Coluna do Rafael Ligeiro: Vovôs animados

Por Rafael Ligeiro

Se no paddock Michael Schumacher e Olivier Panis caminham como sujeitos que nem chegaram aos 40 anos, quando entram na pista assumem o papel de “vovôs” da Fórmula-1 atual. Tanto Michael, de 35, e Panis, 38, estão bem à frente do padrão quase juvenil instalado na categoria nos últimos tempos. Durante o Grande Prêmio da Bélgica a média de idade dentre os pilotos era de 24,7 anos. Porém ambos se mostram animados para continuarem suas carreiras na principal categoria do automobilismo mundial.

Após assegurar o heptacampeonato na Bélgica, Schumacher voltou a ser “notícia” na semana em outras duas ocasiões. A primeira, pelo acidente que sofreu durante teste em Monza. Já a segunda – e principal delas – foi a entrevista coletiva concedida na quarta-feira. O fato causou estranheza, afinal, Michael jamais havia agendado tal compromisso com a imprensa após seus títulos. O “Será que ele vai se aposentar?” invadiu os meios de comunicação e não tenho dúvidas que muitos colegas de profissão, com olhar ao infinito e pose de profeta, dispararam: “Ele vai parar mesmo.”.

Tudo bem. É verdade que no apogeu de sua forma física e técnica, o alemão encerraria a carreira como poucos campeões conseguiram, detendo quase todos os recordes da F-1. Dinheiro… Obviamente, isso não é problema. Entretanto Schumacher é um homem cego pelo prazer de acelerar, disposto a ampliar seus fantásticos números e desfrutar da excelente estrutura ferrarista.

Alcançar o atual estágio de excelência com a Ferrari foi fruto de muito trabalho e paciência. Bem mais que muitos imaginam. Apesar da badalada transferência da Benetton para o time italiano, Michael sabia que era “o indicado” para reconduzir a equipe ao título no mundial de pilotos. O cunho promissor do projeto jamais foi contestado, especialmente por contar com o staff bicampeão na Benetton, porém cada derrota contribuía para aumentar a expectativa – e especialmente a agonia. Em 1997 e 1998, o caneco bateu na trave, mesmo diante de uma evidente inferioridade técnica para Williams e McLaren, respectivamente. No campeonato de 1999, já havia um equipamento em condições de igualdade para encarar as principais rivais, mas Schummy fraturou as duas pernas, em Silverstone, e ficou fora de diversas provas.

A evolução continuou e, nos últimos cinco anos, ocorreu o resultado do desafio lançado em 1996: uma sucessão de carros espetaculares somados a um piloto capaz de conservar – e até mesmo ampliar – suas qualidades. E os números estão aí. Aliás, uma conceituada revista européia de automobilismo fez uma interessante estimativa sobre as marcas do alemão. Com 18 GPs por ano até 2006, quando termina o atual vínculo contratual com a Ferrari, e a média desde sua chegada ao time italiano, Michael teria ao final dessa temporada 100 vitórias. Mantendo a média de 2000 a 2004, seriam – pasmem – 108 primeiro lugares, 57 à frente de Alain Prost, segundo colocado nessa estatística. Imaginem então se o homem fizer valer sua declaração de que possuí condições de guiar até 2009… !?

Parece exagero, mas não é. Enquanto o binômio Schumacher/ Ferrari estiver nas pistas, somente uma gigantesca reviravolta das rivais tirará o favoritismo de ambos para qualquer conquista. E enquanto isso, o alemão também ganhará mais algumas histórias para contar aos seus netinhos…

O “montanha- russa”

Mesmo sem lugar no grid para a temporada 2005, Olivier Panis continuará nas pistas. O piloto acertou contrato de dois anos para exercer a função de piloto de testes da Toyota. Panis é dono de uma carreira repleta de altos e baixos. Campeão mundial de F-3000 em 1993, o francês chegou à Fórmula-1 com status de piloto promissor. Os bons resultados vieram nos primeiros anos, inclusive a vitória no famoso Grande Prêmio de Mônaco de 1996, prova em que somente três pilotos receberam a quadriculada. Uma temporada depois, com a aquisição da Ligier por Alain Prost, partiria para seu melhor campeonato, entretanto um acidente em Montreal tirou Panis de diversas etapas do ano.

Prejudicado pelo mau rendimento dos carros da Prost e sem resultados significativos nas temporadas de 1998 e 1999, virou piloto de testes na McLaren e voltar a ser titular em 2001, na BAR.

Até a prova de Spa, Olivier havia disputado 155 GPs, com uma vitória, cinco pódios e 76 pontos.

Papo Ligeiro

No rumo certo – E o “Jungle Boy” Antônio Pizzonia continua fazendo bonito nessa passagem pela Williams. Na quinta-feira, o brasileiro quebrou o recorde da pista de Monza. A má impressão deixada na Jaguar, em 2003, já foi apagada e um bom resultado na etapa italiana abrirá ainda mais as portas para o piloto no próximo campeonato.