A época é ruim para se falar de F-1. Os testes de pista não querem dizer muita coisa, as contratações estão encerradas, quase todas as vagas preenchidas, e pouco interessa quem vai ocupar as que faltam porque será mais um coitado que traz para a F-1 seus sonhos de mostrar alguma coisa, mas jamais será notado dentro de um desses cockpits caça-níqueis. As estrelas do espetáculo já vivem seus dias de Papai Noel ao lado da família, um dos raros momentos em que eles têm direito a uma vida normal, com filhos, mulher, cachorro, gato, vizinhos etc. Mas de vez em quando pinta um assunto como este levantado pelo presidente da Ferrari, que é a renovação do contrato de Barrichello. Para evitar confusão, que algumas pessoas fazem, é sempre bom lembrar que quando se fala em renovação, é para 2005, porque em 2004 Rubinho tem contrato em vigor.
O assunto interessa ao torcedor brasileiro duplamente. Partindo-se da idéia de que o ano de 2004 na Sauber será um vestibular entre Felipe Massa e Giancarlo Fisichella para ver quem leva de presente um cockpit da Ferrari no ano seguinte, a eventual permanência de Rubinho até 2005 pode significar muita coisa: ou esse “vestibular” teria a duração de dois anos em vez de um, valendo só para o Mundial de 2006, ou o substituído em 2005 pode ser Schumacher, e não Rubinho. Pra falar a verdade, é esta hipótese que eu acho mais viável, embora o alemão tenha outros dois anos de contrato (até 2006). Por mais que eu tente, não vejo razão para alguém que tenha 70 vitórias e seis títulos mundiais continuar correndo atrás de outras conquistas. Dinheiro, não é. Prazer de correr, com certeza, mas por mais um ano. Ele deve imaginar que, depois de ganhar tudo, chegou a hora de fazer o que mais gosta sem estresse. Ao final desse período, em vez de entrar em declínio, pára por cima. A idéia pode ser nova para nós, mas não para Corinna, mulher dele, que deve fazer disso uma rotina no ouvido do alemão. “Todo santo dia, tudo sempre igual”, em alemão, deve ficar interessante.
Quanto a Felipe Massa, além de ser piloto oficial da Sauber no ano quem, vai continuar com a obrigação de trabalhar esporadicamente como piloto de testes na Ferrari. Fisichella acaba de ser convidado para fazer o mesmo, o que comprova a tese do “vestibular”. Com 30 anos de idade e há muito sonhando em ser o primeiro piloto italiano a pilotar uma Ferrari desde Michele Alboreto em 1988, Fisichella recebeu a notícia como se tivesse conquistado um campeonato. Aliás, a revelação foi mesmo feita em clima de euforia por Jean Todt, em plena festa de confraternização de fim de ano da equipe campeã mundial. Isso faz da Sauber definitivamente uma subsidiária de Maranello. Fisichella estreou na F-1 em 1996, pela Minardi. Depois correu na Jordan, Benetton, que virou Renault, e este ano, contrariado, voltou à Jordan porque Flavio Briatore quis na Renault dois pilotos de carreira administrada por ele, Alonso e Trulli. Como a Jordan acabou sendo a grande decepção do último campeonato, Fisichella conseguiu desligar-se para assinar com a Sauber.
Outro assunto que interessa diretamente ao torcedor brasileiro é o da escolha do segundo piloto de teste da Williams, que, neste momento, envolve dois brasileiros – Nelsinho Piquet e Antonio Pizzonia. Mas, pelo que eu sei de algumas fontes, é muito provável que Frank Williams anuncie o nome de Pizzonia. Só que isso não chega a ser uma má notícia para Nelsinho. Não quer dizer que ele não tenha correspondido no teste. Na verdade, os planos da Williams para Nelsinho são de evitar maior pressão neste momento de carreira. Treinar com o carro algumas vezes no ano, sem a responsabilidade que hoje em dia cabe a um piloto de teste como Gené e Pizzonia, que trabalham o ano todo desenvolvendo tudo o que a equipe cria de novidade, pode ser muito melhor para um garoto de 18 anos encontrar a adaptação ideal a um carro de Fórmula-1.
O ano de Nelsinho – Nelsinho teve um grande ano em 2003, estreando na F-3 inglesa com seis vitórias, oito poles e o terceiro lugar na classificação final do campeonato, além de uma atuação história em Donington Park, quando largou em 21º e venceu a corrida com uma ultrapassagem na última volta. Fora o campeonato inglês, ele conquistou a pole e chegou em segundo no Master da Holanda em Zandvoort correndo contra 48 pilotos de 20 países, e foi terceiro no Superprix da Coréia do Sul, que reuniu os principais pilotos dos campeonatos europeus e asiáticos da categoria. Para completar o ano, ele teve o seu maior prêmio ao pilotar, pela primeira vez, um carro de F-1, percorrendo 110 voltas com o Williams no circuito de Jerez de la Frontera. E na terceira semana de janeiro vai repetir a dose em circuito ainda a ser definido. Para isso, Nelsinho vai iniciar um condicionamento específico para a F-1, que é uma outra atitude em que ele demonstra alto profissionalismo, apesar de ser um menino que adquiriu sua carteira de habilitação poucos dias atrás. E com o forte apoio dos Cartões Unibanco, ele vai poder fazer a temporada de F-3 que merece.
Replay no Kart – Entre os 12 classificados nas etapas dos campeonatos estaduais para a grande final da Seletiva de Kart Petrobras, disputada esta semana em Belo Horizonte, cinco já iniciaram suas carreiras no automobilismo: André Nicastro, Bia Figueiredo e Felipe Lapena que correm na Fórmula Renault; Sérgio Jimenez que já foi campeão da mesma categoria no Brasil, correu este ano em algumas provas na Renault européia; e Júlio Campos foi campeão da Fórmula Dodge nos EUA. Quanto se trata deste torneio, que a Petrobras realiza há cinco anos, eles voltam ao kart atrás do prêmio de 65 mil reais, que ajuda muito no passo seguinte da carreira. É o que fará, por exemplo, o paulista Rafael Daniel, que conseguiu o bi nesta quarta-feira, aproveitando-se da rivalidade que entre os mais talentosos kartistas brasileiros dos últimos anos: Júlio Campos, do Paraná, André Nicastro, do Rio, e Sergio Jimenez, de São Paulo. A disputa entre os três foi a grande atração da final em Minas, mas na final o vice acabou ficando com Bia Figueiredo, a garota que enfrenta os meninos do kart em todas as pistas brasileiras.
Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.
Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.
Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.