Nesta terceira “Coluna Indy” abordaremos um tema que ocupou notas na mídia impressa (jornais), assistida (TV e rádio) e virtual (Internet) nos últimos meses: O risco de falência da CART.
Para quem não sabe, a categoria está perdendo patrocinadores, equipes, fornecedores e espaço na mídia há 2 anos, isso levou á um processo de empobrecimento e decadência da categoria. Nos últimos meses de 2003 a entidade divulgou um balanço na qual demonstrava claramente que o campeonato da CART de 2003 deu prejuízo em seus cofres. Assim sendo, esse é o caminho natural para uma empresa falir.
Mas há alguns dias atrás os homens da Open Wheel Racing Series, grupo empresarial formado por chefes de algumas equipes da CART, anunciaram o acordo de compra da categoria. Isso na tese garante o futuro da CART. Mas o que vai acontecer daqui em diante com aquela categoria que um dia se rivalizou com a F-1?
Em primeiro lugar o Presidente Chris Pook deixa o comando. Algo totalmente natural para um excelente empresário mas que foi administrar a categoria na hora errada. Em segundo lugar, vai acabar aquele sistema de franquia na CART. Para quem não sabe, desde 1979 quando foi fundada, a CART sempre decidiu todas as suas ações de maneira democrática. Haviam 25 ações da CART para serem distribuídas com os chefes-de-equipes, donos dos 25 melhores carros da categoria na classificação do campeonato, e então esses chefes de equipe votavam (era comum um mesmo chefe de equipe ter direito á 2 votos na categoria, pois afinal, era proprietário de 2 carros no campeonato). Esse sistema agora acaba, pois a CART foi privatizada, e agora somente Gentilozzi, Russo e Forsythe decidirão as coisas por lá.
No campo político essas serão as duas maiores mudanças na CART, mas e no campo esportivo?
Deve continuar tudo muito parecido com 2003. As grandes equipes que já estavam na CART, lá prosseguem (Forsythe, Newman-Haas, Patrick, Fernandez), e outras médias e pequenas equipes também continuarão (Walker, Herdez, Fittipaldi-Dingmann, etc). Os mesmos pilotos de ponta de 2003, continuam em 2004. Veremos Paul Tracy, Bruno Junqueira, Adrian Fernandez, Michel Jourdain Jr, Oriol Servia, Sebastien Bourdais, Patrick Carpentier, e outros. A transmissão televisiva da CART para o Brasil deve continuar com a Rede TV!, uma emissora com programação de qualidade altamente duvidosa. Fernando Vanucci e Celso Itiberê prosseguem tentando fazer com que a Fórmula Mundial um dia volte aos seus dias de glória.
Agora vamos abordar o campo econômico da CART. Este sem dúvida é o que promete um maior número de sombras no futuro da categoria.
Os contratos com a Ford Motor Company e a Bridgestone/Firestone terminam no final de 2004. Claro que isso significa que a CART terá motores e pneus garantidos para esta temporada que vai se iniciar em Abril, mas e para 2005?
Será que a Ford e a Bridgestone vão continuar apoiando um campeonato que dá prejuízo?
A lógica leva á crer que não.
Agora raciocinem e vejam como o título dessa coluna é uma profecia negra: Se em 2003 a CART ChampCar Championship deu um prejuízo de alguns milhões de dólares, não gerou lucro, no 2º semestre da temporada, como que a OWRS (Open Wheel Racing Series) irá conseguir lucro com a CART? Que revolução em termos de marketing e divulgação do campeonato eles farão para reverter este quadro?
Provavelmente nenhum, pois hoje nos EUA e até mesmo no resto do mundo não há espaço para duas Fórmulas Indy. Nos EUA a IRL IndyCar Series tem a rede de TV aberta ABC (a “Rede Globo” americana), e a maior rede de esportes do mundo, ESPN, transmitindo seus eventos. E o que a CART tem? A CBS (o SBT ianque) e o Speedchannel, que é uma emissora de TV á cabo pouco assistida na América.
