Coluna Grand Prix: Sinal Vermelho

A Ferrari começar o ano bem na frente das rivais não é o que preocupa. Todos nós estamos mais do que acostumados a ver isso acontecer, pelo menos nos últimos cinco anos. O problema é que a incompetência das outras grandes foi tanta que a temporada pode ser uma repetição daquela de 2002. E nem a F-1, com toda sua força, pode suportar mais um campeonato como aquele em que a equipe italiana, com 15 vitórias em 17 corridas, conseguiu o feito histórico de somar o mesmo número de pontos (221) de todas as rivais juntas.

O mais fanático torcedor da Ferrari, assim como os próprios cabeças da equipe, não esperavam tanto. Basta dizer que o engenheiro-chefe Ross Brawn se confessou assustado. E como eles tinham pleno conhecimento do nível que o novo carro havia alcançado, pelo fato de haver treinado quase sempre separado da concorrência, a conclusão só pode ser uma – a de que o surpreendente não foi o F-2004 passear na pista, mas os outros, principalmente Williams e McLaren, andarem tão mal. Nem velozes, nem constantes, e nem mesmo resistentes. Um fracasso total, uma estréia desastrosa. O que salvou a corrida e criou alguma expectativa de mudança no torcedor foram a Renault e Fernando Alonso.

A decepção, claro, não foi um privilégio de Williams e McLaren. A Toyota, um dos maiores orçamentos da F-1, começou a temporada em situação muito pior do que quando dava seus primeiros passos na categoria, em 2002. Foi como se a boa temporada do ano passado (16 pontos marcados) não tivesse existido. Cristiano da Matta recebeu a bandeirada em 12º lugar e Olivier Panis, em 13º, depois de passar boa parte da corrida atrás da Minardi de Gianmaria Bruni.

Essas equipes entenderam que alguma coisa teria de ser feita rapidamente, e os trabalhos já começaram. Na Toyota, que este ano conta com o diretor-técnico Mike Gascoyne, trazido da Renault, todo o projeto já está sendo revisado, com promessa de novidades já para a corrida da Malásia, dia 21, e um carro quase totalmente novo até julho. A McLaren e a Mercedes chamaram todos os seus técnicos para uma reunião de emergência dois dias após o GP da Austrália. E a Williams já testa mudanças aerodinâmicas esta semana em Valência (Espanha). Apesar de tudo, a Williams ainda encontrou na estatística do campeonato passado razões para não entrar em desespero. É que em 2003 a equipe demorou seis corridas para se firmar e, ainda assim, na segunda parte da temporada Montoya chegou a ficar um ponto atrás de Schumacher. Nesse aspecto, os pontos marcados na Austrália podem ser importantes na hora decisiva. No mínimo, isso significa que eles estão acreditando numa evolução do carro durante o ano.

Chegou o momento em que todas as rivais da Ferrari trabalham com o mesmo objetivo: o de não permitir que este carro de 2004 seja capaz de superar a imagem deixada pelo imbatível modelo F2002, até hoje o melhor carro produzido pela Ferrari em 55 anos de campeonato mundial.

Pequenas em baixa – Entre os oito carros que marcaram pontos na Austrália, estavam duas Ferrari, dois Williams, dois Renault e um McLaren, além do BAR de Jenson Button (sexto lugar). Ou seja, sete carros de equipes grandes. Baseado nisso, as pequenas e médias estão achando que em 2004 marcar ponto vai ser uma tarefa muito difícil. A exceção será a BAR, que demonstra ter um carro que justifica os bons tempos conseguidos nos testes de inverno, além de ser parceira da Honda.

Cart na Coréia – A grande novidade da Cart, agora administrada pela OWRS e com o nome de ChampCar World Series (no Brasil, Fórmula Mundial), terá uma etapa disputada em Seul, na Coréia do Sul, em 17 de outubro. O campeonato, com 16 corridas, começa dia 18 de abril em Long Beach e, além da Coréia, terá três corridas no Canadá, duas no México e uma na Austrália. Todas as outras serão em pistas dos Estados Unidos.

Largada da Renault – O autódromo de Curitiba assiste neste fim de semana à primeira das 14 etapas da Fórmula Renault, no terceiro ano da categoria no Brasil. O grid de Curitiba, com 20 carros, será reforçado pela presença de Alan Hellmeister, piloto da F-3, que resolveu participar da prova de abertura da temporada brasileira.

Diego Nunes, o mais rápido dos treinos livres da categoria, e André Souza estréiam na nova equipe de Mauricio Ferreira, engenheiro campeão nos dois últimos anos, tendo como principais rivais Daniel Serra, os gêmeos Alexandre e Gustavo Foizer, Jader David, Lu Boesel e Bia Figueiredo. Dois garotos vindos do kart estréiam no automobilismo: Carlos Iaconelli, de 16 anos, e George Altman, filho de Dino Altman, médico-chefe do atendimento prestado em todos os autódromos brasileiros, inclusive Interlagos durante o GP de F-1.

Juntamente com a Fórmula-Renault é disputada a Copa Clio, uma das sensações do automobilismo brasileiro. O campeonato larga com 28 carros, destacando-se Luis Frediani, os irmãos Fábio e Luis Carreira, Alexandre Conill, René Bauer e o campeão do ano passado, Elias Jr.

Conquista da Stock – Helinho Castroneves, bicampeão das 500 Milhas de Indianápolis, será dono de equipe de Stock Car no Brasil, em sociedade com Amir Nasr, que também estréia na categoria. A equipe vai se chamar Nasr Castroneves Racing e terá como pilotos o experiente Adalberto Jardim e o jovem Vitor Meira, campeão da F-3 Sul-Americana em 2000. Além da Stock, a Nasr Castroneves Racing estará presente também na F-3 e no Campeonato Brasileiro de Endurance. O curioso é que no início da década de 80 o pai de Helinho foi dono de uma equipe na Stock.

Reginaldo Leme

Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.

Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.

Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.