Sem qualquer margem para dúvidas, a etapa belga foi a mais interessante da temporada 2004 da Fórmula-1. Aliás, a volta da categoria para Spa – circuito em uma belíssima localidade de Francorchamps e venerado por diversos pilotos – reuniu tanta emoção ao espectador quanto os 13 GPs anteriores do ano juntos. Mais que a grande apresentação do quarteto tupiniquim e o regresso da McLaren ao ponto mais alto do pódio, o fim de semana foi repleto de alternâncias.
Afirmar que o evento foi cercado de situações atípicas não é exagero. As três bandeiras amarelas e entradas do safety car na pista serviram para apimentar uma corrida com disputas da primeira até a última volta. Esta também foi apenas a segunda ocasião que choveu em treinos classificatórios desde a implantação do sistema com uma volta veloz por piloto, em 2003.
Em um dos circuitos mais velozes da F-1, repleto de longas retas, além de potência a retomada de velocidade após as curvas também é importante. O equilíbrio do chassi Renault e o já famigerado controle de tração contribuíram para Jarno Trulli, especialista em asfalto molhado, conquistar a pole position. Isso mesmo diante da desvantagem dos pneus Michelin em relação aos Bridgestone – quatro dos seis carros com compostos da marca japonesa largaram entre os oito primeiros. Na corrida, deu Raikkonen.
Com o resultado, a McLaren acabou com um longo período sem vitórias – a anterior havia ocorrido com o próprio finlandês no GP da Malásia, em 23 de março de 2003. Entretanto é necessário conter qualquer entusiasmo: o MP4/19B é um carro mais competitivo que o MP4/19, mas ainda herda alguns problemas aerodinâmicos de seu antecessor. Desde a estréia, em Silverstone, o carro teve bom rendimento em circuitos de alta velocidade, porém deixou a desejar no único desafio em um de baixa (Hungaroring).
De qualquer maneira, a vitória foi um merecido prêmio para Kimi. Após um início de campeonato em que “shows pirotécnicos” do motor Mercedes e desequilíbrio de chassi prejudicaram as valentes atuações do finlandês, nada como ouvir o hino de seu país e sentir o gosto do champanhe.
Quarteto nota 10
Há muito tempo o brazilian team não tinha uma apresentação tão excelente quanto no GP da Bélgica. Rubens Barrichello, Felipe Massa, Antônio Pizzonia e Ricardo Zonta deram um show e chegaram a andar juntos na zona de pontuação, algo que nunca ocorrera em 40 temporadas de participação nacional na categoria.
As chances de vitórias de Barrichello foram alijadas após sofrer toque de Mark Webber na largada. Apesar de duas entradas nos boxes para trocar aerofólio traseiro e bico logo no início da corrida – e voltar na última colocação –, o brasileiro imprimiu forte ritmo e chegou em terceiro lugar. Outro envolvido com o acidente na largada foi Felipe Massa. O paulista passou em cima de detritos de carro e também antecipou sua parada de pit. Mesmo assim, ainda chegou à frente do companheiro de Sauber, Giancarlo Fisichella. Terminou em quarto lugar. Com exceção feita para Barrichello, esse foi o melhor resultado de um brasileiro desde 1994.
Pizzonia teve na Bélgica sua melhor apresentação na F-1. Apenas 14o no grid, mostrou uma condução agressiva e constante. Andou a frente de Juan Pablo Montoya e até chegou a liderar. Abandonou com problemas no câmbio de seu Williams, quando ocupava o terceiro posto, situação parecida com a de Ricardo Zonta. Largando em último, o paranaense mostrou-se consistente e escapou das confusões. A poucas voltas do fim teve o motor quebrado quando já ocupava a quarta colocação.
Realmente, uma participação nota 10 do quarteto brasileiro.
Papo Ligeiro
Despreocupado em Spa – Vencedor de 12 de 14 etapas disputadas no ano, Michael Schumacher não foi nem sombra do piloto insaciável na busca pelos números e correu somente para confirmar o título da temporada. As chances de vitórias aconteceram, especialmente após as últimas duas bandeiras amarelas, mas o alemão sequer esboçou qualquer reação para ultrapassar Kimi. Preferiu manter o segundo lugar e faturar o heptacampeonato com quatro provas de antecedência. Imaginem a festa da tiffosi em Monza, no próximo dia 12.
Rafael Ligeiro