Coluna do Rafael Ligeiro: Engana que eu gosto

Por Rafael Ligeiro

A Fórmula-1 parece um mundo de esquisitices. Mas, meninos, diria que não é. Cada decisão, por mais simplória ou radical que pareça, é fruto de diversas reuniões – às escondidas. Não foi por mero acaso que, no final da temporada de 1992, o então campeão Nigel Mansell acabou dispensado da Williams. Meses antes, a equipe e Alain Prost já mantinham contato para o retorno do francês às pistas. Logo Renault e ELF se disponibilizaram a pagar o salário do Professor. Além de agradar os parceiros da terra de Bonaparte, Frank Williams colocou, “de graça”, em um de seus carros, um piloto mais talentoso que Mansell, sabendo ainda que o inglês, pelo ímpeto da conquista, deveria pedir um incremento salarial para continuar no time em 1993.

Também não foi por literal casualidade que David Coulthard ganhou um cockpit na Red Bull para 2005. Publicidade e experiência colocaram o escocês na equipe sediada em Milton Keynes.

Logicamente, a escolha de Coulthard ainda deve soar de maneira estranha para muitos. No mês passado, em matéria publicada no jornal italiano La Gazzetta dello Sport, o proprietário da Red Bull, Dietrich Matestrich, havia descartado a possibilidade de contratar Coulthard. Mas Dietrich deu um tempo nas declarações sobre o piloto, viu as negociações com Nick Heidfeld e Anthony Davidson afundarem e certamente percebeu que contar com DC era unir o útil ao agradável. Na F-1, isso significa talento e fatores mercadológicos positivos. Aliás, não duvido que tenha havido indicação de algum remanescente de peso da Jaguar. Em algumas ocasiões nesse ano, o time mostrou interesse no experiente escocês.

Com 175 GPs disputados, David é o terceiro piloto com maior número de corridas no grid atual, atrás somente de Michael Schumacher e Rubens Barrichello. É bem verdade que suas conquistas não são de nenhum Michael, mas sua presença fortalece o time do “touro vermelho” no próximo campeonato. Coulthard será importante no amadurecimento de Christian Klien e Vitantonio Liuzzi, promessas do automobilismo internacional. Além disso, trará informações da McLaren e conhece como poucos o caminho das pedras, devendo comandar a equipe aos seus melhores resultados no ano.

Em termos mercadológicos, inegavelmente, foi uma aquisição de peso. Para a diletante Red Bull, contratar um piloto com passagens por escuderias de primeira linha já é um feito louvável. Imaginem então este sendo Coulthard, o tipo de “menino propaganda” desejado pelos patrocinadores. Jeitão simpático e sincero, o perfil de garotão vai bem de encontro com um dos principais públicos de consumidores das bebidas energizantes made in Áustria. E durante as transmissões em 2005 não duvidem ver David em algumas ocasiões com uma lata de Red Bull nas mãos, bebericando o produto.

E como no trecho de uma música do inesquecível Renato Russo: “E quem um dia irá dizer que não há razão nas coisas feitas pela coração”. E assim vai, Fórmula-1. Esse foi o caminho que você escolheu, então siga. Me engana que eu gosto.