É claro que ainda tem muito tempo de preparação com vistas ao Mundial de 2004 e, às vezes, a performance surpreendente de um carro que acaba de ser lançado não é garantia de competitividade na seqüência dos treinos quando os novos modelos dos concorrentes também estiverem na pista. Mas, neste momento, os recordes quebrados pelo novo carro da McLaren, o MP4-19, em dois circuitos diferentes, por pilotos diferentes (David Coulthard e Pedro de La Rosa), já assustam as rivais. Principalmente porque Kimi Raikkonen, o eleito da equipe para lutar pelo título, que é muito mais piloto que os outros dois, ainda nem conheceu o novo carro.
O recorde de Jerez é o terceiro do MP4-19, sendo que o primeiro, estabelecido em 27 de outubro na pista de Valência, ocorreu logo no terceiro dia de testes do novo modelo, quando Coulthard andou 60 milésimos abaixo da marca conseguida por Montoya dois dias antes com o Williams que, mesmo sem ter ganho o título, foi o melhor carro da parte final do último campeonato — o segundo aconteceu um dia antes do terceiro, estes por De La Rosa. Um bom começo desses lembra a fase inicial de testes do F-2002, o carro mais perfeito que a Ferrari teve em toda a sua história, que também estreou quebrando recordes e, no decorrer do campeonato, acabou conquistando 15 vitórias em 17 corridas, e garantindo à equipe italiana o total de 221 pontos, exatamente a soma dos pontos obtidos no ano pelas outras 11 concorrentes.
Ainda é muito cedo para dizer que o novo carro da McLaren pode ser tudo isso. Mas, por via das dúvidas, a Ferrari já botou o pessoal da prancheta fazendo hora extra neste final de ano, para ter o modelo novo pronto em janeiro. E a Williams já recebeu da BMW a aprovação do novo motor P84 para equipar o carro do ano que vem. Confiança é o que não falta para Mario Theissen, diretor-esportivo da BMW, o homem que pressionou a Williams no primeiro semestre de 2003, chegando a ameaçar romper a parceria caso a equipe não conseguisse melhorar o rendimento do chassi. A pressão deu resultado, e a Williams foi a grande equipe da segunda metade do campeonato, só perdendo o título porque Schumacher e Rubinho foram mais competentes do que Montoya e Ralf.
Kimi Raikkonen não está fora das pistas apenas para descansar. Ele se recupera de uma operação no pulso direito, no qual levou nove pontos depois de uma batida de carro. Por isso ele só vai conhecer o seu novo carro em janeiro, mas tem conversado constantemente com Coulthard e os dois pilotos de testes (Pedro de La Rosa e Alexander Wurz), e anda entusiasmado com tudo o que eles dizem sobre o MP4-19, especialmente com o fato de “o carro parecer muito sensível às alterações que são feitas”. Normalmente este é um sintoma muito positivo em um novo modelo. Pelo jeito, o próximo campeonato vai ser mais interessante que o deste ano. A Ferrari dificilmente conseguirá manter o domínio dos últimos cinco anos, a Williams e a McLaren cresceram, e ainda tem Renault e Toyota em plena evolução.
F-3 à brasileira
O próximo campeonato inglês de Fórmula-3 deve lembrar os melhores anos de performance brasileira, como nas conquistas de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Chico Serra, Ayrton Senna, Mauricio Gugelmin, Rubinho Barrichello e Gil de Ferran. Este importante campeonato, que já teve como campeões também Mario Haberfeld e Antonio Pizzonia, em 2004 contará com a participação de três brasileiros de muito talento. Nelsinho Piquet, que fará sua segunda temporada na Inglaterra (este ano ficou em terceiro com seis vitórias e oito poles); Danilo Dirani, sucessor de Nelsinho como atual campeão Sul-Americano de F-3, que correrá na Carlin, a atual campeã com o sul-africano Alan van der Merwe; e Lucas di Grassi, que foi vice-campeão no seu ano de estréia no Sul-Americano, e está negociando seu contrato com uma equipe de ponta.
A todo gás
A Copa Pick-up a gás, primeira competição do mundo a usar o combustível gás natural veicular (GNV), está entre as prioridades do programa Esporte Motor da Petrobrás. Tanto que o patrocínio do campeonato deixa de ser da BR Distribuidora, para que outras empresas do setor de gás no país se interessem pela categoria. Outras medidas importantes, entre as anunciadas pelo coordenador de patrocínio esportivo, Cláudio Thompson, são o incentivo à já tradicional Seletiva Petrobrás de Kart, que deverá ganhar uma competição na Argentina, assim como a Fórmula-Truck. A parceria com a Williams na F-1 e o apoio às competições de rally serão mantidos no programa.
Na trilha certa
O sucesso da primeira Copa Peugeot, criada por Paulo Beccardi e realizada em 2003 com sete etapas, todas disputadas nas datas do campeonato brasileiro de Rally de Velocidade, levou a General Motors do Brasil e a Off-Limits Motorsports, empresa que representa o Chevrolet Rally Team, a adotar política semelhante, disponibilizando vinte picapes Chevrolet S-10 4×4 diesel, com cabine simples, preparadas para correr na categoria Production do campeonato brasileiro de cross-country em 2004. Os veículos serão vendidos diretamente da fábrica aos pilotos e navegadores interessados, e deverá ser criada uma Copa S10, como parte do campeonato brasileiro.
Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.
Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.
Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.