O “Batmovel” FW26 contra o MP4-19 da McLaren. O duelo da temporada de 2004 já começou e os primeiros resultados de pista indicam que a Ferrari não terá moleza na tentativa de ganhar o sexto título consecutivo no Mundial. O carro revolucionário da Williams não precisou mais do que dois dias de testes para se aproximar muito dos tempos surpreendentes do novo McLaren, que já soma uma boa quilometragem em um mês e meio de vida. Além dessas duas, quem pode ter bala para enfrentar a Ferrari este ano é a Renault, mas é possível que ela sinta a perda do engenheiro Mike Gascoyne, que está levando para a Toyota todo o conhecimento e a experiência que fizeram a equipe francesa dar um enorme salto de qualidade em 2003.
O amigo leitor, que, ao ver os recordes estabelecidos em Valência e Jerez pelo novo MP4-19, vinha apostando suas fichas num duelo Ferrari x McLaren, agora já começa a ver a Williams com outros olhos. Principalmente porque na equipe de Frank Williams tem Montoya e Ralf, dois pilotos com muita gana de lutar pelo título. O interessante é que, neste aspecto, as duas vivem situações opostas. A McLaren tem Kimi Raikkonen, em quem pode confiar plenamente, mas não sabe o que esperar de David Coulthard. A Williams tem dois sujeitos muito rápidos, competitivos, consistentes até certo ponto, mas complicados no relacionamento.
O fato de Montoya ter pela frente um ano de despedida anunciada na Williams deu a Ralf o direito de ambicionar a posição de primeiro piloto. Só que na Williams não existe isso. Como também não existem os altos salários pagos por outras equipes. Por achar que poderia dobrar o conhecido pão-durismo de Frank Williams, muito campeão do mundo acabou desempregado. Por isso mesmo, é estranho que, mesmo ganhando o dobro de Montoya — esta foi uma das razões para o colombiano sair — Ralf venha a querer um aumento de salário, de nove para 15 milhões de dólares, no novo contrato que está sendo discutido agora, para vigorar em 2005. Ou ele não sabe o risco que está correndo, ou, ao contrário, conhece segredos que nós não conhecemos. É sempre bom lembrar que o empresário dele é o mesmo do irmão Michael. Isso pode levar a todo tipo de especulação, inclusive uma eventual substituição do irmão na Ferrari, mas pelo que se conhece nos bastidores a única equipe declaradamente interessada em Ralf para 2005 é a Toyota, japonesa, mas com sede em Colônia, na Alemanha. A Toyota, hoje, tem Cristiano da Matta e Olivier Panis, mas o francês já anunciou que se aposenta no final de 2004.
Frank Williams é um sujeito do tipo durão, que não se preocupa em sacrificar resultados para manter sua vontade. Algumas vezes a equipe já pagou caro por sua teimosia. Todo mundo sabe que Frank nunca conseguiu “engolir” o salário atual de Ralf, que já é um dos maiores da F-1. Imagine, então, aceitar um aumento de 66%. Pelo histórico das decisões às vezes intempestivas, não será surpresa se ele trocar os dois pilotos. O problema é que hoje Frank tem a BMW como sócia, o que não mais lhe permite decisões autoritárias. Mesmo que a equipe venha a começar a temporada de 2005 com dois pilotos novos, os nomes têm de ser aprovados pela BMW. Marc Gené é um piloto que substituiu Ralf na corrida de Monza no último Mundial e se deu bem. Antonio Pizzonia é outro nome bem visto pelo trabalho que fez como piloto de teste (sempre andou no tempo de Montoya e Ralf). Mark Webber, uma das revelações de 2003, é um nome respeitado, mas o fato de ter sua carreira administrada por Flavio Briatore pode ser um complicador nas negociações. E tem ainda Jenson Button, que teve uma passagem pela Williams em 2000 sem grande brilho, mas também sem cometer erros mesmo sendo seu ano de estréia na F-1. A última vez em que Frank iniciou o campeonato com uma nova dupla foi em 99, quando Villeneuve e Frentzen saíram, dando lugar a Ralf e Alessandro Zanardi, então campeão da Cart.
Falou, levou
É provável que a intenção do diretor-técnico da Ferrari, Ross Brawn, tenha sido mesmo o de irritar o pessoal da Williams quando disse que não acreditava na força da rival em 2004 porque Montoya não vai ter um bom entrosamento com a equipe. Mas com Montoya a coisa não pega. A resposta vem sempre rápida e cheia de ironia: “O funcionário da Ferrari disse aquilo porque sabe que nós seremos uma grande ameaça a Schumacher e sua turma”.
Novos lançamentos
Depois do FW26 da Williams, que inaugurou a temporada de lançamentos dos novos modelos, a próxima será a Sauber, equipe de Felipe Massa, que apresenta seu novo C23 segunda-feira que vem em cerimônia organizada pela Red Bull. Depois será a vez da Toyota TF104, de Cristiano da Matta, no dia 17. A seguir: dia 18, Jaguar (R5); dia 29, Renault (RS24) e dia 1º de fevereiro, a BAR (BAR006). A McLaren, desta vez, abriu mão de festa. Em vez de lançamento, ela foi a primeira a entrar na pista, ainda no ano passado.
Multi-esporte
Inicialmente criada para patrocinar a equipe de Stock Car dos irmãos Xandy e Guto Negrão, a marca Medley Sports passou a investir em outras atividades esportivas além do automobilismo, onde tem a equipe de Stock com Guto, Xandy e Antonio Jorge Neto, a equipe de Fórmula-3 com Xandinho Negrão, e participa ainda do campeonato brasileiro de endurance. Com muitos planos pela frente, hoje a Medley Sports já tem representantes no judô (Daniel Hernandes, promessa de medalha olímpica em Atenas, e Samir Salomé, medalha de ouro no Panamericano de Master nos Estados Unidos) e no hipismo (Renato Ribeiro, de 15 anos, integrante da seleção brasileira no último Sul-Americano, Vicky Serra, de 17 anos, campeã paulista por equipes, e Luna Baccarin, carioca de 14 anos).
Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.
Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.
Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.
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