Os principais jornais americanos dão mais destaque á NASCAR, depois á IRL, e só depois de tudo isso, e se sobrar algum espaço, dão alguma nota sobre a CART, se houver algo realmente importante por lá. No Brasil a CART infelizmente já morreu. Em 2004 a IRL IndyCar deve ter cobertura da BAND, não sei se haverão transmissões ao vivo, mas espaço na programação da emissora dos Saad é certo que haverá, e como a BAND é a 4ª maior rede de TV do Brasil, e a Rede TV! não deve estar nem entre as 5 primeiras (talvez até a MTV esteja á frente da Rede TV!), ano que vem o grande público terá mais olhos para a IRL. Afinal, com Tony Kanaan e Helio Castroneves disputando vitórias e títulos, a IRL hoje torna-se um bom produto aqui no Brasil, e torço muito pelo sucesso da categoria fundada pelo competente Tony George.
E a CART? Mesmo com Emerson Fittipaldi ainda estando no “barco de lá”, ou seja, da quase-falida CART ChampCar, não há esperanças que a categoria cresça em popularidade aqui no país. Pelo contrário, poderá ser mais uma temporada de decadência, inclusive no Brasil.
O único país onde a CART está em alta é o México. Em tempos de NAFTA (o “Mercosul” dos países da América do Norte), empresários mexicanos simplesmente torram dinheiro na CART, e invadem a categoria com pilotos e patrocinadores. O México hoje é o segundo mercado da CART, pois com a saída da Player’s, no Canadá parece que as coisas também podem começar á ir mal por lá.
Mesmo sustentada por “Muchachos” mexicanos, a CART deve dar mais prejuízo ainda em 2004. O grupo da OWRS dificilmente terá condições de manter a CART viva por muito tempo, não terão espaço na mídia para reverter esse quadro e oferecer espaço para patrocinadores da CART. O ano de 2004 promete ser negro para a CART, eles estão em um beco sem saída. Basta Tony George conquistar mais uma grande equipe da CART, ou a Ford e a Bridgestone anunciarem que não fornecerão mais motores/pneus para o campeonato, ou mesmo uma crise econômica no México (e os patrocínios de várias empresas serão cortados subitamente), até mesmo um prejuízo recorde no 1º semestre de 2004 que tudo está pronto para o anúncio da extinção da Championship Auto Racing Teams.
A CART está muito frágil. Não há espaço para dois campeonatos de Fórmula Indy. A NASCAR está engolindo as duas nos EUA, e no resto do mundo a F-1, apesar de toda a hipocrisia mercadológica desta categoria, ainda ocupa um espaço gigantesco. Outras séries de monopostos estão sendo criadas e consolidadas (Super Nissan), enqüanto outras ameaçam ir para o mesmo buraco da CART (a saudosa F-3000 Intercontinental é um caso). Categorias de turismo crescem no mundo todo (NASCAR nos EUA, DTM e ETCC na Europa). Não há espaço para a CART, cedo ou tarde ela vai morrer.
Por isso esta coluna tem esse título, pois agora é contagem regressiva de 1 ano para o fim da CART. A OWRS apenas garantiu o ano de 2004 para a CART, pois Ford e Bridgestone não garatem nem 2005, a própria lógica da economia de fazer uma empresa funcionar somente enqüanto ela gera lucros (pois se não gerar lucros, gerará dívidas) não está mais se aplicando na CART. A CART atualmente só insiste em continuar existindo por conta de picuinhas com a IRL IndyCar, eles não querem dar o braço á torcer para Tony George e o Indianapolis Motor Speedway.
Está na hora de homens ricos e respeitáveis como Paul Newman, Carl Haas, Pat Patrick, Adrian Fernandez, Gerald Forsythe, Carl Russo, Paul Gentilozzi, Emerson Fittipaldi, James Dingmann, Derrick Walker e outros se lembrarem de um velho ditado: “Quando você não pode derrotar seu inimigo. Junte-se á ele.”
Roger Penske, Chip Ganassi, Michael Andretti, Barry Green, Moris Nunn, Bobby Rahal e outros se lembraram desse ditado. Em nome do esporte.
Um forte abraço á todos, e não deixem de visitar o espaço de campeonatos de GrandPrix2 do F1Mania.net:
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