Coluna Grand Prix: Sonhos movidos a gasolina

A intenção não era falar, mais uma vez, da coincidência de o Schumacher e eu fazermos aniversário neste sábado, mas é uma satisfação tão grande ter uma companhia capricorniana como esta que vale o registro só para contar que o maior troféu que ganhei nesses 31 anos de F-1 é o capacete que o alemão me deu, e hoje ocupa um lugar de honra entre os guardados de minha história. Além disso, são vários os amigos leitores que, nesta época do ano, me cumprimentam, acho que mais pela coincidência do que pelo próprio aniversário. Afinal, somos todos fãs do alemão.

Há quem reclame que na TV eu, como também o Galvão, Cleber ou Luis Roberto, demonstramos exagerada admiração por ele. Mas como não admirar ? Na verdade, seja como for, o torcedor sempre vai achar que a gente faz a mais ou a menos. Por incrível que pareça, há também os que reclamam exatamente do contrário – que a gente fala pouco do Schumacher. A verdade é que todos esses fãs do automobilismo me escrevem com carinho. As reivindicações, de um lado e de outro, servem de orientação e ensinamento. Se existe algum tipo de torcedor que escreve pelo prazer de criticar, confesso que não sei. Dizem que sim, tem gente que lê isso em algum site e comenta comigo, mas eu só recebo e-mails de gente do bem. O resto, se existir, é pura frustração.

E assim a gente vai tocando a vida, começando mais um ano cheio de sonhos. Todos eles movidos a gasolina. Com a convicção de que, mesmo depois desses anos todos, ainda tenho coisas novas a fazer pelo esporte a motor, antes de passar a curtir as corridas com a alma de um torcedor satisfeito por já ter vivido o outro lado. Neste início de ano, recém encerrada mais uma edição do meu anuário AutoMotor, que, logicamente, vou achar mais bonito do que todos os outros onze que já fizemos, tenho, pela frente, uma intensa programação de coberturas da TV Globo, na F-1 e na Stock Car, assim como planos de novos programas de automobilismo que ainda não posso adiantar, e outros que me fazem viver intensamente esta fase pré-temporada. Para quem sabe um pouco da minha vida, não é novidade eu estar em Paúba, meu doce refúgio de praia, para onde venho mais pelo convívio com os amigos do que pelo mar, a areia e o sol. Se tiver tudo isso somado, melhor ainda.

A cada ano, novas surpresas. Este foi o do reencontro com o Liminha. Grande Liminha, baixo marcante dos Mutantes junto com meu irmão Dinho, na bateria. Bons tempos que me voltaram à mente nesses dias em companhia dos dois aqui em Paúba. Réveillon e aniversário ao lado de minha família e os amigos Ricardo Kotscho e Marinha, Chico Lelis, Thalita, Paulo Figueiredo, Loide, Leila, Thais, Ciça, Bia, Fany, Maria Lucia, Walter, Vera, Renata, Luis Felipe, Cacá, Beth e o Rubão, com seu seletivo ouvido de jazzista, mais os companheiros de AutoMotor – Junia, Ana, Diane, Tigur e Luiz Vicente – e, pra não faltar assunto de automobilismo, o Washington Bezerra, o Reinaldo Campello e o velho Zampão, que chega amanhã junto com o Vincenzo Roma, braço forte de Pedro Paulo Diniz, André Ribeiro e Marly Parra na Fórmula-Renault. Faltou a família Bueno, que este ano preferiu a neve de Lake Tahoe; mais a Flavinha e o João Pedro Paes Leme, também nas montanhas, mas em Miguel Pereira; e o Luis Fernando Silva Pinto, que habitualmente troca Washington por Paúba, e o microfone pelo papel de DJ de primeiro nível. Amanhã também devem aparecer Betise e Patrick Head, tradicionais companheiros de verão no litoral norte. Patrick, este inglês boa gente, com alma cada dia mais brasileira.

Falando de Patrick Head, depois da saudação de fim de ano, vamos à F-1. Seguindo rigorosamente o que foi planejado desde o início da parceria com a BMW, apesar de quase ter conseguido derrotar a Ferrari já no último Mundial, agora em 2004 é que a Williams entra para disputar o título que ela não ganha desde 1997. Motor para isso ela tem de sobra. Chassi também não deve faltar. Os dois pilotos são rápidos, embora não muito fáceis de se lidar com eles. Um está se despedindo para correr pela McLaren em 2005, e o outro anda em briga com Frank Williams porque quer um aumento de salário que o chefe não está disposto a pagar (a diferença, dizem, é de US$ 15 milhões para US$ 9 milhões). Se isso não atrapalhar, os dois são sérios candidatos. Mas a Ferrari, que é a grande interessada, duvida que não atrapalhe. Foi o que disse o diretor-técnico ferrarista Ross Brawn, prevendo um ano turbulento para a Williams. Só não dá pra saber até que ponto ele acredita mesmo nisso e até onde está blefando, na tentativa de minar as forças daquela que poderá ser a sua maior rival.

Novos desafios – Quem teve um ano para ser esquecido, pelas quedas e lesões, foi Alexandre Barros, mas 2004 promete ser o melhor ano dele no Mundial de Moto GP. Faltam poucos dias para o brasileiro poder confirmar sua contratação pela Honda, em substituição ao italiano Valentino Rossi, tricampeão da principal categoria do motociclismo mundial. Valentino, que é constantemente chamado pela imprensa de “Schumacher das duas rodas” assumiu o desafio de trocar a equipe campeã da Honda pela Yamaha após um ano em que venceu nove corridas e subiu ao pódio em todas as 16 etapas. Mais uma vez a sua decisão arrojada é comparada à de Schumacher, quando deixou a Benetton, pela qual conquistara dois títulos, para assumir o desafio de tornar competitiva uma Ferrari, que carregava o peso de 21 anos sem ganhar um título de pilotos na F-1. Entre todas as virtudes de Valentino, está a honestidade de reconhecer em Alex Barros o mais talentoso de todos os que podem ser seus rivais na luta pelo título.

Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.

Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.

Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.