Coluna do Moneytron Onyx: A categoria que não deu certo

Por Leandro Kojima

No final de 1984, foi anunciada a substituição da Fórmula 2. Por motivos financeiros, a categoria começava a ficar insustentável. No lugar, viria uma tal de Fórmula 3000. A princípio, o nome da categoria causou espanto: “Oras, por que ‘Fórmula 3000?’”. A categoria, que tinha esse estranho nome devido ao fato de usar motores 3 litros aspirados, prometia mandar pilotos de qualidade e até futuros campeões à Fórmula 1 e diminuir os custos, que se tornavam absurdos na Fórmula 2 utilizando equipamentos mais fracos mas não menos modernos.

Passados 21 anos, qual foi a realidade? Claro, muitos pilotos chegaram à categoria máxima do automobilismo, alguns bons, outros medianos, outros que não poderiam nem correr em corrida de jegue. Mas os campeões e grandes vencedores, esses não apareceram. Claro, eu devo me lembrar que Damon Hill, campeão de 1996, já passou pela Fórmula 3000. Mas a passagem de Hill pela F3000 foi apenas mediana, pra não dizer decepcionante. Claro também que outros astros da Fórmula 1, como Barrichello (9 vitórias), David Coulthard (13 vitórias), Eddie Irvine (4 vitórias) e Heinz-Harald Frentzen (3 vitórias) também tiveram de brilhar na Fórmula 3000 para conseguir subir pra Fórmula 1. Mas e os campeões da categoria?

Apenas três campeões conseguiram vencer na Fórmula 1, sendo que dois deles (Jean Alesi, 1 vitória em 1995 e Olivier Panis, 1 vitória em 1996) só venceram pelo acaso e por um lapso de sorte (que sempre lhe faltou em suas carreiras). O único campeão da Fórmula 3000 que conseguiu vencer “de verdade” foi Juan Pablo Montoya, com 4 vitórias. Mas já foi o tempo em que Montoya era considerado o grande substituto de Schumacher. E os outros campeões? Alguém se lembra de Christian Danner, Erik Comas, Vincenzo Sospiri, Jean-Christophe Boullion? Pilotos perdidos na história da F1. Alguns até tinham cacife pra chegar ao sucesso, como Stefano Modena, Ivan Capelli e Christian Fittipaldi, mas faltou a oportunidade. Capelli e Modena também viraram apenas lembrança. Christian abandonou a F1 muito cedo e decepcionou na Indy/Cart. Hoje, como um piloto veterano decadente, foi tentar a sorte na Stock Car. Fora alguns que ganharam na Fórmula 3000, mas faltou o lugar na F1, como Jörg Muller, Bruno Junqueira, Sebastien Bourdais e Bjorn Wirdheim.

Existem algumas teorias a respeito disso. Uma delas é a safra de pilotos dominantes na F1. A Fórmula 1 nunca esteve tão injusta e cruel com seus pilotos. Durante a existência da Fórmula 3000, três pilotos passearam na Fórmula 1: Alain Prost, Ayrton Senna e Michael Schumacher. Quando não eram um dos três, era o melhor carro que ganhava, isso notadamente acontecendo mais na Williams. Isso acabava não permitindo chances aos pilotos que emergiam. Outra teoria é a da falta de vagas na Fórmula 1. Quando um piloto vem da Fórmula 3000, geralmente ele pode brigar por quatro vagas: duas na Minardi e duas na Jordan. Quando muito, uma na Jaguar, ou Red Bull hoje. Senão, vai ser test-driver e brincar de dar voltas intermináveis em Barcelona e Jerez. A escassez de vaga acaba não permitindo que novos talentos entrem na Fórmula 1. Veja Vitantonio Liuzzi, por exemplo. O melhor nome italiano no automobilismo de base desde Jarno Trulli. Teve de brigar por uma vaga na Red Bull com Christian Klien, e perdeu. Hoje, está aí, apenas testando peças e acertos.

E a teoria que fala mais forte hoje em dia é a da busca por novos talentos em categorias menores. Kimi Raikkonen veio da F-Renault. Jenson Button e Takuma Sato da Fórmula 3. As equipes estão investindo em certos pilotos até desde o kart, como a McLaren vem fazendo com Lewis Hamilton. Isso acaba prejudicando as categorias maiores, como a Fórmula 3000 e a World Series que, por sinal, também não consegue enviar gente pra F1 (que eu lembre, apenas Justin Wilson, Narain Karthikeyan e Tiago Monteiro).

E diante de tudo isso, a categoria, que tinha corridas que muitas vezes eram mais divertidas que a da Fórmula 1, acabou morrendo em 2004, com pilotos ruins, carros piores, corridas terrivelmente chatas e quase nenhum dinheiro. E fica a expectativa de que a Fórmula GP2 não siga o mesmo caminho. E que ela, por direito, faça o que deve fazer: mandar gente boa à Fórmula 1.