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4 de novembro de 2003 17:28

Coluna Grand Prix: Jeito de vestibular

Que Felipe Massa é um piloto de talento, bastante arrojado e só precisava de experiência para ter um grande futuro, todo mundo já sabia. Menos Peter Sauber, que em 2002 despediu o brasileiro para ficar com dois pilotos alemães na equipe. A impressão que a Ferrari deixa agora, ao fazer o suíço-alemão Peter Sauber engolir um brasileiro e um italiano (Giancarlo Fisichella) na equipe, é de estar criando um vestibular para escolher, entre os dois, quem ocupará uma das suas vagas em 2005.

Para o próximo campeonato, a Ferrari nunca pensou em mudar a atual dupla, mas viveu um momento de indecisão diante da dúvida de ter ou não ter Schumacher. Por mais que o alemão e seu empresário garantissem que a conquista do título não mudaria os planos de continuar correndo, a cúpula ferrarista soube se precaver. Por isso, demorou para confirmar o empréstimo de Massa para a Sauber. Pela mesma razão, é possível que ela continue empurrando com a barriga a renovação do contrato de Barrichello para além de 2004. Sabe-se lá se Schumacher corre mais do que um ano, embora o contrato do alemão só termine em 2006. A permanência de Rubinho dependeria disso e até mesmo da aceitação de dois brasileiros, caso Felipe Massa seja o escolhido naquele vestibular da Sauber.

A formação das equipes para 2004 está quase completa e sem sofrer grandes alterações. A Sauber é a única a trocar os dois. As cinco maiores (Ferrari, Williams, McLaren, Renault e Toyota) mantiveram suas duplas. A BAR trocou Villeneuve por Takuma Sato, mas manteve Button. A Jaguar, que despediu Antonio Pizzonia no meio do ano, não sabe se fica com Justin Wilson. Jordan e Minardi ficam com o que sobrar, desde que seja gente com dinheiro para ajudar a pagar as contas.

A Williams não trocou ninguém, mas vai viver um ano estranho. A sua grande estrela, que, em determinado momento, chegou a ser favorito na briga do título de 2003, vai correr de contrato assinado com a McLaren para o ano seguinte. Como bom profissional, Montoya vai jogar tudo para ser campeão defendendo a Williams-BMW, mas terá de dividir com a equipe segredos que, em 2005, ele leva para a duplamente rival McLaren-Mercedes. Um problema a mais para uma equipe que já sofre um desgaste enorme com a missão de administrar a rivalidade entre seus dois pilotos.

A McLaren é a que parece ter um caminho mais tranqüilo pela frente. Depois de fechar com Montoya, inteligentemente segurou Coulthard para um mandato tampão, enquanto espera a chegada do colombiano. Com isso, conseguirá uma transição suave, porque Coulthard há muito já sabia que estava com os dias contados e, assim, ainda acabou ganhando um ano de sobrevida em equipe de ponta. A pressão sobre Raikkonen vai ser um pouco maior, pela obrigação de, pelo menos, brigar pelo título, o que será importante no ano seguinte, quando estiver dividindo as atenções com um rival que é osso duro de roer. Mas será que existe alguma coisa capaz de fazer Raikkonen sentir pressão?

A situação da Renault não é muito diferente. Com uma dupla competente (Alonso e Trulli), só precisa saber administrar a obrigação de fazer uma campanha melhor que a de 2003, que foi muito boa. Vai sentir a perda do engenheiro Mike Gascoyne, que acaba de se transferir para a Toyota. Isso vai garantir à Toyota um salto de qualidade importante. É bom lembrar que Gascoyne foi o responsável pelos melhores momentos da Jordan e da Renault. Para a Toyota o que não falta é dinheiro (investe mais até do que Ferrari, McLaren e Williams), e vai contar ainda com a experiência de Olivier Panis, que faz seu ano de despedida, e o alto nível de competitividade de Cristiano da Matta, que, mesmo sem conhecer 14 das 16 pistas do campeonato, marcou dez pontos em seu ano de estréia na F-1.

A BAR dá pinta de começar a tomar um rumo certo, ajudada pela sorte de ter marcado oito pontos na última corrida do ano, para terminar o ano no quinto lugar entre os Construtores, mas só conseguirá repetir esta performance se a Honda se interessar mais pela equipe. Jenson Button é rápido e constante, e Takuma Sato é, longe, o melhor representante japonês que já surgiu por aí. A Jaguar, como a mais desorganizada de todas as equipes, tem um piloto muito bom (Mark Webber), mas ainda não sabe quem será o outro (há uma chance para Villeneuve). A Jordan perde Fisichella e luta para ter Frentzen e Heidfeld, a dupla que era da Sauber, mas não já não tinha dinheiro e, em vez de conseguir novos patrocínios, ainda perdeu alguns. É triste constatar isso, mas a Jordan que corria para ganhar (e ganhou três GPs), hoje corre para ganhar da Minardi.

Farfus no DTM

O futuro do paranaense Augusto Farfus Jr, novo campeão europeu de Fórmula-3000, deve ser o DTM, o Campeonato Alemão de carros de turismo. Mesmo tendo a F-1 como objetivo, as negociações mantidas com Jaguar e Jordan não deram certo e Farfus recebeu proposta da Mercedes-Benz para defender a equipe campeã de 2003, depois do bom teste que fez em Hockenheim no mês passado. Mesmo correndo no DTM, ele ainda tem chance de ocupar uma das duas vagas de piloto de testes da equipe Renault na F-1, junto com o francês Franck Montagny. Mas, para isso, teria de aceitar um contrato de longa duração com Flávio Briatore.

Vida nova

Dois dos mais jovens pilotos da Stock-Car, os estreantes André Bragantini e Mateus Greipel, ambos com 25 anos, conquistaram na última prova suas melhores posições no grid de largada, depois de viveram mudanças importantes antes da corrida. Greipel, campeão da Stock Light no ano passado, casou-se neste mês e interrompeu a lua-de-mel em Cancun para correr em Brasília. Bragantini seguiu o conselho de seu chefe de equipe e trocou o número 13 pelo 67 (a soma dá 13), conseguindo largar na pole-position.

Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.

Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.

Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.

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