Coluna Grand Prix: A bola da vez

Três pódios consecutivos, nove voltas na liderança do GP da San Marino e atuações consistentes nas primeiras corridas de 2004 fizeram de Jenson Button uma das estrelas deste início de temporada. Na verdade, a única além do virtual heptacampeão Michael Schumacher. Daí o inglês passar a ter seu nome comentado entre as equipes que planejam trocar seus pilotos em 2005 é simples questão de lógica, uma reação imediata. E, assim como as outras gigantes da categoria, também a Ferrari não se mantém imune a esse tipo de bola da vez que, de tempos em tempos, surge na F-1.

Quando Schumacher, ainda no seu segundo ano de Ferrari em 97, começou a acumular vitórias (na época chegou a 27), já se pensava em alguém que pudesse ser um rival à altura do alemão. O primeiro eleito foi Jacques Villeneuve, aquele que conseguiu a façanha de enfrentar e derrotar Schumacher com as próprias armas usadas pelo então vilão. Além de derrotado, o alemão saiu do episódio de Jerez de la Frontera com a fama de Dick Vigarista que, até hoje, ainda não conseguiu apagar completamente. Em 98 o papel de rival passou para as mãos geladas de Mika Hakkinen, que jogou no lixo os planos de Schumacher levar a Ferrari a ganhar um título do qual ela estava distante havia 19 anos. Em 99 o inimigo foi a própria falta de sorte do alemão – a fratura da perna em um acidente no GP da Inglaterra em Silverstone.

Em 2000, quando Hakkinen começava a dar sinais de que aquele ambiente não era mais o seu, Schumacher perdeu quatro para o finlandês, mas ganhou nove. Com isso, veio finalmente o tão desejado título da Ferrari. No primeiro momento, a F-1 lucrou com a conquista da equipe que carrega paixão de torcedores em todo o mundo. Mas não demoraria muito para voltar a sentir falta de um rival para enfrentar o sujeito que já acumulava 44 vitórias, três a mais do que Senna e muito próximo das 51 de Alain Prost. Em 2001 a Williams imaginava ter, enfim, encontrado a salvação. Um colombiano debochado, que havia liquidado dezenas de rivais na Indy americana, seria o novo dono do papel de antivilão. Ou, melhor, antialemão. O mundo, exceto a Alemanha, comprou a idéia. E Montoya chegou falando o que queria de qualquer um, andou disputando espaço com Schumacher nas curvas graças ao ímpeto próprio dos desafiantes, mas ficou nisso. Até hoje soma três vitórias e nem sequer chegou a uma final valendo campeonato. Caiu antes, como no ano passado em Indianápolis. E, não por culpa dele, mas da Williams, este ano parece carta fora do baralho.

Com essas e outras, sem encontrar pedras pelo caminho, Schumacher desfila seus números, outrora inimagináveis, de 74 vitórias e seis títulos e meio (a outra metade vem logo). E a situação chega a ser tão crítica a ponto de Jenson Button se tornar o rival da vez. Button não é tudo isso, embora deva se reconhecer o valor dessa volta por cima que ele está dando em 2004, três anos depois de ter sido despedido por Frank Williams por ter deixado a fama subir à cabeça. Trazido da F-3 em 2000, Button rapidamente se tornou a esperança inglesa de voltar a ter um piloto de ponta na F-1 (o último tinha sido Damon Hill). Comprou barco, mansão, dividia espaço nos jornais ingleses com as Spice Girls e apareceu na sede da Williams dirigindo uma Ferrari. Foi a gota d’água para um sujeito rigoroso como Frank Williams.

Pior do que a demissão foi amargar uma verdadeira perseguição que sofreu na Benetton em 2001 e Renault em 2002, onde não contava com a simpatia do dono da bola, Flavio Briatore. Por conta disso tudo, ele tirou de letra as ofensas que sofreu de Villeneuve quando foi parar na BAR em 2003. O canadense chegou a dizer que iria pra casa se perdesse de Button. Sem esquentar a cabeça, o inglês fez a sua parte e marcou quase três vezes mais pontos no ano (17 a 6). Villeneuve foi mesmo pra casa. Era a primeira grande vitória de Button na Fórmula-1. A segunda veio agora, quando foi eleito por Schumacher como o seu grande maior rival na briga pelo campeonato. Além de tudo, é brincalhão esse alemão.

O veloz Tarumã – Depois de três anos fora do calendário, o autódromo de Tarumã volta a receber a Stock Car neste fim de semana. A pista mais veloz do Brasil ganhou novo asfalto em seus 3.016 metros, substituindo o piso original de 1970, que havia sofrido pequena reforma em 82. Também a parte de trás dos boxes foi ampliada e a curva 1, uma das mais perigosas, ganhou mais trinta metros de área de escape. A reforma foi feita pela Federação Gaúcha de Automobilismo. Tudo novo na pista e nos carros, que andam pela primeira vez em Tarumã com a carenagem que está estreando este ano. A reforma foi bancada pela Federação Gaúcha de Automobilismo, um exemplo a ser seguido por outras federações estaduais.

Inglês equilibrado – O campeonato inglês de Fórmula-3, historicamente o passo fundamental para o piloto que sonha em chegar à F-1, sempre foi de altos e baixos. Em alguns anos é muito competitivo. Em outros, o nível é fraco. A temporada de 2004 promete ser uma das mais disputadas de sua história iniciada em 1966. Nas três corridas realizadas até agora, o campeonato, que conta com os brasileiros Nelsinho Piquet, Danilo Dirani e Lucas di Grassi, teve três vencedores diferentes: os ingleses Adam Carroll e James Rossiter e pelo monegasco Clivio Piccione. A liderança é de Nelsinho Piquet, que soma dois segundos e um terceiro lugar, totalizando 44 pontos. Danilo Dirani está em 9º e Lucas di Grassi, em 14º. Neste fim de semana tem rodada dupla no circuito de Croft.

Reginaldo Leme

Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.

Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.

Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.