Coluna do Joly: Spa, espetacular

Por Luís Joly

A história mostra que um Grande Prêmio da Bélgica é sempre um grande prêmio com todas as letras. Suas curvas sinuosas e retas longas em subidas e descidas o torna uma das pistas mais desafiadoras e interessantes da Fórmula 1, mesmo ela quase que inalterada ao longo de seus mais de cinqüenta anos. A extensão de sete quilômetros (que pode ser reduzida para 2009) envolve trechos ao lado de florestas e pode trazer chuva e tempo bom em uma mesma volta. Naquele asfalto, passado e presente do automobilismo se encontram, e a atmosfera certamente deixa os presentes sentirem que, por ali, passaram os maiores nomes da categoria – e fizeram bonito.

Kimi Räikkönen poderia ser um desses nomes escritos com letras douradas. O finlandês esteve próximo, muito próximo, de igualar um dos poucos recordes restantes de Ayrton Senna: lá, naquele traçado tão desafiador, o brasileiro é o único a ter vencido por quatro vezes consecutivas. Mas o sonho de Räikkönen – que provavelmente era mais um sonho da mídia do que dele mesmo – foi por água abaixo com a tão caprichosa chuva da região de Eau Rouge, ou Rio Vermelho, onde fica a pista. A precipitação, sempre especial para a audiência das corridas, apareceu nas últimas voltas para mudar o que todo mundo esperava. A prova só terminou no chamado tapetão, com uma vitória de Massa no melhor estilo de Emerson Fittipaldi: enquanto os rivais se enroscaram a sua frente, ele herdou posições.

Faz parte da natureza humana divertir-se com o sofrimento dos outros. Vem dos tempos da Roma antiga a satisfação ao ver alguém em uma situação inusitada, de sufoco. Os tempos mudaram e hoje não jogamos homens aos leões, mas não há quem não goste de ver um piloto de Fórmula 1 sofrendo para segurar seu carro a 200 quilômetros por hora e ainda precisando chegar à frente dos outros.

Assim, para o telespectador comum, assistir algo parecido com uma corrida sobre gelo nas três últimas voltas é o melhor prêmio que pode existir. Em situações assim, vale a estrela do piloto, já mencionada aqui em colunas anteriores.

E o destino entregou a Felipe Massa um resultado positivo – para os torcedores, começa a sair da garganta aquela derrota lamentável na Hungria. Em sua carreira, Felipe Massa nunca pareceu carregar uma estrela de campeão. Ao contrário, sempre foi mais conhecido como um piloto tão rápido como inconstante. A sua imagem só começou a mudar este ano, após a terceira corrida da temporada. Não só os resultados melhoraram; seu semblante mudou e sua postura assemelha-se a de um verdadeiro candidato ao título. Corre pela imprensa mundial a pergunta: quando a Ferrari irá dar ao brasileiro, enfim, o cargo de primeiro piloto em 2008?

Massa sabe que, na equipe em que atua, a competição é dupla. Não só precisa vencer os 20 pilotos das outras equipes que alinham no grid ao seu lado, mas também precisa superar o parceiro em sua própria equipe. Dentro desse cenário de batalha, a Ferrari sempre me pareceu mais propensa ao talento inegável de Räikkönen. Mas fatos são fatos e, se a coisa continuar como está, nem que não queira, a Ferrari terá de apoiar Felipe Massa como o número 1 em Fiorano.

RETA OPOSTA

O X da questão de Massa

Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Responda rápido: é melhor para Massa alcançar o líder Hamilton com Räikkönen a seus calcanhares, ou quase perder o inglês de vista, mas também abrir uma vantagem considerável para seu companheiro?

Estava na cara, Hamilton!

Poderíamos até não saber qual a punição, mas que Hamilton sofreria algo por sua manobra, sofreria. Ficou mais do que claro que a “gentileza” de ceder de volta a liderança a Räikkönen foi fajuta. Hamilton tem gana para vencer, mas sua inexperiência aliada ao arrojo demasiado ainda o atrapalham em momentos decisivos.

Escalpelando Spa

Assim como aconteceu em Hockenheim, o traçado de Spa também pode ser abreviado, e já para 2009. Apesar dos pilotos serem contra, o traçado pode ficar menor. Resta torcer para que, depois de mais uma grande corrida ali, os homens de terno e gravata repensem suas decisões.