Por Luís Joly
Em 1993, Rubens Barrichello era uma grande aposta do automobilismo brasileiro. Àquela época, o Brasil era uma referência mais forte no esporte. Nelson Piquet (o pai) havia se aposentado apenas alguns anos antes, e Ayrton Senna estava com os pés na Williams, a melhor equipe do momento, e dando shows na limitada McLaren Ford.
Começava então o processo de transição desses pilotos. Piquet, Gugelmin, Moreno, aos poucos iam deixando a Fórmula 1. Nomes como Christian Fittipaldi e o próprio Barrichello começavam a emergir. Rubens assinou contrato com a Jordan para aquele ano, a mesma equipe que havia revelado Michael Schumacher e vinha mostrando bons resultados. Como companheiro, o experiente Ivan Capelli (que depois seria trocado por outro nome antigo, Thierry Boutsen).
Nas duas primeiras corridas do brasileiro (África do Sul e Brasil), abandono com problemas na caixa de câmbio. A Jordan tentava implementar, para a temporada, o câmbio semi-automático (com borboletas atrás do volante), então já usado por equipes como Williams, Ferrari e McLaren. A tecnologia nova, porém, ainda era falha, e esse seria o maior problema dos pilotos da Jordan naquele ano.
Na terceira etapa, a grande chance. Uma corrida que muitos lembram, porém por outro motivo: Donnington Park, 1993. Aquela prova, até hoje lembrada possivelmente como a melhor de Ayrton Senna, teve um coadjuvante brilhante: Rubens Barrichello, que largou em 12º mas, na chuva, ganhava posições seguidamente. E , enquanto o brasileiro da McLaren atraía a atenção de imprensa e público no pelotão da frente, o da Jordan passava por “medalhões” e em algumas voltas atingia a zona de pontuação. Com a atabalhoada Williams levando seu piloto principal Alain Prost para os boxes oito vezes (sim, oito vezes), não foi difícil para Rubens alcançar o pódio e sonhar alto.
Porém, a sorte. A poucas voltas do fim, o câmbio mais uma vez apresentou problemas. O que era no mínimo um terceiro lugar garantido não passou de um décimo posto apagado. Teria sido a única oportunidade de ver Senna e Barrichello no mesmo pódio. E o mundo teve de esperar para ver “Rubinho” no pódio apenas no GP do Pacífico, um ano depois – justamente a penúltima corrida de Senna.
A Fórmula 1 mudou muito entre 1993 e hoje. Barrichello é um dos poucos que acompanhou essa mudança de perto, em posição privilegiada. Dirigiu o projeto do lendário Jackie Stewart – que até hoje respeita muito o brasileiro -, esteve a bordo do carro que protagonizou o período mais hegemônico da F-1, a Ferrari de Schumacher. Venceu de forma incrível na Alemanha, em 2000, e fez a pole em Spa, ainda em 94.
A falta de sorte, porém, parece ter sempre seguido o piloto. Somado isso a problemas com seus carros, erros e estratégias confusas da Ferrari e declarações infelizes, temos um piloto que venceu, mas não convenceu o Brasil.
A maior frustração de qualquer piloto é não ser campeão. Mas, talvez para Barrichello, seja saber que seu próprio país não acreditou nele em muitos momentos. No lugar do apoio que deveria ter recebido de sua pátria, vieram apelidos ingratos, diminuições e comparações incabíveis.
No único momento em que o Brasil esteve ao lado de Rubens Barrichello, ele era jovem demais e acabou aceitando toda a responsabilidade de ser um “novo” Ayrton Senna. Não foi, e jamais foi perdoado por isso. Coube a ele ter o involuntário papel de próximo ídolo do país na Fórmula 1 – papel que não se dá como em uma peça teatro, mas se descobre.
São poucos que conseguem serem heróis de uma nação. Rubens não conseguiu, e foi massacrado por isso.
Hoje, na Honda e sem pontuar há mais de um ano, Barrichello vive feliz longe dos holofotes. Ainda faz o que gosta, mantém o mesmo discurso de não se aposentar, conquistou a maioria dos seus companheiros no circo e convive bem – ou pelo menos aparenta isso – com Felipe Massa muito mais vencedor que ele na mesma Ferrari que ele pilotou pouco anos antes.
Ao completar 257 corridas na categoria, o brasileiro parece ter conseguido mais do que um recorde que algum dia será batido – ele conseguiu paz de espírito.
RETA OPOSTA
Massa Fina
Felipe Massa contou com a sorte ao ver seu companheiro caindo para sexto na largada – o momento que decidiu a prova. Fez uma boa corrida e tirou quatro pontos com o terceiro lugar de Räikkonen. Pela cara de poucos amigos do finlandês no pódio, ele sabe que parada não será fácil em Mônaco.
Kovalainen
Para não deixar dúvidas sobre seu estado de saúde após o acidente, o piloto da McLaren abusou das ultrapassagens na prova e foi um colírio nos momentos mais monótonos da corrida.
Hamilton voando (baixo)
Seja em peças onde aparece voando pelos ares, ou na pista voando baixo mesmo, Lewis Hamilton mostrou que qualquer um pode cometer erros e se recuperar depois. Merecia ter vencido a prova, mas foi até onde sua McLaren permitiu.
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