Observar Juan Pablo Montoya vivendo aquilo que ele mais gosta, só que de uma forma muito mais descontraída do que nos paddocks da Fórmula 1, me deu uma oportunidade única de traçar um perfil deste controvertido personagem que entrou no espetáculo chamado “Grand Prix” para desempenhar, como ninguém, o papel de rival de Schumacher. Na verdade, existem dois Montoyas. Aquele que passou a madrugada vibrando como um menino com a atuação dos companheiros da equipe de kart nas 500 Milhas ou brincando com mecânicos que ele nunca havia visto na vida, como se fossem seus velhos companheiros. E aquele que, além de se recusar a falar com repórteres mesmo no ambiente descontraído da Granja Viana, recentemente tratou mal os dois únicos jornalistas colombianos no circuito da F-1, e soltou todos os palavrões que conhecia contra um cinegrafista que, na pressa, esbarrou a câmera na sua cabeça.
Eu, normalmente, não gosto de pessoas de duas faces. Mas não é bem este o caso de Montoya. Ele é temperamental. Precisa sempre de alguém do lado para segurar seu mau humor, papel que sua mulher Connie faz com muita classe. Ele fala sempre o que quer, sem pensar duas vezes. Mais ou menos um tipo de Piquet nos melhores tempos. Duas semanas atrás, quando participou do festival Esporte Motor, da Petrobrás, em São Paulo, falou com todo mundo, deu um monte de autógrafos, pilotou um caminhão da F-Truck, fez o “zerinho” na pista do sambódromo com seu Williams de F-1. Já no kartódromo da Granja, ele chegou a recusar pedidos de autógrafo e quando um dos amigos o consultou sobre a solicitação de uma emissora de TV e um repórter de jornal para uma entrevista de cinco minutos, ele simplesmente respondeu : “ignore”.
O curioso é que ele agiu assim justamente num momento em que estava se divertindo a valer. Na pista, deu um show, ao largar na nonaª posição e, uma hora e meia depois, entregar o kart para um companheiro de equipe na liderança. Fora da pista, embora tivesse um motor-home à disposição para descansar, fez questão de ficar o tempo todo na mureta dos boxes torcendo pelos companheiros Antonio Pizzonia, Danilo Dirani e Paulo Carcasci. Ao ver Pizzonia ultrapassar 20 adversários e recuperar uma volta inteira, das cinco perdidas no box por problemas mecânicos, Montoya vibrava como uma criança. Assim como nas brincadeiras com os mecânicos que ele chamava por apelidos os mais diversos, inventados na hora. Houve um momento em que o colombiano se encostou em Zanardi e Vasser à beira da pista e, olhando aqueles 73 karts que tomavam quase a totalidade dos 1.250 metros da pista, comentou com empolgação: “É inacreditável o que acontece aqui”.
Já passava das 3h30 quando, após ajudar os mecânicos a reparar uma carenagem reserva quebrada, o colombiano voltou ao volante do kart para um segundo turno de pilotagem. Isso deveria ter acontecido antes, mas, na hora da troca, Pizzonia fez sinal de que preferia continuar por mais um turno e, com isso, ganhar o tempo da troca de piloto. Montoya estava pronto para assumir, mas achou justa a decisão, tirou o capacete e voltou para a mureta para continuar a torcida, desta vez, ao lado de Danilo Dirani, outro de seus companheiros no kart da Petrobras. Dirani, de 19 anos, é um ex-kartista, que acaba de conquistar o campeonato sul-americano de F-3, e a chance desta convivência com Montoya certamente será importante para o futuro de sua carreira.
As 500 Milhas da Granja Viana, vencidas este ano por Christian Fittipaldi, Mario Haberfeld e o costarriquenho Charles Fonseca, desta vez em plena noite de lua cheia, mostrou aquilo que o automobilismo tem de mais bonito, que é ver grandes estrelas da F-1, Cart e IRL correndo por puro prazer, ao lado de jovens iniciando suas carreiras. O caso de Alessandro Zanardi é o maior exemplo. Todo mundo esperava que, depois de pilotar durante uma hora e meia um kart adaptado, com acelerador e freio acionados manualmente, a intenção de Zanardi, dada sua dificuldade física, fosse encerrar sua participação. Mas, ao contrário disso, ele chegou aos boxes já pedindo modificações no assento do kart para o próximo turno, que, por sinal, só aconteceu às 4 horas da manhã. A equipe que Zanardi dividia com três pilotos da Cart americana (Jimmy Vasser, Michel Jourdain Jr. e Oriol Servia), foi até o final das 11 horas de corrida e terminou em quarto lugar.
Coisas desse tipo explicam por que o Brasil é, costumeiramente, chamado pelo mundo afora de “país do automobilismo”. Depois desta experiência dividida com três centenas de jovens, absolutamente desconhecidos para eles, Montoya e Zanardi devem ter voltado para casa ainda mais fãs deste Brasil com cheiro de gasolina.
Desafio em Macau
Por ser uma competição em circuito de rua, o GP de Macau não é uma prova definitiva de talento para quem está se lançando na carreira. Mas uma vitória nesta corrida tradicional garante, no mínimo, respeito. Foi assim em 83 quando Ayrton Senna ganhou, um ano antes de ingressar na F-1. Este é o desafio que Nelsinho Piquet enfrenta neste fim de semana. Terceiro colocado no ano de estréia no campeonato inglês de F-3, ele disputa o GP com outros 29 pilotos, de 17 países. Além de Nelsinho, o Brasil será representado também por Fábio Carbone, vencedor do Masters de F-3 na Holanda no ano passado.
Sul-Americana
Com o título definido bem cedo (o campeão Danilo Dirani ganhou 13 das 16 provas), a rodada dupla da F-3 Sul-Americana deste fim de semana em Brasília pode dar o vice-campeonato a Lucas di Grassi, e terá, ainda, uma disputa apertada pelo 3º lugar, entre dois estreantes – Alan Hellmeister e Xandinho Negrão, ambos com 17 anos de idade.
Bola quadrada
Mesmo com seu time vencendo o torneio de futebol entre pilotos que a V-10, de Vanderlei Pereira, organiza há sete anos, Rubinho Barrichello está longe de ser um craque. Bons de bola, entre os quase 40 participantes, são Allam Khodair e Thiago Camilo. Outros quatro se salvam: Gualter Salles, Luiz Frediani, Dudu Massa e Cacá Bueno, que fez o gol da vitória.
Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.
Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.
Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003
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