Pelo que o carro da Williams passou a andar desde Mônaco e os oito pódios seguidos de Montoya, enquanto Schumacher ia ficando cada vez mais para trás, a ponto de tomar volta do vencedor Fernando Alonso naquela pistinha da Hungria, era de se duvidar que a Ferrari pudesse reagir mesmo correndo em casa. Mas quando se trata de Schumacher e da Bridgestone, nada é impossível. O amigo leitor está aí para confirmar quantas vezes eu disse que não se podia duvidar da capacidade dos japoneses em criar um novo pneu e desfazer a vantagem que a Michelin vinha levando nas corridas mais quentes da Europa.
Junte-se a isso o fato de Schumacher ter pedido para voltar a correr com o carro que estava aposentado desde a corrida da França, em julho. Nem se trata de superstição, mas de uma confiança maior neste chassi número 229, com o qual ele havia ganhado na Espanha, Áustria e Canadá, e feito dois terceiros em Mônaco e na França. Desde que mudou para o chassi 231, o mais novo de todos, ele havia marcado apenas oito pontos em três corridas. E agora, que já são quatro as vitórias do carro mais velho, somando 56 pontos de um total de 82 (68,29 por cento), o alemão tem razões de sobra para continuar com ele nas duas etapas finais do Mundial. Daquele que foi usado na Inglaterra, Alemanha e Hungria, Schumacher nem quer ouvir falar. Alguém se lembra de duas atuações tão fracas na carreira do alemão como as de Silverstone e Hungaroring este ano? Na pista inglesa, ele parecia um piloto normal, brigando com Villeneuve pelo nono lugar. Na Hungria, largou em oitavo e chegou em oitavo .
Os sonhos de Montoya e da Williams continuam vivos, segundo o diretor-técnico Patrick Head, que não é de cantar vantagem, mas arrisca a dizer que a Ferrari deu seu último suspiro no campeonato. A Williams é a única equipe que marcou pontos em todas as corridas do ano. Montoya ganhou duas, fez cinco segundos, dois terceiros, um quarto, um sétimo e abandonou três vezes. Ralf ganhou duas, fez um segundo, quatro quartos, um quinto, um sexto, um sétimo, um oitavo, abandonou duas vezes e não correu uma. Nas vezes em que um deles abandonou, o outro marcou ponto. Mesmo com a vantagem caindo de oito para quatro pontos, a equipe mantém a liderança entre os construtores, e em Indianápolis terá a volta de Ralf Schumacher. Um reforço, apesar de Marc Gené ter desempenhando muito bem o seu papel com o 5º lugar depois de três anos sem disputar uma corrida.
Não tão velozes
Os dois circuitos que fecham a temporada têm trechos velozes, mas a velocidade média da corrida fica bem abaixo do que se viu em Monza. Em Indianápolis a média da pole no ano passado foi 213,182 km/h (Schumacher) e a da corrida foi 201,475 km/h (Barrichello). A de Suzuka passa pouco disso: 229,481 km/h (Schumacher) na pole e 212,644 km/h (Schumacher) na corrida. A velocidade média no GP da Itália foi a mais alta da história – 247,586 km/h. O recorde anterior também pertencia a Monza e já durava 32 anos – 242,62 km/h (Peter Gethin, de BRM) no GP de 1971. A diferença, que pode parecer pequena, ganha proporções impressionantes se a gente pensar que, de lá para cá, a pista de Monza ganhou três chicanes de freadas fortes e as corridas passaram a ter pit stops (em duas paradas no box, Schumacher perdeu 60s711). E ainda o fato de a F-1 não mais usar pneu slick. O registro de 368,8 km/h na reta do box, que mostra como Schumacher usou pouca asa, também passa a ser a maior velocidade absoluta da história da F-1, superando em muito a marca de 363,2 km/h de Jean Alesi (Monza, 2001). O recorde da melhor volta (Damon Hill, 1993, a 249,835 km/h) também caiu (de novo, Schumacher, a 254,848 km/h). Só não foi quebrado o recorde da pole por causa do novo sistema de classificação para o grid, em que os carros vão para a pista com mais gasolina. A média da pole em 2002 (Montoya) foi 259,827 km/h. Este ano Montoya chegou a 258,564 km/h no treino livre de sexta-feira e Schumacher marcou a pole a 257,584 km/h.
Pisada de bola
Lendo o que escreveu Flavio Gomes sobre o fato de Montoya não ter conseguido lembrar o nome do húngaro Zsolt Baumgartner, eu prefiro acreditar que não houve intenção de menosprezo e, sim, a habitual dose de irreverência que o colombiano carrega em tudo o que faz e diz. O certo mesmo é a conclusão de que só a idade nos ensina, entre outras coisas, a deixar de ser bobo. De qualquer forma, minha torcida é para que o Montoya já tenha tido tempo para se arrepender, porque isso define o caráter de uma pessoa. Muito tempo atrás, em 85, durante uns dias de descanso antes da última corrida do ano, juntou uma grande turma de gente do automobilismo nas Ilhas Maurício. Alguns jornalistas, gente da FIA, Gerard Ducarouge (na época, engenheiro na Lotus), Ayrton Senna, Galvão e eu. Senna não era ainda muito conhecido e um grupo de uma mesa do lado, ouvindo parte da nossa conversa, perguntou se entre nós havia algum piloto da F-1. Alguém disse que sim e apontou o Senna. Os vizinhos de mesa continuaram na mesma e perguntaram o nome dele. Eu achei aquilo engraçado e resolvi fazer uma piadinha. Emendei com a resposta: Huub Rothengather! (tentando pronunciar com o devido sotaque o nome do piloto holandês, não muito do ramo, que havia feito algumas corridas no ano). Todos nós rimos muito. Mas, cinco minutos depois, sofri um arrependimento enorme, mesmo sem ter tido a intenção do desrespeito.
Paulão de volta
A próxima corrida da Stock-Car, dia 28 no Rio, com transmissão ao vivo da TV Globo, terá a volta do veterano Paulo Gomes, defendendo a equipe NEC/Perkons. Primeiro campeão da categoria em 1979, e há nove meses longe de um cockpit, Paulão nunca se afastou das pistas porque acompanha de perto as carreiras dos filhos Pedro (na própria Stock) e Marcos (na Fórmula-Renault). Mas não agüentou o cheiro da gasolina.
Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.
Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.
Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.