Coluna Grand Prix: O primeiro dos últimos

Seguindo um pensamento tipicamente brasileiro, o segundo colocado é o primeiro dos últimos. Como a coluna passada foi dedicada ao campeão, hoje o espaço é de todos os vices da F-1 em 2003. Dois deles sonharam com o título até a reta final (Montoya e Raikkonen), outros três amargaram o papel de coadjuvantes (Rubinho, Ralf e Coulthard) e o espanhol Fernando Alonso, mesmo terminando o ano em sexto, tem razões para se sentir o mais feliz entre todos os “perdedores”, por ter se tornado o mais jovem vencedor dos 54 anos de F-1.

Falando dos vices, o melhor deles foi o vice de fato, Kimi Raikkonen. O finlandês fez um campeonato perfeito para o que tinha em mãos. Errou na primeira corrida, mas foi tentando ultrapassar Schumacher. Depois, com um carro velho e limitado, conseguiu uma vitória e, graças a uma regularidade impressionante no restante do campeonato, chegou à última etapa com chance de surpreender a Ferrari e o alemão. Juan Pablo Montoya, no papel de anti-Schumacher, conseguiu arrebanhar no mundo todos os torcedores que queriam vê-lo desbancar o alemão. Numa arrancada, a partir da vitória em Mônaco, chegou a marcar 64 pontos em 80 possíveis e ficar a um da liderança. Mas jogou tudo fora em Indianápolis. Entre Rubinho, Ralf e Coulthard, o melhor foi Rubinho. Ganhou duas corridas de forma brilhante, principalmente a de Silverstone, mas atravessou um período em baixa durante parte do campeonato. Ralf também ganhou duas, até a décima corrida marcou pontos em todas, mas nas últimas seis marcou apenas cinco, perdendo até a quarta colocação para Barrichello. Coulthard foi o mesmo de sempre, estreou com vitória, mas no resto do ano chegou apenas mais duas vezes ao pódio, para ser o sétimo no campeonato, 40 pontos atrás do companheiro de equipe.

Fernando Alonso é a revelação do ano. Cresceu junto com a equipe Renault, fez duas poles, pagou pela falta de experiência, mas amadureceu e conquistou, na Hungria, o posto de mais novo vencedor (o primeiro espanhol) da história da F-1, com 22 anos e 26 dias. Alonso fez 22 pontos a mais que o experiente e rápido companheiro Jarno Trulli, que teve alguns bons momentos na segunda metade do ano. Mark Webber e Jenson Button terminaram o campeonato empatados (nono lugar), mas Button leva a melhor por ter chegado duas vezes em quarto. O melhor que Webber conseguiu foi chegar em sexto, mas marcou pontos em sete das 16 corridas, o que elevou sua cotação no mercado. É um piloto que pode aparecer em equipe grande no futuro. Button soube ouvir calado as humilhações de Jacques Villeneuve no início do ano, incluindo a afirmação de que se andasse atrás do companheiro era melhor ir para casa, e terminou o ano com 17 pontos. Villeneuve, com seis pontos no bolso, está indo para casa, como prometeu.

Giancarlo Fisichella pode reclamar de tudo, menos da sorte. Na grande zebra dos últimos anos, ele ganhou seu primeiro GP (Brasil) com o fraco carro da Jordan. Na Sauber, o veterano Heinz Harald Frentzen fez muito mais do que Nick Heidfeld, eterna esperança dos alemães. Cristiano da Matta (Toyota) foi o piloto que mais cresceu no ano, começando a temporada em pleno aprendizado e terminando com comportamento de veterano. Foi assim que ele chegou a liderar 19 voltas de um GP em Silverstone e ganhou uma disputa pessoal com Schumacher em Suzuka. Achando tudo muito natural.

Entre os nove últimos do campeonato, Olivier Panis ajudou muito a equipe, foi quase sempre mais veloz que Cristiano nos treinos e deve fazer em 2004 seu ano de despedida das pistas. Villeneuve falou muito e fez pouco. Takuma Sato entrou no seu lugar em uma corrida e igualou o melhor resultado do canadense no ano. Marc Gené teve uma chance ao substituir Ralf em Monza e aproveitou bem. Justin Wilson substituiu Pizzonia e deixou claro que a Jaguar é equipe de um carro só, o que sacrificou a carreira do talentoso brasileiro, que agora tenta se refazer como piloto de teste da Williams. Ralph Firman é despreparado para a F-1. Verstappen, Kiesa e Baumgartner apenas compriram suas obrigações, mas nem sempre bem.

Seis na briga – A duas etapas do fim do campeonato, seis pilotos têm chances matemáticas de ganhar o título na Stock Car. David Muffato, mesmo chegando em sexto em Brasília, aumentou sua vantagem, que era de 18 pontos para Cacá Bueno, e agora tem 19 para Ingo Hoffmann, já descontados os descartes. Cacá caiu para terceiro (23 atrás do líder), mas foi o destaque da corrida por ter largado em último e feito 22 ultrapassagens. Os outros três na briga são Guto Negrão (29 pontos atrás), Antonio Jorge Neto, grande vencedor em Brasília (a 38 do lider), e Giuliano Losacco (a 47). São 50 pontos ainda em disputa.

Geração novíssima – Algum tempo atrás, uma nova geração de pilotos era aquela com gente de 22 ou 23 anos. Agora já existe uma geração de 17/18 anos, e é muito agradável observar o comportamento desses meninos que, tão cedo, já enfrentam o desafio de uma carreira tão difícil. Esta semana, na comemoração dos 18 anos de Xandinho Negrão, eu estive com alguns deles (Marcos Gomes, Luis Carreira Junior, Daniel Serra, Patrick Rocha, Allam Khodair, Lucas di Grassi, Daniel Lancaster, os gêmeos Gustavo e Alexandre Foizer e a luluzinha da turma, Bia Figueiredo, além dos que não vi, porque eram mais de 100). Todos eles eu já vi correr e são bons de braço. Mas observá-los no convívio social mostra um outro lado igualmente importante: eles são bons de cabeça, amigos, unidos pela juventude e objetivo comuns. Mas sabem se tornar guerreiros quando estão dentro das pistas.

Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.

Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.

Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.