltar aos boxes para troca, e é superado por Emerson. Faltavam ainda 17 voltas para o fim da corrida, mas o experiente Rato – apelido carinho de Emerson – não seria mais alcançado pelos rivais.
Entrega de bastão
No pódio, Piquet em primeiro, Patrese em segundo e Fittipaldi em terceiro. O Brasil voltava a vencer na F1 depois de cinco anos. A cena ficaria marcada na história da F1 e daria aos brasileiros uma certeza.
Como a troca de bastão em um revezamento, Fittipaldi levanta o braço de Piquet – firmemente empunhando seu primeiro troféu de vencedor – para o alto e o mundo podia então ver, bem diante dos seus olhos, que o Brasil continuaria muito bem representado na Fórmula 1. A bola da vez seria, a partir de então, Nelson Piquet Souto Maior.
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