Para se ter uma idéia da dimensão da zebra que teria de ocorrer para Schumacher perder o campeonato, é só verificar que das 150 corridas que ele conseguiu terminar em 13 anos de carreira na F-1, em 145 ele marcou pontos (96,6%).
Claro que ele pode não terminar a corrida por qualquer motivo, mas vale lembrar que este ano isso só aconteceu uma vez (por acidente, em Interlagos) e que falha mecânica, de qualquer espécie, é algo que o alemão não conhece há 37 corridas. Como ele só precisa de um ponto, e pode até não precisar de nada, se Kimi Raikkonen não vencer, a melhor estratégia para a Ferrari nesta decisão é fugir da precaução, partindo com tudo para vencer a corrida. Não obrigatoriamente com Schumacher – aí, sim, uma precaução cabível – porque, deixando esta incumbência mais para Rubinho, a equipe pouparia o alemão de alguns riscos desnecessários.
Uma eventual vitória de Rubinho, além de ser suficiente para dar o título ao alemão, praticamente garantiria também a Ferrari como campeã dos construtores sem depender do resultado de Schumacher. Bastaria, para isso, que a Williams não ficasse com os outros dois lugares do pódio. Para destronar a Ferrari, que vem sendo campeã seguidamente desde 1999, a Williams terá de marcar quatro pontos mais que a equipe italiana em Suzuka. Uma vitória de Rubinho daria 10 pontos para a Ferrari, e um segundo e um terceiro somariam 14 para a Williams. De novo, ficaria faltando um pontinho de Schumacher para garantir à Ferrari a inédita façanha de cinco títulos consecutivos.
A missão quase impossível de Kimi Raikkonen também o obriga a partir para o tudo ou nada, principalmente porque a McLaren não precisa mais nada dele este ano. A equipe ocupa uma confortável terceira posição no campeonato de construtores, sem poder sonhar com o segundo lugar da Williams, mas também sem ser ameaçada pela Renault. O finlandês está liberado para fazer o que puder em busca do único resultado que lhe interessa, que é a vitória. Ele completa agora 50 corridas na F-1 e venceu uma (este ano, na Malásia). O simpático e tímido “homem de gelo” da McLaren entra na história desta decisão como zebra, mas se conseguisse o título, bateria o recorde de Emerson Fittipaldi, ainda o mais jovem campeão da história (25 anos, 9 meses e 28 dias). No dia da corrida Kimi terá 23 anos, 11 meses e 25 dias. Ele completa 24 na sexta-feira que vem.
Ganhar o título de construtores é tão importante para as equipes – não só em termos esportivos, mas também pelas vantagens financeiras na divisão do bolo – que, ao preparar novos compostos de pneus especialmente para a pista de Suzuka, a Michelin joga pensando em Raikkonen, que é da McLaren, mas de olho na briga da Williams contra a Ferrari. As cinco parceiras da Michelin na F-1 (Williams, McLaren, Renault, Toyota e Jaguar) foram consultadas a respeito do pneu e, com base nisso, a fábrica francesa levou quatro diferentes compostos, sendo que três deles nunca foram usados em corridas. Suzuka é conhecida como a pista onde a Bridgestone não perde e, por isso, no período em que os pneus Michelin dominaram as cinco provas mais quentes do verão europeu, Schumacher já dizia que se a decisão chegasse até o GP do Japão, ele apostava na Ferrari.
Pagando dívida – Em 1997, quando Villeneuve e Schumacher disputaram o título na última corrida do ano, em Jerez, McLaren e Williams fizeram um acordo de cooperação contra o inimigo comum, que era a Ferrari. Por força deste acordo, embora nunca confirmado por falta de provas, assim que Schumacher saiu da corrida, Villeneuve se viu obrigado a deixar Mika Hakkinen passar. Muito contra a vontade, o canadense abriu para Hakkinen, e acabou ficando ainda mais irritado porque Coulthard aproveitou o momento e também passou, o que não fazia parte do acordo. No final, a festa pela conquista do título apagou tudo. Na F-1 de hoje, que conta com o agravante de uma guerra entre duas marcas de pneus, comenta-se que a Williams poderia pagar a dívida em favor da McLaren. Mas, além da vigilância atenta da FIA, se depender dos pilotos da Williams, Raikkonen não terá esta ajuda extra. Nem de Montoya e, muito menos, de Ralf Schumacher.
Briga boa – Longe dos líderes, cinco equipes brigarão pelo quinto lugar no campeonato de construtores. Atualmente a posição é ocupada pela Sauber, que marcou 10 pontos em Indianápolis, foi para 19 e saltou do nono para o quinto lugar. Atrás dela vêm BAR e Jaguar, ambas com 18 pontos. A Toyota tem 14 e a Jordan, 13.
Decisões no Japão – Suzuka ganhou sua prova do Mundial em 1987 e, desde então, em 17 edições disputadas, contando com a deste ano, por dez vezes a decisão aconteceu nesta pista. E, mesmo que a decisão tenha ocorrido em outro circuito, curiosamente, desde 95, apenas uma vez o vencedor do GP do Japão não foi também o campeão do mundo (Villeneuve, em 97).
Pensando em Nelsinho – Na semana passada, em Porto Alegre, participei da inauguração da loja BMW dos amigos Renato Conill e Carlos Murgel, comandada por Eduardo Estima. Encontrei pilotos da velha geração, como César “Bocão” Pegoraro e Leonel Friedrich, com quem dividi bons momentos no início de minha carreira, e também a dele, no automobilismo inglês, além do novo amigo João Sant’Anna, parceiro de Nelson Piquet nas Mil Milhas de Interlagos. Aliás, ouvi de Piquet a seguinte frase: “Eu torço para o Schumacher não se aposentar agora, o ideal seria no fim do ano que vem, abrindo vagas exatamente na hora em que vamos precisar delas”.
Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.
Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.
Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.
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