O brasileiro espera tanto das nossas novas gerações de pilotos que a grande pergunta deste momento é: foi bom ou foi ruim o primeiro contato de Nelsinho Piquet com a F-1 ? Para mim, a resposta é: pode não ter sido tão bom, mas, principalmente, não foi ruim. O que acontece é que a F-1 de hoje, com seus 25 botões de comando para um piloto saber mexer de forma a utilizar ao máximo o potencial do carro em cada trecho da pista, não é a mesma dos anos 80, época em que era possível um piloto supertalentoso ficar próximo de recordes no seu primeiro teste.
Além disso, mas também em conseqüência da complexidade dos carros atuais, nenhuma equipe entrega a um piloto novato o carro com a mesma configuração usada pelos pilotos titulares da equipe. Ou seja: o carro de Ralf Schumacher, que andou exatos 3 segundos abaixo do tempo de Nelsinho em pista seca, era bem diferente daquele entregue ao brasileiro. Até por questão de segurança, a equipe configura carro e motor de forma a “brecar” um pouco o entusiasmo de um estreante querendo provar do que é capaz. É muito simples fazer isso: com mais aerofólio (mais pressão aerodinâmica), o carro gruda mais no chão, mas anda menos em reta; com menos potência no motor, a resposta à aceleração é mais lenta.
É verdade que Nico Rosberg, também filho de campeão, acabou sendo 0s909 mais veloz do que Nelsinho na pista seca, mas ele já havia feito um treino com a Williams em fevereiro. Depois, quando os dois treinaram na chuva, Nelsinho acabou sendo 1s622 mais rápido. Também isso não dá para medir muito bem porque em dia de chuva, a pista pode estar mais molhada para um e menos para outro. Ontem, a pista estava mais molhada quando Rosberg andou.
A F-1 mudou muito de 1983 para cá. O teste que Ayrton Senna fez na mesma Williams 20 anos atrás foi espantoso. Eu estava lá e não posso esquecer a expressão de surpresa dos mecânicos com os tempos obtidos a partir da décima volta. Hoje isso seria impossível, por toda a eletrônica embarcada, que deve dar um nó na cabeça de um piloto vindo das categorias de base. Só isso já é suficiente para minar a autoconfiança de qualquer um. Em 83 eu viajei para Donington de carro junto com Ayrton na noite anterior, e tudo o que eu ouvia dele demonstrava muita segurança. Durante o café da manhã, antes de sair para a pista, ele demonstrava ansiedade, mas nenhum medo. Ao chegar aos boxes, cumprimentou os mecânicos, vestiu o macacão e entrou no carro como se fosse seu velho conhecido. Para lembrá-lo de que não era bem assim, os pilotos até fizeram uma brincadeira. Como fazem habitualmente sempre que trocam discos de freio e pastilhas, eles colaram no volante um adesivo escrito: “Cuidado, novos freios….. E novo piloto”.
Uma grande curiosidade marca o teste de Senna e o de Nelsinho, separados por exatos 20 anos. Em 83 Senna pilotou o carro que tinha sido campeão no ano anterior com o finlandês Keke Rosberg. Hoje Nelsinho tem como rival na busca por esta vaga de piloto de teste na Williams justamente Nico Rosberg, filho de Keke.
Nos dias de hoje, observar um garoto de 18 anos que entra no cokpit de um F-1 pela primeira exige da equipe muito mais do que simplesmente analisar os tempos obtidos. Pode ser até mais importante observar o entrosamento com os mecânicos na hora de discutir o comportamento do carro. A gente não pode esquecer que o potencial de um piloto que é chamado a fazer um teste em equipe grande, na realidade, já foi analisado muito bem antes que o convite seja feito. Ou alguém duvida que a Williams tenha um histórico completo das corridas de Nelsinho no campeonato inglês de F-3, assim como as de Nico Rosberg no campeonato europeu da mesma F-3 ?
Em nome do pai – Quem também se deu bem seguindo os passos do pai foi David Muffato. Foi observando o veterano Pedro (que hoje ainda corre na Fórmula Truck) que David acabou fazendo parte deste mundo das corridas. E acaba de alcançar sua maior glória com a conquista do título brasileiro de Stock Car. Não por acaso, o primeiro telefonema que o orgulhoso Pedro Muffato recebeu após a bandeirada foi do amigo Nelson Piquet. O erro de David, que ganhou o campeonato com méritos, foi não ter sabido aproveitar aquele grande momento, para comemorar com a equipe e os fãs de automobilismo ligados na TV Globo. Em vez disso, os minutos de conversa entre piloto e box foram gastos com críticas e pensamento negativo. Eu pude dizer isso a ele no final da corrida e, com certeza, hoje ele sabe que jogou fora um bom momento de sua vida.
Em nome do pai – Marcos Gomes, o filho mais novo de Paulão Gomes, em apenas quatro corridas no exterior, disputando o Festival de Inverno da Fórmula Renault Italiana, conquistou uma pole-position, dois pódios e uma vitória. E o melhor de tudo foi que a vitória, na última das quatro etapas do torneio, garantiu o título ao companheiro de equipe, o venezuelano Pastor Maldonato, que havia abandonado a prova e perderia o campeonato caso o italiano Luigi Ferrara vencesse. Ferrara largou na pole, mas foi superado por Marcos Gomes.
Renault e Clio – A corrida de encerramento da Fórmula Renault, domingo em Interlagos, marca a despedida do campeão Allam Khodair, que já vem fazendo treinos para correr na F-3000 Européia em 2004, e também de Gustavo Sondermann, que até já participou das últimas três provas do Campeonato norte-americano de Fórmula Renault, com uma pole, uma vitória e um sexto lugar. Na decisão da Copa Clio, o líder Elias Jr. conta com a ajuda de seu companheiro de equipe Luiz Frediani para chegar ao título. Os dois, chefiados por Amadeu Rodrigues, vão trabalhar em conjunto no acerto do carro. Frediani ficou em terceiro lugar na prova do ano passado.
Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.
Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.
Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.