Coluna Grand Prix: Mundanças, urgente!

Mesmo sem repetir a dobradinha da Austrália, a Ferrari já chega a 33 pontos, em 36 possíveis. Razão mais do que suficiente para as rivais sentirem que o momento é crítico e sem margem de tempo a perder. A reação tem que começar já, mesmo que seja para simples mudanças aerodinâmicas, indo até a construção de um carro totalmente novo, como vem sendo prometido pela Toyota. Eu, pessoalmente, não estou entre os que já consideram o campeonato decidido, e nem acredito que Schumacher, apesar de ser o melhor, vá manter esse ritmo o ano todo, andando muito e sem cometer erros. Mas é certo que todo piloto ganha motivação extra quando consegue começar uma temporada dessa forma, e mais ainda quando se trata de alguém que, normalmente, já tem motivação de sobra. Portanto, qualquer mudança, neste momento, será bem-vinda. Nada contra a Ferrari e as vitórias da equipe mais competente. Mas um duelo, de vez em quanto, faz bem para quem vê e até para quem faz parte do espetáculo. Schumacher, um piloto acima de qualquer suspeita, depois de seis títulos, certamente gostaria de ter alguém com quem brigar pelo sétimo.

Hoje a disparidade é tão grande que, como me lembra o amigo leitor Fábio Sinegaglia, dos 715 grandes prêmios disputados de 1950 até hoje, o alemão ganhou 72, o que significa mais de 10 por cento de todas as corridas válidas pelo Mundial. Ainda assim o torcedor vai sempre encontrar uma razão para continuar admirando a Fórmula 1 e, nesse caso, vale a sugestão do leitor Olavo Tomohisa Ito, que passou a acompanhar com mais atenção o grupo de pilotos e equipes que ele chama de série B, onde a briga é boa e os bons pilotos têm chance de mostrar que são melhores do que os carros que dirigem, assim como também os bons carros revelam aqueles que têm menos talento. É uma idéia.

Nesse grupo B, segundo um outro leitor, Marcelo Adães, de Salvador, quando se olha para a performance de uma Toyota ou de uma Sauber, por exemplo, tem-se a impressão que os engenheiros erraram e fizeram carros mais lentos que os do ano anterior. Mas ao se comparar os tempos de volta das corridas de 2003 e 2004, tanto na Austrália quanto na Malásia, vai se perceber que a maioria conseguiu superar o tempo da volta mais veloz do GP do ano anterior. Na Austrália, este ano, 13 carros bateram o tempo de Kimi Raikkonen, o mais veloz de 2003. Na Malásia, foram 11 os que andaram mais do que Schumacher, dono da volta mais rápida de 2003. Isso quer dizer que os carros dessas equipes médias também evoluíram. O problema é que a evolução das equipes de ponta quase sempre é maior. Isso explica ainda as falsas expectativas causadas pelos recordes estabelecidos na pré-temporada. Só este ano foram 24, incluindo seis da McLaren, que na hora em que o campeonato começou pra valer, acabou se revelando a grande decepção.

A McLaren, em duas corridas, somou pontos (4) apenas para ocupar a quinta posição no campeonato de construtores, atrás da Renault (14) e até da BAR (9). A Williams tem 17 pontos e a Ferrari, 33. Apenas Renault e Ferrari viram seus dois carros marcando pontos em ambas as corridas. Não satisfeita, a Renault já confirmou a estréia de um novo motor no GP de San Marino, a quarta etapa do campeonato, e primeira das 10 corridas européias. Entre pilotos, são apenas sete os que marcaram pontos nas duas corridas: Schumacher, Barrichello, Montoya, Alonso, Trulli, Button e Coulthard. Ralf marcou na Austrália e falhou na Malásia. Felipe Massa fez o contrário. A reclamação do torcedor procede – por enquanto, o campeonato está previsível demais.

Novo Stock

A principal mudança da Stock Car 2004, que é a substituição da carenagem do Vectra pela do Astra Sedan, mesmo com spoilers maiores na dianteira, não provocou grandes diferenças no comportamento aerodinâmico do carro, de acordo com a opinião dos pilotos. Mas com o novo sistema de freios e motores mais resistentes, os carros devem estar mais velozes. Tudo isso poderá ser comprovado neste fim de semana, quando começa o campeonato no circuito semi-oval de Curitiba. Entre os mais de 30 pilotos, existem algumas estréias importantes como as de Vitor Meira, Ayrton Daré, Hoover Orsi e Wagner Ebrahim, todos com experiência internacional em carros de fórmula e agora, pela primeira vez, correndo de turismo, atraídos pela competitividade da Stock. Na Light a novidade é o motor V-8. Os pneus são Pirelli para ambas, mas a categoria principal usa modelos importados, enquanto a Light corre com pneus fabricados no Brasil.

Dois no Japão

Atual campeão alemão de Fórmula 3, o paulista João Paulo de Oliveira estréia neste fim de semana no campeonato japonês como uma das maiores esperanças do automobilismo brasileiro. Aos 22 anos de idade e contratado pelas fábricas Lola-Dome, Honda e Bridgestone, ele liderou os dois dias de testes coletivos e estréia como o único que pode derrotar os pilotos que correm com o tradicional chassi italiano Dallara. Entre os adversários de João Paulo, está Kazuki Nakajima, filho do ex-piloto de Fórmula 1 Satoru Nakajima, e o brasileiro Fábio Carbone. O campeonato terá 20 etapas, todas em rodada dupla, e começa em Suzuka.

Estilo americano

Marcos Gomes, 19 anos, um dos destaques da Fórmula Renault brasileira, acaba de fechar contrato para disputar o campeonato norte-americano da categoria em 2004 pela equipe GTI Sports, que fez o convite ao ver as boas corridas que Marcos disputou no campeonato de inverno no final do ano passado na Europa. Nos Estados Unidos, o campeonato tem 12 etapas, começando no dia 10 de abril em Phoenix, e o prêmio para o campeão é metade do orçamento para uma temporada na Fórmula Renault V-6, ou seja, o equivalente a 500 mil dólares.

Reginaldo Leme

Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.

Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.

Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.