Como vai se comportar a Williams com Montoya durante a temporada de 2004 é a grande pergunta que se faz, não apenas agora que a McLaren oficializou a contratação do colombiano para 2005, mas desde que a notícia vazou, quatro meses atrás, totalmente contra a vontade do pessoal da McLaren, e sem nenhum esforço do piloto para tentar esconder. A BMW, parceira da Williams, é a primeira a apostar no desempenho máximo de Montoya, mas, como a F-1 sempre trabalha com as novidades tecnológicas a longo prazo, ninguém pode negar que a rivalidade entre BMW e Mercedes-Benz, duas montadoras alemãs que lutam pela mesma fatia de mercado, pode levar a Williams a adotar uma política de não abrir para Montoya certos segredos desenvolvidos durante a temporada.
Se a situação é assim tão complicada, por que a Williams não liberou o colombiano para correr na McLaren já em 2004, negociando uma multa que é de 10 milhões de dólares, mas poderia ter saído por menos da metade? A explicação vem cercada de vários motivos, um deles pessoal, que é a conhecida teimosia da Frank Williams. Mas o que agrava mesmo esta relação é que nas duas últimas décadas a McLaren vem colecionando alguns golpes desse tipo na sua rival inglesa: nos anos 80 tirou da Williams um de seus patrocinadores, a TAG, que, mais tarde, viria a se tornar sócia da McLaren. Em seguida, conquistou os motores Honda. E, no final dos anos 90, roubou o engenheiro Adrian Newey, à custa de um salário cinco vezes maior. Não dá pra considerar a troca que fez Ayrton Senna em 93, saindo da McLaren para correr na Williams, porque já era sabido que ele sairia de qualquer jeito.
O fato é que Montoya vai ter de engolir a Williams em 2004. E vice-versa. Só que se acontecer da Williams ter de engolir Montoya, no ano seguinte ela terá de aceitar o número “1”, conquistado sempre com muito suor, fazer parte da decoração do carro da rival. Nada pode ser mais terrível até para o mais simples ajudante de mecânico que tiver participado da conquista. Mas posso afirmar, sem erro, que isso não incomoda Frank Williams em nada. Por quatro vezes ele já perdeu piloto com título e tudo, e nem fez questão de segurar. O primeiro foi Piquet em 87, que levou o número “1” para a Lotus. Em 92, Frank dispensou Mansell logo após a conquista do título, e só não viu o número “1”” parar em outra equipe porque Mansell foi correr na Cart. A F-1 ficou sem número “1”” no ano seguinte. Em 93, Prost ganhou o título e encerrou a carreira ao saber que havia perdido o lugar para Senna. Isso obrigou Damon Hill a continuar usando o numero “0” pelo segundo ano consecutivo. Só em 96, quando, finalmente, conquistou o direito ao número “1”, Hill também acabou demitido pela Williams e foi embora para a Arrows levando com ele o número que só o campeão pode usar.
Montoya foi, durante um bom tempo, o “queridinho” tanto de Frank Williams quanto de seu sócio Patrick Head. Ele ganhava menos do que Ralf Schumacher, porque chegou depois, mas esta é uma questão que se acertaria com o tempo (Ralf sempre foi bem negociado pelo seu empresário, que é o mesmo do irmão Michael). A sua saída, na verdade, se deve a uma atitude tomada no calor da revolta pelo que aconteceu no GP da França no dia 6 de julho. Montoya avisou pelo rádio que iria antecipar seu pit stop para tentar ganhar a primeira posição. Alguém avisou Ralf, que também mudou sua estratégia, parou antes de Montoya, e ganhou a corrida. O colombiano nem esperou a bandeirada para começar a xingar todo mundo pelo rádio. No dia seguinte, teve sua primeira conversa com a McLaren e, ao voltar para casa, recebeu um e-mail da Williams repreendendo-o pelo seu comportamento e acrescentando, que se continuasse assim, ele não correria mais na Williams. Era o que faltava para ele assinar o pré-contrato com a McLaren e deixar que o mundo soubesse. Nestas circunstâncias, é claro que a liberação antecipada não sairia por dinheiro nenhum. E agora fica esta situação estranha, que pode até prejudicar a equipe na briga pelo título do ano que vem, a não ser que um dos dois – Montoya ou Ralf – dispare na liderança do campeonato e deixe a equipe sem alternativas.
Preparando a virada – Entusiasmada pelo vice de Kimi Raikkonen e a arrancada no final do campeonato, que acabou deixando-a apenas dois pontos atrás da Williams na classificação dos construtores, a McLaren se prepara para brigar pelo título de 2004. Além de aposentar o MP4-18, que nem chegou a ser usado em corrida, também o motor deste ano será trocado por um novo modelo criado especificamente para as novas regras, que obrigam o uso de um único motor para cada carro durante todo o fim de semana.
Floripa sem dois – Dois dos mais talentosos pilotos da Fórmula Renault, Marcos Gomes e Gustavo Sondermann, estarão ausentes da penúltima etapa do campeonato brasileiro neste fim de semana em Florianópolis. Marcos ganhou da Itupetro a chance de participar do Torneio de Inverno de F-Renault, que reúne os melhores pilotos da categoria na Europa, e Gustavo ganhou cinco dias de testes em pistas européias. Os gêmeos Alexandre e Gustavo Foizer fazem o contrário. Eles correram na semana passada de F-3 (Gustavo ganhou duas na Light) e, agora, voltam à Renault. Com 149 pontos, Allam Khodair, é o líder da Renault Brasil, seguido por Paulo Salustiano (132), Diego Freitas (127), Patrick Rocha (112) e Marcelo Thomaz (110). Todos com chance na briga pelo título.
Carros a gás – Interlagos recebe neste fim de semana a penúltima etapa da Copa BR/Petrobras de Pick-ups. É a única categoria do mundo com carros movidos a gás natural, e o duelo pelo título entre o gaúcho João Campos (107) e o paranaense Emerson Duda (82) anda bastante quente na pista, nos bastidores e até nos tribunais, com constantes protestos e acusações de ambos os lados. A corrida marca a estréia de Alceu Feldmann, da Stock Car.
Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.
Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.
Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003